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Tomar bebidas muito quentes aumenta risco de um tipo de câncer; saiba qual

Estudo acompanhou quase 455 mil pessoas por mais de 11 anos

Tomar bebidas muito quentes aumenta risco de um tipo de câncer; saiba qual Estudo acompanhou quase 455 mil pessoas por mais de 11 anos
Imagem: FreePik

Tomar bebidas muito quentes pode aumentar o risco de um tipo de câncer, segundo um novo estudo publicado no British Journal of Cancer. A pesquisa indica que a temperatura do café, chá ou qualquer líquido consumido logo após o preparo tem relação direta com o aumento da probabilidade de desenvolver câncer de esôfago, especialmente um de seus subtipos mais agressivos — o carcinoma de células escamosas.

Conduzido com dados do UK Biobank, o estudo acompanhou quase 455 mil pessoas por mais de 11 anos, avaliando a quantidade e a temperatura das bebidas ingeridas diariamente. Durante o período, foram registrados 710 casos de adenocarcinoma e 242 de carcinoma de células escamosas. Os pesquisadores apontam que o consumo moderado de bebidas quentes não mostrou relação com o adenocarcinoma. Já para quem ingere mais de quatro xícaras de líquidos “muito quentes”, houve um aumento significativo no risco de carcinoma de células escamosas.

Por que a temperatura importa

O câncer de esôfago é um tumor maligno que pode se manifestar de duas formas principais. O carcinoma de células escamosas está ligado a fatores como cigarro, álcool e ingestão de líquidos em temperaturas muito elevadas. O adenocarcinoma, por outro lado, costuma estar relacionado à obesidade e ao refluxo gastroesofágico crônico. Quanto mais quente e frequente o consumo, maior o risco: até quatro xícaras diárias de bebidas fumegantes dobram a probabilidade de câncer; acima de oito xícaras, o risco pode ser até cinco vezes maior.

Segundo especialistas, isso ocorre porque a alta temperatura causa lesões repetidas à mucosa do esôfago, gerando inflamação crônica e estimulando uma regeneração celular constante — um processo que pode favorecer mutações e, consequentemente, o surgimento de um tumor. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), ligada à OMS, já havia classificado, em 2016, bebidas acima de 65°C como “provavelmente carcinogênicas”. A nova análise reforça essa ligação.

Recomendação dos especialistas

A recomendação dos especialistas é simples: esperar o líquido esfriar. Orientações internacionais consideram temperaturas entre 60°C e 65°C como um limite seguro, mas mais importante do que medir o termômetro é evitar consumir a bebida enquanto ainda está fervendo. O ideal é aguardar alguns minutos, até que esteja morna e confortável ao paladar.

No Brasil, o tema merece ainda mais atenção. Além de ser um dos maiores consumidores de café do mundo, o país tem o chimarrão — frequentemente ingerido em temperaturas muito altas — como um hábito comum no Sul, onde estudos já apontaram associação entre bebidas muito quentes e maior incidência de carcinoma de células escamosas.

Outros fatores de risco

Outros fatores também contribuem para o risco do câncer de esôfago, como tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade, refluxo gastroesofágico e dieta pobre em frutas e vegetais. A combinação desses hábitos aumenta ainda mais as chances de desenvolver a doença.

Sintomas e diagnóstico

Atualmente, o câncer de esôfago é o sexto mais frequente entre homens e o 15º entre mulheres, segundo o Inca. Os sintomas costumam surgir tardiamente, dificultando o diagnóstico precoce. Entre os sinais de alerta estão dificuldade para engolir, sensação de alimento preso no peito, perda de peso e azia persistente.

Apesar do alerta, especialistas reforçam que não é necessário restringir café ou chá. Consumidos em temperaturas moderadas, eles preservam seus benefícios cardiovasculares e metabólicos já conhecidos.