Crime organizado

Preso em Goiás, piloto que fazia vôos para o PCC diz que tem medo de morrer

Peça chave na investigação que apura a execução de dois líderes do Primeiro Comando da…

Peça chave na investigação que apura a execução de dois líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que domina os presídios paulistas, o piloto comercial Felipe Ramos Morais, de 31 anos, foi preso por agentes da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic) com documentos falsos em um condomínio de alto luxo em Caldas Novas, na região Sul de Goiás. Na delegacia, ele contou que tem medo de morrer e disse que não sabia que os chefes da facção levados por ele de helicóptero para uma aldeia indígena seriam executados.

Felipe Morais, segundo a polícia do Ceará, foi o piloto que levou, no último dia 15 de fevereiro, Rogério Jeremias de Simone, mais conhecido como “Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o “Paca”, até uma reserva indígena em uma praia perto de Fortaleza. Listados entre os cinco principais líderes do PCC, Rogério e Fabiano foram torturados e executados a tiros, e tiveram os corpos encontrados somente no dia seguinte por indígenas que moram na região.

O crime, de acordo com as investigações, teria sido executado por Vagner Ferreira da Silva, de 32 anos, o “Vaguinho”, que estaria com os eles e mais dois comparsas no helicóptero. Uma semana após o duplo assassinato, Vaguinho também foi morto com tiros de fuzil na porta de um hotel de luxo, em São Paulo. Desde então, Felipe Morais estava foragido.

Apresentado à imprensa no final da tarde desta segunda-feira (14), o piloto disse que começou a pilotar para Vaguinho em 2016, mas que, no final do ano passado, quando descobriu que ele era traficante, tentou deixar o serviço, mas foi ameaçado e torturado. “Eu tenho uma empresa que faz vôos comerciais, sou dono de quatro helicópteros, quando o Vaguinho me contratou disse que era só para levar a família e amigos para viagens de passeio, mas no final do ano passado eu descobri quem ele era e pedi as contas, mas ele falou que eu só poderia deixá-lo quando apresentasse outro piloto de confiança para a quadrilha”, relatou Felipe.

O piloto contou que ele tentou cobrar os atrasos de pagamento em janeiro desse ano, mas ele acabou sendo torturado.”Ele então me pegou no Guarujá, e junto com outros comparsas me torturou durante toda uma madrugada. Eu apanhei com canos de borracha até desmaiar, e quando acordei fui ameaçado de morte caso deixasse de voar com eles, ou contasse isso para alguém”, relatou, mostrando algumas cicatrizes nos braços.

No dia 15 de fevereiro, ainda segundo Felipe, Vaguinho teria solicitado para que fosse levado junto com mais cinco homens de Fortaleza para uma reunião da cúpula da facção em São Paulo. Mas, assim que levantaram vôo, pediu para que o piloto pousasse na aldeia indígena para buscar galões de combustível. “Todos desceram, menos eu, de repente parte deles foram na mata, pegaram algumas armas e dispararam várias vezes contra o Gegê e o Paca, eu só escutei muitos disparos, mas não vi nada. Em seguida o Vaguinho e os outros dois voltaram correndo e me obrigaram a seguir até onde o combustível suportasse, ocasião em que desci em Recife, eles então entraram em um táxi, e sumiram”, contou.

O piloto disse ainda que Vaguinho lhe devia pelo menos R$ 100 mil, e que tem muito medo de morrer. “Eu já pedi para os policiais para que possa ficar por aqui, pois até atrás de meus advogados os integrantes do PCC foram para tentar descobrir onde eu estava morando”, concluiu.

Investigações

Titular da Deic, o delegado Valdemir Pereira disse que Felipe Morais foi preso quase que por acaso, uma vez que os agentes daquela especializada procuravam por um outro piloto de helicóptero de Anápolis que estaria levando drogas do Brasil para o Paraguai, e que, coincidentemente, desapareceu no último dia 15 de fevereiro. Apesar de não querer comentar as acusações de duplo homicídio e tráfico que pesam contra Felipe Morais, uma vez que as investigações seguem sob sigilo, e em outro Estado, o titular da Deic disse ter informações seguras que ele é sim o principal piloto do PCC no que diz respeito ao transporte de drogas. A previsão, segundo Valdemir Pereira, é que ele seja transferido para o Ceará ainda esta semana.