RIO DE JANEIRO

Palco com Bolsonaro cede e dá susto em ato em Caxias; veja vídeo

Em Duque de Caxias, presidente fez ato com aliados como Cláudio Castro e Romário e fez ataques ao ex-presidente Lula

Palco com Bolsonaro cede e dá susto em ato em Caxias; veja vídeo (Foto: Reprodução)
Palco com Bolsonaro cede e dá susto em ato em Caxias; veja vídeo (Foto: Reprodução)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta sexta-feira, durante comício em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, que, caso reeleito, trabalhará para que a redução da maioridade penal seja aprovada em seu primeiro ano do novo governo. Ele também prometeu se engajar da mesma forma para que seja aprovado o excludente de ilicitude para policiais em todo o território nacional. Para isso, o presidente se valeu de uma fake news compartilhada em redes sociais, que atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) uma falsa fala, na qual teria dito que “ladrões roubam para tomar uma cervejinha”. Ao se referir ao governo do adversário, Bolsonaro chegou a afirmar que “usaram o povo nordestino para assaltar o Brasil”.

— No meu governo não há corrupção. Alguns não gostam que sou grosso. Não vou negar que sou mesmo. Dizem que falo palavrão, mas não dizem que sou ladrão. O outro lado não respeita a família de cada um de nós. Enquanto isso, o outro (Lula) diz que o ladrão rouba para comprar uma cervejinha. No ano que vem, vamos aprovar a redução da maioridade penal e o excludente de ilicitude para você, policial — disse o presidente.

Bolsonaro subiu ao palco montado em Duque de Caxias acompanhado do senador reeleito Romário (PL) com o qual chegou a se desentender pelo apoio não declarado no primeiro turno. Clarissa Garotinho (União) e Daniel Silveira (PTB) também estavam presentes no palco. Nenhum deles discursou e, no palco, não se cumprimentaram ou tiveram qualquer interação.

O candidato à reeleição visita a Baixada três dias após seu adversário na corrida ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cumprir agenda em Belford Roxo. No local, a Praça do Pacificador, fica na única zona eleitoral dos 13 municípios da região (a 103ª ZE) em que o petista se aproximou da votação do adversário — diferença inferior a três pontos percentuais.

O governador Cláudio Castro (PL), o senador eleito pelo Espírito Santo, Magno Malta e seu filho mais velho, Flávio Bolsonaro (PL), também compareceram. O ex-prefeito da cidade, Washington Reis (MDB), foi o cicerone.

Susto no palanque

Antes mesmo do início do ato, um susto: minutos após o candidato à reeleição subir ao palanque, uma sacola foi jogada ao palco pelo público e a estrutura do palanque sofre uma aparente instabilidade. Junto a Castro, Romário e Reis (MDB), Bolsonaro chega a se escorar em pessoas que o acompanhavam. Em seguida, um militar isola o espaço, e Reis dá pulos no palco para se certificar de que não havia problema algum. E então, o senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do presidente, se abaixa e pega para verificar se a sacola estava vazia.

Centenas de pessoas se aglomeravam desde 9h na praça. No palco montado no local, um painel estampava a imagem da coligação formada em torno na reeleição de Bolsonaro, com Reis, Castro ao lado do presidente. Nas caixas de som, o jingle “Capitão do Povo” é tocado em repetição. A música só foi pausada por um breve momento, quando as caixas de som tocaram uma versão instrumental de Sampa, de Caetano Veloso, opositor de Bolsonaro e frequentemente atacado por seus eleitores. Os arredores da Praça do Pacificador encontravam bloqueios para o trânsito e um gradil isolava a área do pronunciamento de Bolsonaro.

Castro pediu para que seus eleitores convertam votos para Bolsonaro.

— Não se deixe enganar, quem colocou R$ 600 na mão do pobre foi Bolsonaro. Não adianta vir aqui hoje se não completarmos a nossa jornada, isso é bíblico — disse Castro sobre o auxílio que foi aprovado pelo Congresso Nacional.

Palco do comício, a cidade de Duque de Caxias tem escolas recém-abertas com os nomes do pai e da mãe do candidato à reeleição. É reduto do ex-prefeito Washington Reis e seus irmãos, aliados de primeira hora do presidente no Rio. E, nos últimos anos, recebeu visitas de Flávio Bolsonaro para inaugurar um viaduto e conhecer uma fazenda para tratamento de dependentes químicos. Mas, no primeiro turno, o município registrou a segunda menor vantagem de Bolsonaro sobre Lula na Baixada Fluminense (13,08%).

