Quase mil presos deixaram as cadeias do Rio em ‘saidinhas’ e não voltaram em 2025
Desses presos que deixaram a cadeia na 'saidinha' e não voltaram, 65% são do Comando Vermelho, que oferece proteção aos evadidos
(O Globo) Um levantamento mostra que somente este ano, 992 presos que deixaram as cadeias fluminenses para as ‘saidinhas’ temporárias não retornaram ao sistema prisional. Entre eles, há chefes do Comando Vermelho do Rio e de outros estados. Para o Natal, obtiveram o benefício 1.848 custodiados que precisam se apresentar nos presídios até o fim da noite desta terça-feira.
O que é o benefício
Segundo a lei, tem direito à “saidinha” os presos em regime semiaberto que tenham cumprido um sexto da pena, no caso do condenado primário, e um quarto, se o detento for reincidente. O preso também deve apresentar “comportamento adequado”. Assim, detentos que não atendam a esses requisitos não têm direito à saída temporária.
A saída temporária pode se dar por três motivos: visita à família; presença em curso profissionalizantes, segundo grau ou superior; e “participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social”. No primeiro caso, foram cinco saídas autorizadas pela Justiça em 2025 no Rio: Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia das Crianças e Natal. Foram beneficiados, respectivamente, 1.456, 1.260, 1.672, 1.756 e 1.848 presos.
A permissão não pode durar mais de sete dias, podendo ocorrer cinco vezes ao ano, no máximo. No ano passado, foi sancionada ainda uma lei que proíbe o benefício aos condenados a crimes hediondos e com violência ou grave ameaça. O governador Cláudio Castro (PL) também sancionou esse ano uma norma que endurece as regras no Rio: será avaliado também os vínculos com as facções.
— O crime organizado se expandiu e testou, por anos, a capacidade de resposta do Estado brasileiro. Nosso dever é romper esse ciclo. Cada ação de inteligência, cada bloqueio territorial e cada transferência de liderança representa a reafirmação da soberania do Estado e a proteção direta da população fluminense — diz a secretária de Administração Penitenciária, Maria Rosa Nebel.
Os dados da secretaria de Administração Penitenciária do Rio mostram ainda que presos ligados ao Comando Vermelho são os que mais se evadiram do sistema esse ano: 635 custodiados, cerca de 65% do total de evasões de 2025. Informações de inteligência apontam que muitas vezes a facção permite o retorno dos presos em posição semelhante na hierarquia, além de oferecer abrigo e segurança para a pessoa não ser presa novamente.
Os evadidos em 2025 por facção:
- Comando Vermelho: 635
- Terceiro Comando Puro: 163
- Amigos dos Amigos: 63
- Povo de Israel: 69
- Neutros e milícia: 58
Entre os foragidos está Honório de Pereira de Jesus, condenado por tráfico de drogas e com atuação no Morro do 18, em Água Santa, na Zona Norte do Rio. Ele estava cumprindo a pena de 12 anos em regime fechado também por roubo e formação de quadrilha até o início de setembro, quando passou para o semiaberto.
Um mês depois, ele foi beneficiado com a autorização de deixar a cadeia em datas comemorativas. Na decisão, a juíza Juliana Benevides ressaltou que Honório Jesus estava preso desde 2023 e tinha um comportamento considerado “ótimo”. O Ministério Público foi contra o benefício, argumentando que ele tinha progredido para o semiaberto recentemente e já tinha ferido o regime em sua primeira passagem preso em 2009, mas a magistrada entendeu que esses argumentos não eram o suficiente para negar o benefício que o preso tinha direito.
O traficante então deixou a cadeia para o feriado de 12 de outubro e não retornou à cadeia. Ele é considerado foragido.
Outro foragido é Roger Pereira Moizinho, o Macarrão, apontado como um dos chefes do Comando Vermelho em Minas Gerais. Ele foi preso em 2021 escondido no Morro da Providência, suspeito de envolvimento em diversos homicídios. Ele cumpre pena de 11,5 anos por tráfico de drogas e estava no regime semiaberto desde maio. Ele recebeu o benefício da saída dos dias dos Pais e não retornou, sendo considerado foragido desde então.