ELEIÇÕES

Partido de Bolsonaro não enviou inserções, diz rádio citada por assessor demitido pelo TSE

Das oito rádios acusadas pela defesa da campanha de Jair Bolsonaro (PL) de ter veiculado mais…

Fábio Faria diz que se 'arrependeu' por levantar suspeitas sobre inserções em rádios (Foto: Reprodução - SBT)
Fábio Faria diz que se 'arrependeu' por levantar suspeitas sobre inserções em rádios (Foto: Reprodução - SBT)

Das oito rádios acusadas pela defesa da campanha de Jair Bolsonaro (PL) de ter veiculado mais propagandas do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, quatro delas afirmaram ao GLOBO não ter recebido inserções produzidas pela equipe do presidente e, por isso, não divulgaram o material. As demais emissoras foram procuradas pela reportagem, mas ainda não se pronunciaram. A assessoria do comitê eleitoral de Bolsonaro não respondeu até o momento.

Em denúncia apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha do presidente apontou que essas oito rádios deixaram de veicular um total de 760 inserções de Bolsonaro na última semana.

A rádio Extremo Sul, de Itamaraju (BA), afirma que veiculou todas as inserções que recebeu, mas que o envio das peças por parte da campanha de Bolsonaro foi irregular.

— A campanha do Lula é a única que envia a programação para três dias. Por exemplo: nesta semana, mandou na segunda-feira. Hoje já vão mandar para fechar todos os dias. A do Bolsonaro às vezes mandava dia sim, dia não. E quando manda, manda a programação diária — diz o programador Jean Batatinha de Souza.

O diretor da rádio, Dalvadísio Lima, diz que a emissora veiculou todas as inserções recebidas.

— Não teve a intenção de criar nenhum prejuízo para nenhuma coligação — afirma Lima, acrescentando: — Os e-mails e as correspondências que nos foram enviadas foram cumpridas.

Uma versão semelhante foi relatada pela Rádio Viva Voz, de Várzea da Roça (BA). Em nota, a emissora baiana afirmou que só recebeu as inserções de Bolsonaro no dia 10 de outubro, ao contrário das outras campanhas — incluindo as de governador —, que enviaram no dia 6, véspera do reinício da propaganda eleitoral no segundo turno. “Recebemos material de campanha de todas as coligações no dia 06/10, com exceção da coligação do candidato Bolsonaro, que só recebemos no dia 10/10”, disse. De acordo com a emissora, o fato pode ser verificado com registros dos e-mails recebidos.

Responsável por duas das rádios citadas na denúncia enviada ao TSE, o Sistema Pazzi de Comunicação, afirmou, por meio de nota, que “todo o material de campanha recebido das coligações que disputam o pleito, incluindo a do candidato Jair Bolsonaro, foram e são veiculados conforme as determinações do Tribunal Eleitoral, não havendo erros ou omissões nessas veiculações”. A empresa responde pelas rádios Povo das cidades de Feira de Santana (BA) e de Poções (BA).

Na lista das rádios denunciadas pela campanha de Bolsonaro também consta a Rádio da Bispa, de Recife, com a frequência 97.1 FM. A emissora, porém, publicou nas redes sociais nesta terça-feira estar sendo vítima de fake news, pois a frequência em que opera é diferente e que tem veiculado todas as propagandas eleitorais que receberam até agora.

“Está sendo veiculada informação falsa, informando que a Rádio da Bispa é a 97.1 FM. Essa informação é mentirosa, nossa frequência é 98.7 FM e estamos em dias com o Tribunal Eleitoral, Veiculamos todas as inserções que são enviadas para nós, e estamos fazendo nossa parte”, diz a postagem.

Relatório

Além dos documentos apresentados ao TSE em que acusam as oito rádios, a campanha de Bolsonaro produziu relatórios com o número de inserções de cada candidato em mais de mil rádios nas últimas semanas — nem todas, contudo, veicularam mais peças de Lula.

Uma dessas rádios incluídas no relatório, a Paudalho FM, de Pernambuco, afirma que obteve as inserções diretamente no site do TSE. O responsável pela emissora, Alexandre Oliveira, explica, no entanto, que só fez isso no segundo turno, já que, por ser comunitária, não teria obrigação de veicular as propagandas nacionais.

— Por ser uma rádio comunitária, as obrigações de veicular as inserções de nível nacional não é nossa. O que a gente fez aqui é que no primeiro turno a gente não veiculou as inserções nem de Bolsonaro, nem de Lula, nem de nenhum candidato. Agora no segundo turno, entramos no site do próprio TSE, onde tem as inserções, e pegamos o que tinha disponível dos dois candidatos. Estamos inserindo [as propagandas] de Lula e de Bolsonaro — disse Oliveira.

De acordo com a campanha de Bolsonaro, a rádio Paudalho FM foi uma das que exibiram mais propagandas de Lula do que do atual presidente — um total de 285 para o primeiro e 265 para o segundo. Oliveira, porém, nega que isso tenha acontecido e reforça que inseriu na programação da rádio todas as inserções que estavam disponíveis no mapa de mídias do TSE.

A campanha de Bolsonaro foi procurada para comentar a alegação das rádios, mas não respondeu. Reservadamente, membros da equipe do presidente alegaram que as rádios deveriam ter obtido as inserções em um site disponibilizado pelo TSE, que reúne todas as peças dos candidatos.

Em nota, TSE afirma não ser sua função distribuir o material a ser veiculado no horário gratuito. São as emissoras de rádio e de televisão que devem se planejar para ter acesso às mídias e divulgá-las seguindo as regras estabelecidas em resolução.

“Para isso, os canais de rádio e TV de todo o país devem manter contato com o pool de emissoras, que se encarrega do recebimento das mídias encaminhadas pelos partidos, em formato digital, e da geração de sinal dos programas eleitorais”, diz o tribunal.