Energia

ONS suspende programa de economia de energia por indústrias

O programa teve em seu primeiro mês uma oferta de 442 MW (megawatts) médios

Governo reduz imposto de importação para equipamentos de geração elétrica
Governo reduz imposto de importação para equipamentos de geração elétrica - (Foto: Agência Brasil)

O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) decidiu suspender o programa que dava compensação financeira para indústrias economizarem energia, implantado em setembro para ajudar a poupar água nos reservatórios das hidrelétricas.

O operador alega que as condições de abastecimento melhoraram com a chegada das chuvas, mas o setor alega que o Brasil continua despachando térmicas mais caras do que os valores pagos a empresas que se dispuseram a economizar.

Segundo o ONS, “a melhora das condições hidroenergéticas, a efetividade dessas ações emergenciais e a garantia de suprimento de energia em 2021 são os principais motivadores da decisão”.

“A chegada do período úmido dentro do prazo esperado, além da participação dos diversos agentes e da sociedade na adoção das medidas propostas foram fatores fundamentais para garantir que, em 2021, a ponta (período de pico de energia) seja atendida sem a necessidade de utilização de reserva operativa.”

O programa teve em seu primeiro mês uma oferta de 442 MW (megawatts) médios. Em outubro, oferecidos 720 MW médios, mas o ONS parou de acionar as empresas no dia 11 daquele mês, segundo a Abrace (Associação Brasileira dos Consumidores de Energia).

“Para o mês de novembro, o Operador conta com ofertas de até 454 MW ofertados, aprovados em 29 de outubro pelo CMSE [Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico], sendo a efetivação dessas ofertas na operação dependente de avaliação feita diariamente ao longo do mês, conforme a necessidade de ponta do Sistema Interligado Nacional (SIN)”, informou o ONS.

O programa tinha o objetivo de reduzir o consumo nos horários de pico, para evitar o risco de apagões. As indústrias que se comprometeram a participar receberam por MWh (megawatt-hora) economizado, mas ainda não foram divulgados os valores pagos nem um balanço do programa.

Sua suspensão é questionada por especialistas do setor, que defendem um papel mais ativo dos consumidores na gestão da oferta de energia no país.

“Esse programa é adotado em várias partes do mundo mesmo fora de períodos críticos. Aqui levamos décadas para implementá-lo e quando se consegue minimamente e aos trancos e barrancos, toma-se a decisão de interrompê-lo”, diz o ex-diretor do ONS, Luiz Eduardo Barata.

O ONS, por sua vez, afirmou que a decisão de suspender o programa ocorreu devido à melhoria das condições eletroenergéticas e “ao sucesso da adesão das empresas à medida emergencial, que tinha como principal objetivo atender à demanda de ponta do sistema ao longo da transição entre os períodos seco e úmido das principais bacias do SIN”.

“Com o avanço positivo das perspectivas hidrometeorológicas, não há necessidade, neste momento, de energia adicional para atendimento a ponta”, afirmou, ressaltando que segue monitorando o sistema.

Representantes da indústria defendem que a economia custava menos ao consumidor do que térmicas chamadas para operar de forma emergencial durante a crise hídrica, que continuam gerando energia. Para novembro, por exemplo, o preço-teto da compensação era de R$ 1.250 por MWh.

Neste domingo (7), a térmica mais cara do país, Araucária, no Paraná, entregou ao sistema elétrico 466 MW médios, volume menor do que a oferta de economia de energia, por R$ 2.533,20 por MWh. A segunda mais cara, William Arjona, no Mato Grosso do Sul, entregou 140 MW médios, a R$ 2.276,74 por MWh.

“Temos certeza que boa parte das ofertas [de economia de energia] eram e continuam sendo mais baratas que as térmicas mais caras que operador está despachando”, diz o gerente de Energia Elétrica da Abrace, Victor Iocca.

A associação diz que a opção por energia mais cara levará o ESS, encargo que paga a geração térmica no país, a superar os R$ 20 bilhões em 2021, atingindo o maior valor da história. Esse encargo é pago por todos os consumidores de energia do país.

Ao mesmo tempo em que a conta das térmicas explode, o preço da energia no mercado livre despenca com a previsão de boas chuvas na chegada do verão.

Na semana passada, o PLD, preço que baliza as liquidações de contratos nesse mercado, chegou a R$ 101,07 por MWh nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, queda de 37% em relação à semana anterior -entre o fim de junho e o fim de setembro, o PLD ficou em seu máximo de R$ 583,88.

O mercado diz que a queda abrupta com os reservatórios ainda em níveis críticos é um sinal de distorção no modelo de preços do setor elétrico, que sofre maior impacto da previsão de chuvas do que do atual nível de energia armazenada.

O problema prejudica o consumidor residencial neste momento, já que as distribuidoras de eletricidade têm energia sobrando e poderiam estar ganhando dinheiro com a venda no mercado livre, lucro que depois ajudaria a reduzir pressões sobre as tarifas.