Netinho de Paula é citado em denúncia do MP-SP por supostos vínculos com agiota do PCC
O cantor mantinha relações financeiras com Ademir Pereira de Andrade, identificado como operador financeiro do PCC

Uma denúncia do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) revelou que o cantor e ex-vereador Netinho de Paula mantinha relações financeiras com Ademir Pereira de Andrade, identificado como operador financeiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). O documento, obtido pela TV Globo, denuncia 12 pessoas, incluindo Ademir e oito policiais civis, por envolvimento com a facção criminosa, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, corrupção e outros crimes.
A investigação, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), tem conexão com o caso de Vinicius Gritzbach, delator do PCC assassinado em 2023. Netinho, embora não seja investigado diretamente, foi citado na denúncia por supostamente realizar empréstimos com Ademir, apelidado de “Banco da gente” pelo cantor.
O MP teve acesso a mensagens trocadas entre Netinho e Ademir, obtidas após a quebra do sigilo do celular do agiota, apreendido pela polícia. Em uma das conversas, o cantor menciona o pagamento de juros de empréstimos de R$ 500 mil e R$ 2 milhões. “As questões dos juros eu vou pagando para você o que for dando aí, pode ficar tranquilo tá bom?”, escreveu Netinho em maio de 2023.
Outros trechos das mensagens mostram que o cantor e o agiota planejavam uma articulação política para beneficiar integrantes do PCC presos na Penitenciária Federal de Mossoró (RN), onde cumpriam pena líderes da facção, como Décio “Português” e Fuminho. Netinho sugeriu a Ademir que advogados denunciassem maus-tratos no presídio, o que permitiria a visita de deputados e representantes do Ministério dos Direitos Humanos ao local.
Netinho nega envolvimento com o crime organizado
Em nota enviada ao portal Metrópoles, a defesa de Netinho afirmou que o cantor desconhecia o envolvimento de Ademir com o PCC. “O senhor Ademir é, sim, um fã do artista Netinho de Paula e, de fato, já o contratou para apresentação em evento corporativo na região de Igaratá”, diz a nota. “Desconhecíamos, totalmente, qualquer envolvimento ilícito de qualquer contratante.”
Os advogados do cantor também declararam que aguardam acesso ao inquérito da Polícia Federal para se manifestar de forma mais detalhada sobre o caso.
Esquema criminoso envolvia policiais e empresários
A denúncia do MP-SP aponta um esquema criminoso que envolvia policiais civis e empresários, que supostamente usavam a estrutura do Estado para favorecer o PCC. Segundo o documento, delegados e investigadores se aliaram a criminosos para garantir impunidade e desviar investigações, enquanto os “empresários do crime” enriqueciam com atividades ilegais.
Além de corrupção e lavagem de dinheiro, os envolvidos são acusados de tráfico de drogas, homicídios e sequestros. Um dos casos citados é o assassinato de Vinicius Gritzbach, morto a tiros no Aeroporto de Guarulhos em 2023. Gritzbach havia delatado alguns dos acusados na operação.
O Ministério Público pediu que os 12 denunciados paguem ao menos R$ 40 milhões em indenizações pelos danos causados pelos crimes cometidos, incluindo ressarcimento por dano moral coletivo e dano social. A Justiça de São Paulo deve decidir se aceita ou não a denúncia para o prosseguimento das investigações.
Lista dos denunciados
- Ademir Pereira de Andrade
- Ahmed Hassan Saleh
- Eduardo Lopes Monteiro (investigador da Polícia Civil)
- Fabio Baena Martin (delegado da Polícia Civil)
- Marcelo Marques de Souza (investigador da Polícia Civil)
- Marcelo Roberto Ruggieri (investigador da Polícia Civil)
- Robinson Granger de Moura
- Rogerio de Almeida Felicio (policial civil)
- Alberto Pereira Matheus Junior (delegado da Polícia Civil)
- Danielle Bezerra dos Santos
- Valdenir Paulo de Almeida (policial civil)
- Valmir Pinheiro (policial civil)
O caso segue em investigação.