PROCURADORIA

PGR se posiciona contra presença de policiais dentro da casa de Bolsonaro

Entendimento foi encaminhado ao STF, que julga Bolsonaro pela trama golpista

PGR se posiciona contra presença de policiais dentro da casa de Bolsonaro
PGR se posiciona contra presença de policiais dentro da casa de Bolsonaro (Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil)

BRASÍLIA (FOLHAPRESS) – A PGR (Procuradoria-Geral da República) se manifestou nesta sexta-feira (29) contra a necessidade de manter policiais dentro da casa de Jair Bolsonaro (PL), como havia pedido a Polícia Federal.

O entendimento da PGR foi encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal), que julga Bolsonaro pela trama golpista. O ministro do STF Alexandre de Moraes, relator da ação, deve proferir decisão sobre o tema.

“Observo que não se aponta situação crítica de segurança no interior da casa”, afirma o documento assinado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet.

O procurador-geral escreve, no entanto, que a preocupação da PF de que Bolsonaro fuja tem base de sustentação.

“As investigações levaram à descoberta de uma minuta de pedido de asilo dirigida ao Presidente da Argentina”, afirma. “É sabido, igualmente, que o ex-presidente já demonstrou proximidade com dirigentes de países estrangeiros, tendo acesso facilitado a embaixadas, como se viu, com relação à da Hungria, em outra oportunidade”.

A Polícia Federal descobriu que Bolsonaro tinha em seu celular uma minuta de pedido de asilo político para o presidente da Argentina, Javier Milei. O documento foi criado em 10 de fevereiro de 2024, dois dias após Bolsonaro ser alvo de buscas na maior operação sobre a trama golpista. Dois dias após a produção da minuta, o ex-presidente foi à Embaixada da Hungria.

Ainda é citado por Gonet que Bolsonaro “possui familiar e apoiadores que vivem no exterior, onde difundiram que o ex-presidente se submete a processo penal a que recusam legitimidade”, ressaltando que eles têm recorrido a “pressões inqualificáveis para que o processo seja sumariamente extinto”.

O filho do ex-presidente e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) está nos Estados Unidos, e tem atuado junto a autoridades do governo Donald Trump por medidas em defesa do pai. O ex-comentarista Paulo Figueiredo, também nos Estados Unidos, participa dessa mobilização.

Trump já anunciou ampliação de tarifas ao Brasil, quando citou uma suposta perseguição a Bolsonaro, e sancionou Moraes.

Eduardo foi indiciado pela Polícia Federal por tentativa de coagir os processos no STF, que tem processo sobre a postura dele.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, havia sugerido na terça-feira (26) a Moraes a entrada de uma equipe de policiais dentro da casa do ex-presidente para vigilância 24 horas.

O chefe da PF argumentou em ofício enviado ao STF que essa seria a melhor forma de garantir que Bolsonaro não tentaria fugir às vésperas de seu julgamento pela trama golpista, marcado para começar na próxima terça, dia 2 de setembro.

Moraes havia determinado também na terça que a Polícia Penal do Distrito Federal passasse a monitorar 24 horas por dia o endereço de Bolsonaro —monitoramento que já está ativo. A medida seria necessária, segundo o ministro, para afastar os riscos de que o ex-presidente tente fugir.

Segundo Andrei, a presença de policiais nas proximidades da casa de Bolsonaro seria insuficiente, por dois motivos.

O primeiro, que a tornozeleira eletrônica usada por Bolsonaro funciona online e depende de sinal da operadora de telefonia para emitir sinais de movimentação do réu.

O segundo, que seria preciso monitorar todo o fluxo de veículos na residência de Bolsonaro e de vizinhos próximos para garantir que a fiscalização contra fugas seria efetiva.

Segundo Andrei, há precedente que permite a permanência de policiais 24 horas na casa de réus em prisão domiciliar. O diretor levantou apenas um caso, o do juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto. Em 2004, por ordem do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ele ficou em prisão domiciliar sob a custódia da PF.

O pedido de Andrei ocorreu após a decisão de Moraes sobre o monitoramento. Minutos após a manifestação da PF, o pleito foi enviado para análise da PGR, que agora se manifesta.

Gonet afirmou, no despacho desta sexta, que é justificada a maior proteção nas adjacências da casa onde o ex-presidente cumpre prisão domiciliar, “como a rua em que a casa está situada e até mesmo da saída do condomínio”.

Para ele, o acompanhamento visual dos agentes seria suficiente para evitar fuga do ex-presidente. “Esses agentes, porém, devem ter o seu acesso a essas áreas livre de obstrução, em caso de pressentida necessidade”. O monitoramento “visual não presencial, em tempo real e sem gravação”, da área do externa da casa, escreve Gonet, “também se apresenta como alternativa de cautela”.

Bolsonaro está em prisão domiciliar desde 4 de agosto após o ministro considerar que ele descumpriu medida cautelar que o proibia de usar redes sociais, próprias ou de terceiros, ao aparecer em videochamada em atos bolsonaristas.

No período isolado, o ex-presidente tem recebido visita de um aliado por dia. Ele ainda encontra com mais frequência seus advogados e familiares, que não têm restrições de acesso à residência, em Brasília.

Um grupo de oração ligado a Michelle Bolsonaro também se encontra às quartas no local.

A defesa de Bolsonaro pediu ao Supremo a revisão da prisão domiciliar. A ideia é levar a decisão de Moraes para referendo na Primeira Turma do STF. O ministro, porém, ainda não encaminhou o caso para avaliação dos demais colegas.