NÃO É 'MIMIMI'

‘Não tem UTI, amo vocês!’, diz mulher à filha antes de morrer por covid

A covid-19 continua escrevendo uma história negativa com personagens que são retirados de forma tão…

'Não tem UTI, amo vocês!
'Não tem UTI, amo vocês!", diz mulher à filha antes de morrer por covid (Foto: Arquivo Pessoal)

A covid-19 continua escrevendo uma história negativa com personagens que são retirados de forma tão doída de seus parentes. Valéria Zadorozny tinha 42 anos e, antes de morrer devido ao caos que o Rio Grande do Sul enfrenta na Saúde, conseguiu sensibilizar algumas pessoas com a última mensagem que mandou para filha: “Eu vou pra UTI, só não tem vaga em nenhum lugar. Amo vocês!”.

A mensagem foi postada por Giulia, de 23 anos, no Twitter, horas depois da mãe morrer, no última terça-feira (2). “Essa foi a última mensagem que tive da minha mãe (…) Usem máscara, não saiam se não for necessário, por favor”, escreveu a jovem. A publicação teve mais de 125 mil curtidas e mais de 13 mil compartilhamentos.

Valéria estava em um hospital público de Esteio, a 25 quilômetros de Porto Alegre, mas não conseguiu vaga para tratamento insensitivo devido à alta demanda causada pelo aumento dos casos do novo coronavírus em todo o país.

“Mãe, eu tô torcendo por ti. Eu te amo muito”, escreveu a jovem. “Tu tem que ser firme. Tem que me ver formar (sic)”, acrescentou a filha para a mãe, nas mensagens por WhatsApp. Foi o último contato entre elas.

'Não tem UTI, amo vocês!", diz mulher à filha antes de morrer por covid

Mensagem foi encaminhada pela filha no último contato (Foto: reprodução/Twitter)

Contaminação

Os familiares afirmaram que a mulher tomava todos os cuidados para não se infectar e, por isso, acreditam que ela foi contaminada quando atendeu algum cliente na sorveteria da qual era dona. “As pessoas pouco se importavam. A minha mãe cansou de brigar com clientes (para que usassem máscara)”, relata Giulia.

Segundo ela, a mãe apresentou os primeiros sintomas no último dia 14 de fevereiro, quando ela apresentou uma tosse muito intensa. A confirmação veio dias após a realização do teste que identificou a presença do vírus nela e no marido. O casal realizou o isolamento. Giulia contou que ela chegou ir algumas vezes no hospital, mas era liberada em seguida.

“Os hospitais estavam cheios, então os profissionais de saúde viam alguma melhora nela e a liberavam para que outra pessoa pudesse ser atendida também”, relata a jovem.

Valéria era diabética e tinha asma. Isso fez com que a situação dela se agravasse no último dia 20 de fevereiro. Ela teve os pulmões severamente comprometidos pelo coronavírus e precisou ser internada na área de emergência de uma unidade de saúde pública.

“Ela sempre mandava mensagens para a gente porque podia ficar com o celular enquanto estava internada. Porém, ninguém podia visitá-la, só o meu pai que podia ir para levar algo que ela precisasse”, relembra a jovem.

“Ela precisava disso (um leito de UTI). Ligamos para hospitais, até do litoral, inclusive particulares, e nada. Havia um leito em um hospital de Santa Maria, mas era a cinco horas de viagem e os médicos avisaram que ela não aguentaria o trajeto”, diz Giulia.

“Foi tudo muito terrível e muito rápido”, lamenta Giulia. A comerciante teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu. “Eu fico muito frustrada. Se não fossem as aglomerações e falta de posicionamento decente dos governos, minha mãe poderia estar aqui ainda”, diz a jovem, ao lembrar que,  além dela, ficam órfãs mais duas irmãs, de 22 e oito anos.

*Com informações da BBC Brasil