EXPORTAÇÃO

Tarifaço imposto pelos EUA afeta logística entre Brasil e Estados Unidos

Exportadores antecipam envios por avião, congestionando terminais aéreos

Tarifaço imposto pelos EUA afeta logística entre Brasil e Estados Unidos
Tarifaço imposto pelos EUA afeta logística entre Brasil e Estados Unidos (Foto: Reprodução/shutterstock)

Exportadores brasileiros estão alterando suas estratégias logísticas diante da iminente entrada em vigor da sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre mercadorias provenientes do Brasil, com início marcado para 1º de agosto. Empresas estão antecipando envios por via aérea, o que tem provocado sobrecarga nos terminais de carga dos principais aeroportos do país. Já o transporte marítimo, por não conseguir cumprir o prazo, apresenta desaceleração. Com informações do O Globo. 

No Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, o aumento na movimentação tem causado congestionamento nas plataformas. De acordo com Luigi Rosolen, diretor da operadora logística West Cargo, “exportadores estão antecipando envios para fugir do tarifaço. Pelo modal aéreo, ainda tem tempo de chegar nos EUA antes do dia 1º. Mas as vagas disponíveis nos aviões estão sendo ocupadas rapidamente, e as cargas não conseguem escoar na velocidade normal”.

A GRU Airport, concessionária que administra o aeroporto, informou que houve um “aumento expressivo” nos pedidos de agendamento de cargas para os EUA, com destaque para calçados, frutas, cimento, produtos automotivos e peças agrícolas. Segundo a operadora, 20% das exportações que passam pelo terminal têm como destino os Estados Unidos. Em nota, a concessionária recomenda que os clientes “confirmem previamente a reserva de voo com a companhia aérea antes do envio dos carregamentos para o aeroporto”.

Com a limitação em Guarulhos, exportadores estão buscando outros terminais com menor demanda. “Nos próximos dias, pela nossa experiência, poderá haver uma intensidade de envio maior do que a capacidade das aeronaves. Uma saída é tentar o embarque dessas cargas em outros aeroportos com menor demanda para cargas de exportação, que tenham capacidade ociosa”, disse Rosolen.

A Fraport Brasil, que opera o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, informou que a demanda por exportações para os EUA subiu 58% nas últimas duas semanas. Em Campinas, a operadora do Aeroporto de Viracopos informou que uma carga de 48 mil toneladas de peças de máquinas agrícolas foi redirecionada do Porto de Santos para o transporte aéreo. “Seriam exportadas pelo modal marítimo, mas a empresa preferiu antecipar o envio e optou pelo modal aéreo”, informou o terminal.

No setor marítimo, empresas decidiram suspender embarques que não chegariam a tempo aos EUA. “As empresas tiraram o pé. As cargas que estavam embarcadas avançaram, mas o resto ficou retido nos terminais portuários e retroportuários e nas indústrias”, afirmou Dagnor Schneider, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística de Santa Catarina (Fetrancesc) e do grupo Concórdia Empreendimentos.

A Deep Logística, empresa do grupo Concórdia, relatou acúmulo de cargas de madeira em seus armazéns. O produto representa 8% das exportações de Santa Catarina aos Estados Unidos.

No Espírito Santo, a Vports, administradora do Porto de Capuaba, em Vila Velha, comunicou que um navio de contêineres teve a chegada suspensa. A Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres (Abratec) informou que mais de 80% das ordens de embarque de café e carne com destino aos EUA foram canceladas nesta e na próxima semana.

Luiz Alberto Teixeira, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas & Logística do Espírito Santo (Transcares), disse que exportadores tentaram antecipar embarques de mercadorias já negociadas, ao mesmo tempo em que outras cargas tiveram os envios suspensos.

No Rio de Janeiro e no Paraná também houve cancelamentos. “Temos notícias de exportadores que anteciparam o envio de mercadorias que aconteceria só em agosto, e de indústrias que suspenderam a produção porque não sabem o que vai acontecer”, relatou Silvio Kasnodzei, presidente do Sindicato das Empresas do Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Setcepar).

No setor de ferro-gusa, Fausto Varela, presidente do Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer), informou que os embarques foram suspensos nesta semana. “As exportações de ferro-gusa de Minas Gerais somaram US$ 1,2 bilhão de dólares em 2024. Tudo estava caminhando para esse número se repetir neste ano, mas estamos apreensivos com as tarifas”, afirmou.

O setor de rochas naturais também foi afetado. Tales Machado, presidente da Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas), afirmou que “cerca de 1,2 mil contêineres, uma carga de US$ 40 milhões, deixaram de embarcar rumo aos EUA”. Segundo ele, “houve suspensão de embarque, mas não cancelamento de compra. Os clientes não querem a liberação das mercadorias para outros mercados, por isso estamos com esperanças de que o governo lá prorrogue a entrada em vigor da sobretaxa”.

De acordo com a Centrorochas, 56% das exportações brasileiras do setor têm como destino os EUA. Machado destacou que entidades norte-americanas do setor, como o Natural Stone Institute (NSI) e a National Association of Home Builders (NAHB), iniciaram ações de lobby junto ao governo dos EUA.