Silvio Almeida nega assédio e diz que Anielle ‘se perdeu num personagem’
Silvio Almeida vai prestar depoimento nesta terça-feira (25), na sede da Polícia Federal em Brasília

(Folhapress) Ex-ministro dos Direitos Humanos do governo Lula (PT), Silvio Almeida disse ter sido alvo de intriga política para desgastá-lo e que Anielle Franco, chefe da pasta da Igualdade Racial, “se perdeu num personagem” quando o acusou de importunação sexual.
Silvio Almeida foi demitido do governo Lula (PT) em setembro do ano passado após ser alvo de denúncias de importunação e assédio sexual —recebidas pela organização Me Too Brasil. Anielle disse ter sido uma das vítimas.
“Acho que ela [Anielle] caiu numa armadilha, a falta de compreensão de como funciona a política —a armadilha em que eu caí também”, afirmou o ex-ministro em entrevista ao UOL publicada nesta segunda-feira (24).
“Não prestei atenção em coisas em que deveria ter prestado mais atenção. Ela, da mesma forma. Ela se perdeu num personagem. Para tentar me desgastar, ela participou desse espalhamento de fofocas e intrigas sobre mim.”
De acordo com o ex-ministro, “tem gente especialista, dentro e fora do governo, em criar intriga e vazar para a imprensa”. “Tanto eu quanto Anielle Franco fomos enredados nessa imundice”, disse.
Em nota, a ministra rebateu as declarações de Silvio Almeida e disse que ele usou o espaço público para desqualificar as denúncias e intimidar as vítimas de assédio.
“A tentativa de descredibilizar vítimas de assédio sexual, minimizar suas dores e transformar relatos graves em ‘fofocas’ e ‘brigas políticas’ é inaceitável. Na véspera de prestar depoimento à Polícia Federal como investigado, o acusado escolheu utilizar um espaço público para atacar e desqualificar as denúncias, adotando uma postura que perpetua o ciclo de violência e intimida outras vítimas”, diz nota de Anielle.
Ainda no comunicado, ela reforça o direito à defesa do ex-colega, mas destaca que insinuar retaliações a quem denuncia os crimes é uma “estratégia repulsiva”. “Importunação sexual não é questão política, é crime. Sendo assim, reitero minha confiança na seriedade das investigações conduzidas pela Polícia Federal e reforço meu compromisso com a defesa das vítimas e o combate à violência de gênero e raça.”
Dois inquéritos foram abertos para investigar o caso, um pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) e outro no STF (Supremo Tribunal Federal), a pedido da PF. A investigação, que tem o ministro André Mendonça como relator, está sob segredo de Justiça.
Silvio Almeida vai prestar depoimento nesta terça-feira (25), na sede da Polícia Federal em Brasília.
Há uma semana, o ex-ministro publicou um manifesto nas redes sociais no qual afirmou que retomaria suas atividades públicas. “Eu estou vivo, continuo indignado e não quero compaixão nem ‘segunda chance’. Eu quero justiça.”
Ao UOL ele disse que precisou de um tempo em silêncio para entender o que estava acontecendo. Também citou um clima de hostilidade após as acusações e como sua defesa era lida como uma forma de desrespeito às supostas vítimas.
“Foi uma experiência de muito sofrimento. Primeiro vem a tristeza, depois a indignação. Estou indignado. Todas as pessoas que estão se referindo a mim desse jeito vão ser responsabilizadas.”