PM que matou estudante de medicina pede medida protetiva contra pai da vítima
Ação ocorre, segundo a defesa dos policiais, após ofensas em audiência
(Folhapress) Os policiais militares Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado —réus pela morte do estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, 22, em novembro do ano passado— entraram com um pedido de medida protetiva contra o pai da vítima, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, 60.
A solicitação foi encaminhada na sexta-feira (25) pela defesa dos policiais militares, que estão em liberdade. A Justiça ainda não se manifestou sobre o pedido.
Macedo foi o autor do tiro que atingiu o estudante na barriga dentro de um hotel na Vila Mariana, na zona sul da capital paulista. Os dois PMs perseguiram o jovem após ele ter dado um tapa no retrovisor da viatura em que ambos estavam. As cenas foram registradas pelas câmeras corporais que os agentes usavam.
A reportagem teve acesso ao pedido, feito pelo advogado João Carlos Campanini. No texto, ele afirma que a medida protetiva se faz necessária depois de Navarro ter ofendido e tentando agredir Macedo durante uma audiência de instrução do caso, que aconteceu no último dia 10.
De acordo com o documento, o médico precisou ser contido pelos policiais que realizavam a escolta.
“Diante do que foi narrado, temendo por sua integridade física, a defesa requer que Vossa Excelência aplique medidas cautelares em desfavor da testemunha, a fim de que esta não se aproxime do réu, pelas razões supracitadas”.
Navarro disse à reportagem ter ficado surpreso ao ser comunicado do pedido. “Eu nem sei o que é liminar, sou médico, não sou advogado. Aquele dia era um dia muito esperado por mim. Era um dia que ficaria frente a frente aos assassinos de meu filho. Eu tinha muito motivo para ver esses caras. Eu queria encarar esses dois covardes”.
“Quando eu falo encarar, é um sentimento de pai. Oito meses sem respostas. Eles deveriam estar presos e sofrer um processo rápido de expulsão. Mas esses caras são protegidos. Eu, como pai, como homem, queria estar frente a frente com eles”.
Nayara Uzoukwu, uma das advogadas da família, disse não ver motivo para que a medida protetiva seja concedida. “Essa manifestação ocorre mais de duas semanas após a audiência, o que deixa evidente a real ausência de urgência e clara tentativa de intimidação ao pai da vítima”, afirma
“Além disso, é importante lembrar que os réus não podem manter contato com testemunhas. O pedido da defesa ultrapassa os limites do absurdo, considerando que estamos diante de um crime de homicídio qualificado, cometido com uso desproporcional e excessivo da força, que resultou na morte de um jovem e no sofrimento de uma família.”
Os advogados da família também expressam preocupação com o fato de que os réus respondem ao processo em liberdade, sem a adoção de medidas cautelares mais rigorosas como a prisão preventiva (sem prazo).
“Mesmo denunciados por homicídio, os policiais seguem atuando internamente na corporação”, completa a advogada.
A Polícia Civil e o Ministério Público pediam a prisão dos agentes por homicídio doloso (quando há intenção de matar). A juíza Luciana Menezes Scorza, aceitou a denúncia, mas negou a prisão. Desembargadores do Tribunal de Justiça mantiveram a dupla em liberdade. Segundo o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), eles atualmente cumprem serviço administrativo em um batalhão.
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