Duque de Caxias x Belford Roxo

É nessa conjuntura que a campanha bolsonarista enxerga em Duque de Caxias, segundo maior colégio eleitoral fluminense, como um dos terrenos férteis para tentar manter e ampliar a supremacia do atual presidente na Baixada na volta às urnas de 30 de outubro. É uma expectativa já manifestada pelo governador Castro, uma das presenças esperadas no ato desta sexta-feira. O contra-ataque, porém, vem da vizinha Belford Roxo, onde o prefeito Waguinho (União), com crescente influência na região, recebeu Lula em um ginásio lotado na última terça-feira e chegou a chamar o atual mandatário de “presidente ditador”.

Em Duque de Caxias, por sua vez, o cicerone de Bolsonaro é Washington Reis, que no último sábado, ao receber a confirmação da data e hora do evento, ironizava Waguinho, dizendo que o prefeito não tinha “liberdade política” e que o apoio dele a Lula obedeceria a lideranças nacionais do União Brasil. Era a declaração de um dos políticos que desde 2018 tem se mostrado um entusiasta do bolsonarismo. Semanas depois do pleito daquele ano, em dezembro, antes da cerimônia de posse no Planalto, ele batizou de Percy Geraldo Bolsonaro, pai do atual presidente, um colégio da Polícia Militar aberto em parceria com o estado às margens da Rodovia Washington Luiz, uma das principais do Rio. Na ocasião, o próprio Bolsonaro compareceu ao evento.

Denúncias de intimidação a opositores

Meses depois, em agosto de 2020, foi a vez de Flávio Bolsonaro ir à cidade para a entrega do Viaduto do Gramacho, num tour de inaugurações que o senador fez às vésperas das eleições municipais daquele ano, em que Reis foi reeleito. Em dezembro de 2021, o “zero um’ retornou, então para ser apresentado à Fazenda Paraíso, dias antes de o lugar começar a receber dependentes químicos para tratamento.

Mais recentemente, em junho deste ano, instaurou-se uma polêmica no município por conta dessa relação do comando da prefeitura com o do Planalto. O sucessor de Reis, Wilson Miguel (MDB), inaugurou mais uma homenagem à família do presidente: uma escola municipal que foi chamada de Olinda Bonturi Bolsonaro, mãe do candidato à reeleição — escolha que ocorreu sob protestos, uma vez que se esperava que a unidade reverenciasse Zilda Arns, em referência à sanitarista e pediatra que foi uma das fundadoras da Pastoral da Criança.

Processos na Justiça

Em outra mão, valendo-se desse alinhamento, Reis se tornou vice na chapa de Castro ao governo do Rio por agradar Flávio Bolsonaro. E só perdeu a posição após ter tido o pedido de candidatura indeferido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio (TRE-RJ), no último dia 6 de setembro. Na decisão, o relator do processo considerou que o ex-prefeito está inelegível depois de ter sido condenado pelo Superior Tribunal Federal (STF) por crimes ambiental e contra a administração pública. Sem tempo hábil para recorrer, Reis renunciou à candidatura.

Antes mesmo da manifestação do TRE-RJ, já havia pressão para substitui-lo, sobretudo, diante de uma operação da Polícia Federal, com apoio da Controladoria Geral da União, em 1º de setembro, que tinha Reis como um dos alvos. O objetivo era investigar um suposto favorecimento na contratação pelo município de Duque de Caxias de uma cooperativa para prestação de serviços na área da Saúde que, somados o contrato e seus aditivos, totalizariam R$ 563,5 milhões. Na época, Reis negou as acusações e divulgou um vídeo dizendo que, a um mês das eleições, sofria com as “pancadas da política”.

Relutando na troca do vice, Castro reiterou que acreditava “100% da inocência” de Reis. Mas não teve como remediar. Agora, enquanto capitaneia a campanha de Bolsonaro na Baixada, o ex-prefeito foi novamente denunciado, na última terça-feira, pelo Ministério Público do Rio (MPRJ). Segundo os promotores, liderados por Reis, funcionários do município emitiram laudos falsos e autorizaram a construção de um cemitério numa área de proteção ambiental, avançando sobre manguezais às margens da Baía de Guanabara — acusações que têm sido rechaçadas por Reis desde o início das investigações.

Na mesma terça-feira, à noite, Reis realizou mais uma demonstração de força na Baixada, e encheu o Parque Ana Dantas, em Xerém, distrito do município, numa reunião com lideranças locais, nos preparativos para o ato desta sexta-feira com Bolsonaro.

— Caxias vai virar o farol do Brasil — disse ele no encontro.