Mudança

Usuários contestam fechamento de Cais Guanabara III para transformação em UPA

O atendimento do Cais do Jardim Guanabara III, em Goiânia, deve ser suspenso, integralmente, a…

Usuários do Cais Guanabara III contestam o fechamento total e temem a não reabertura da unidade que será transformada em UPA. (Foto: Ruber Couto/Alego)
Usuários do Cais Guanabara III contestam o fechamento total e temem a não reabertura da unidade que será transformada em UPA. (Foto: Ruber Couto/Alego)

O atendimento do Cais do Jardim Guanabara III, em Goiânia, deve ser suspenso, integralmente, a partir da próxima segunda-feira (27). O motivo? Reforma e transformação do local em Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Apesar de considerarem mudança benéfica, usuários contestam o fechamento total e temem a não reabertura da unidade. Previsão, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), é de obras por 120 dias. Funcionários serão realocados em outros pontos de atendimento.

Moradora do setor há 53 anos, Sônia Maria da Silva afirma que a população da região vai ficar prejudicada durante o processo de transformação. Isso porque, segundo ela, nem todos têm condições de buscar atendimento em unidades mais distantes. “Não somos contra essa reforma. A gente acredita que vai ter benefícios, sim. O problema é que vão fechar o Cais por completo e muita gente não tem condição financeira de ir até outra unidade. Imagine se alguém passa mal durante a noite. Fica complicado”.

A mulher expõe que a comunidade também teme a não reabertura da unidade. “Teremos muito prazer em receber a UPA, caso ela seja realmente entregue. Mas sabemos que é um risco. Eles falam em 120 de obras, mas temos vários exemplos de lugares que não tiveram as reformas concluídas. Como fica a população?”, questionou.

A preocupação de Sônia é semelhante à de Francisca de Oliveira, de 35 anos. A dona de casa teme que as obras atrasem e que as unidades dos setores Vila Nova, Urias Magalhães e Parque das Amendoeiras não consigam atender a demanda. De acordo com ela, são locais pequenos que não comportam novos funcionários e que já possuem muitos atendimentos diários.

“O que vemos é que esses lugares já são cheios e muitas vezes não conseguem atender nem a demanda da própria região. Quem garante que nós, do Jardim Guanabara III, conseguiremos ser atendidos? As unidades terão funcionários, mas não vai adiantar porque o espaço é pequeno e o serviço vai ficar reduzido”, disse.

“Proposta antidemocrática”

O diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde de Goiás (Sindisaúde), Erivânio Herculano, afirma que a proposta de reforma e fechamento total foi realizada de maneira não democrática. Segundo ele, a opinião de moradores da região e de movimentos sindicais não foi levada em consideração. “Tivemos uma reunião hoje (sexta-feira, 24) com representantes da SMS e a população não foi ouvida. Eles simplesmente apresentaram a proposta e perguntaram quem era a favor. No entanto, não questionaram quem era contra, que era a maioria das 100 pessoas presentes na ocasião. Não deixaram sequer os usuários expor os transtornos”.

Para ele, haverá descontinuidade no atendimento da saúde no setor. Isso porque os serviços de urgência e emergência, bem como atenção primária ficarão suspensos durante todo o processo de transformação. O sindicato, de acordo com o diretor, tenta negociar o fechamento integral e propõe atendimento parcial no local.

“Vamos buscar outras alternativas que contemplem a comunidade. Entendemos que essa mudança pode causar perdas de vida. As pessoas vão ficar sem atendimento nas proximidades de onde moram. Que garantias terão em outros lugares? Tivemos ao menos quatro fechamentos de Cais nos últimos tempos. As pessoas de Goiânia têm buscado serviços de saúde em Aparecida em razão da ingerência da gestão da capital. O sindicato não é contra as melhoras, mas a população precisa de garantias mínimas”, criticou.

“Vidas em jogo”

O Conselho Local do Cais do Jardim Guanabara III também vê o processo de transformação com preocupação. Segundo representantes da entidade, a população tem procurado o conselho para externar o medo da falta de atendimento. “As pessoas nos procuram para criticar a situação. São vidas em jogo. Ninguém é contra essa mudança de Cais para UPA, isso trará muitos pontos positivos, mas a comunidade precisa de um atendimento com qualidade e segurança. Dá para fazer a reforma por partes, sem precisar fechar tudo”, disse a conselheira Dalva.

Segundo ela, alguns departamentos já estão com objetos encaixotados e aguardam apenas a ordem de parada no atendimento. “Já está praticamente tudo preparado para o encerramento. É uma situação complicada porque nem todos do setor conseguirão buscar serviços em outros locais. Iremos buscar alternativas para reverter a situação e, inclusive, acionar o Ministério Público caso necessário”.

SMS

Em nota, a SMS informou que as obras devem durar 120 dias após a assinatura da ordem de serviço. A mudança, segundo a secretaria, vai proporcionar mais segurança e conforto aos pacientes e funcionários. “O projeto da prefeitura é transformar o Cais em mais uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), por isso, a unidade será totalmente adequada ao padrão”, diz trecho.

As obras devem ter início na próxima semana e, de acordo com o texto, resultará em aumento de quase 600 m² da área construída. O local passará de 1,7 mil m² para 2,2 mil m².

“Serão construídos uma sala de urgência, enfermaria pediátrica, banheiros nas salas de observação, sala de repousa para funcionários e a recepção será ampliada, tudo pensando num maior conforto dos pacientes e funcionários”, expõe o documento.