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Por que os casos de câncer de tireoide estão aumentando em todo o mundo?

Desafio para os cientistas é determinar até que ponto a melhoria dos diagnósticos é responsável pelo aumento

Por que os casos de câncer de tireoide estão aumentando Desafio até que ponto a melhoria dos diagnósticos é responsável pelo aumento
Imagem: FreePik

O número de casos de câncer de tireoide vem crescendo de forma acelerada nas últimas décadas. A doença, que afeta a glândula responsável por regular funções como batimentos cardíacos, temperatura e metabolismo, tornou-se um dos tipos de câncer com maior aumento global — e isso tem preocupado especialistas. Mas afinal, por que o câncer de tireoide está aumentando? A ciência aponta uma combinação de fatores que vão desde melhorias nos exames até questões ambientais, hábitos de vida e mudanças hormonais.

Melhorias no diagnóstico explicam parte do aumento

A partir dos anos 1980, exames como ultrassonografia da tireoide e a biópsia por agulha fina se tornaram mais comuns. Isso permitiu identificar nódulos muito pequenos que antes passavam despercebidos.

Esse fenômeno é chamado de diagnóstico excessivo — quando tumores pequenos e de crescimento lento são detectados, mesmo que provavelmente nunca causassem sintomas.

Exemplos importantes:

  • Nos EUA, os casos triplicaram entre 1980 e 2016.
  • Na Coreia do Sul, os índices dispararam quando o país criou um programa nacional de rastreamento e caíram após o programa ser reduzido.
  • Mesmo com o aumento de diagnósticos, a mortalidade permaneceu estável por muito tempo.

Mas o diagnóstico não explica tudo

Apesar da detecção precoce ser uma parte da história, pesquisadores perceberam que:

  • Tumores maiores e agressivos também aumentaram.
  • Países de renda média tiveram crescimento semelhante, mesmo sem acesso amplo a exames avançados.
  • A mortalidade, embora baixa, começou a subir em alguns locais.

Isso indica que há outros fatores reais impulsionando a doença.

Obesidade: um dos principais suspeitos

A obesidade é hoje uma das hipóteses mais fortes para explicar o aumento do câncer de tireoide.

Pessoas com IMC elevado apresentam:

  • até 50% mais risco de desenvolver o câncer;
  • maior probabilidade de tumores agressivos;
  • risco aumentado de morte por câncer de tireoide.

O motivo ainda não é totalmente conhecido, mas estudos apontam:

  • inflamação crônica;
  • resistência à insulina;
  • alterações hormonais que afetam diretamente a tireoide.

Aumento da exposição a radiação médica

Outro fator relevante é o crescimento do uso de exames que envolvem radiação, como tomografias e raios X.

A tireoide, especialmente em crianças, é muito sensível à radiação. Um estudo recente estima que:

3,5 mil casos de câncer de tireoide por ano nos EUA podem estar ligados ao uso de tomografias.

Esse impacto acumulado ao longo das décadas pode estar contribuindo para o aumento global dos casos.

Possível influência de substâncias químicas

Outra linha de investigação envolve os desreguladores endócrinos, químicos presentes em:

  • panelas antiaderentes,
  • embalagens de alimentos,
  • tapetes,
  • produtos de higiene,
  • pesticidas.

Eles podem interferir no sistema hormonal e afetar a tireoide, mas ainda faltam estudos conclusivos.

Fatores ambientais também são estudados

Cientistas analisam a relação entre o câncer de tireoide e:

  • exposição a elementos químicos como zinco, cádmio e vanádio;
  • áreas com grande atividade vulcânica;
  • variações nos níveis de iodo, essencial para o funcionamento da tireoide.

Essas hipóteses ainda não têm confirmação definitiva, mas fazem parte do quebra-cabeça.

Então, por que os casos estão aumentando?

Segundo especialistas, não existe uma única resposta. O mais provável é que o crescimento dos casos seja resultado de múltiplos fatores, como:

  • mais exames e mais diagnósticos;
  • aumento da obesidade;
  • maior exposição à radiação médica;
  • influências ambientais e hormonais;
  • possíveis substâncias químicas que afetam o sistema endócrino;
  • predisposição genética.

Ou seja: o fenômeno é multifatorial e segue em estudo.

*Com informações da Folha de São Paulo