Luto

Tragédia em Goiânia: adolescente abre fogo contra colegas de sala de aula

Filho de pai e mãe policiais militares, um adolescente de 14 anos abriu fogo na…

Filho de pai e mãe policiais militares, um adolescente de 14 anos abriu fogo na manhã desta sexta-feira (20) contra colegas, dentro de uma sala do 8º ano do Colégio Goyazes, localizado no Conjunto Riviera, em Goiânia. Dois adolescentes, João Vitor Gomes e João Pedro Calembo, que têm 12 e 13 anos, morreram no local. Outros quatro alunos também ficaram feridos e foram encaminhados para hospitais da Capital. A tragédia aconteceu por volta das 11h30.

Em coletiva de imprensa, o titular da Delegacia de Polícia de Apuração de Atos Infracionais (Depai), Luiz Gonzaga, afirmou que um dos meninos mortos era um desafeto do autor dos disparos. “O rapaz me disse que este colega ‘o amolava muito’. Pelo o que ele contou, o alvo era este adolescente e, após os primeiros disparos, ele perdeu o controle e atirou aleatoriamente nas outras pessoas. Inclusive, ele disse que o outro menino que morreu era um amigo”, explicou o delegado.

Ainda segundo Gonzaga, informações preliminares apontam que o adolescente estava sentado com a arma dentro da mochila quando efetuou um disparo acidental e, em seguida, atirou contra os colegas. Foi no momento em que ele trocava os cartuchos da pistola .40 da Polícia Militar que a coordenadora da escola conseguiu persuadir o adolescente a travar a arma e acompanhá-la até a biblioteca da escola, onde ele permaneceu até a chegada da polícia.

“A coordenadora correu o risco, pois ele não entregou a arma para ela. O que ela fez foi louvável e com certeza evitou que a tragédia fosse ainda maior”, disse o delegado. Fora da sala de aula, conta Gonzaga, o adolescente chegou a apontar a arma para a própria cabeça dizendo que cometeria suicídio, mas foi dissuadido pela educadora.

Delegado explicou a dinâmica do crime em coletiva de imprensa na tarde desta sexta-feira (20) (Foto: Karla Araujo/ Do Mais Goiás)

Arma

Ainda no depoimento, o adolescente contou ao delegado que pegou a arma escondido dos pais na noite de ontem (19). “Ele disse que sabia manusear a pistola, mas não contou como aprendeu. Ele disse que não foram os pais que lhe ensinaram”, explica o delegado.

O adolescente ainda contou que pensava em matar os colegas há cerca de três meses e se inspirava em casos semelhantes. Um deles é o que aconteceu em Realengo, no Rio de Janeiro, em 2011, quando um ex-aluno da escola entrou no local e disparou contra os alunos; 12 pessoas morreram. O menino também disse que havia pesquisado sobre o caso de Columbine, em que um aluno matou 13 pessoas, em 1999.

Procedimento

Os pais do adolescente estão em liberdade. Segundo o delegado, o resultado da investigação vai apontar se eles devem ser responsabilizados.

Assim que finalizados, os documentos do caso devem ser encaminhados ao Ministério Público de Goiás e ao Judiciário, que vão decidir se o adolescente será internado. Até lá, o adolescente segue apreendido em local que não foi divulgado, segundo Gonzaga, por motivos de segurança. Com autorização dos pais do menino, a Polícia Civil esteve na casa da família nesta tarde e apreendeu objetos que eram de interesse da investigação.

Bullying

Ao delegado, os responsáveis pela escola disseram que não há registro de reclamações do adolescente sobre bullying. O rapaz confirmou no depoimento que não havia procurado a coordenação ou professores para reclamar das atitudes dos colegas. O pai do menino confirmou que ele já havia feito acompanhamento psicológico, mas o motivo não foi divulgado.

Uma das alunas, de 13 anos, que estava na sala de aula em que aconteceram os disparos, conta que o autor do crime sofria bullying pela suposta falta de higiene. “As pessoas falavam para ele tomar banho, passar desodorante. Ontem o menino que sentava atrás dele até disse que ia trazer um desodorante e pelo que eu vi, ele foi o primeiro a ser baleado”.

Ainda segundo a estudante, o autor dos disparos era um rapaz quieto que tinha poucos amigos. “Ele era estranho e parecia não gostar de ninguém da escola. Ele desenhava o símbolo do nazismo no caderno e achava legal isso, mostrava para a gente”, disse.

Vítimas

Os corpos dos dois adolescentes mortos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) no meio da tarde. Duas meninas e um menino que ficaram feridos foram levados para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). I.M.S., de 14 anos, tem estado de saúde grave. Ela foi submetida a procedimentos cirúrgicos para drenagem torácica bilateral e encontra-se internada em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sedada e intubada.

M.R.M., de 13 anos, também foi submetida a procedimento cirúrgico para drenagem torácica e, até o fim da tarde desta sexta, estava orientada, consciente, com respiração espontânea e internada em um leito de enfermaria do Hugo. O estado de saúde dela é regular.

O adolescente Y.M.B., de 13 anos, também tem estado de saúde regular. Ele está orientado, consciente, com respiração espontânea e encontra-se internado em um leito de enfermaria do hospital. Outra adolescente foi levada para o Hospital de Acidentados; o estado de saúde dela é estável.