25% dos alunos da rede pública de Aparecida não acessam aulas remotas
Barreiras da inclusão digital incluem acesso à rede, renda, tipo e velocidade de conexão à internet

Dados solicitados pelo Mais Goiás à Secretaria de Educação de Aparecida de Goiânia revelam que 25% dos alunos da rede pública de ensino do município não conseguem acompanhar videoaulas pela internet. Apenas o acesso à rede, não garante inclusão. O tipo e velocidade de conexão à internet é uma barreira para acompanhamento de aulas remotas durante a pandemia. Há crianças que possuem acesso à internet em casa, mas não conseguem participar de aulas remotas da rede municipal de ensino. Os dados são referentes ao ano letivo de 2020.
Como alternativa, a professora Idelma Oliveira, superintendente de ensino da Secretaria Municipal de Educação de Aparecida, afirma que os pais dos alunos que não conseguem acesso às aulas online recolhem atividades impressas nas escolas. A pedagoga ainda diz que a esses alunos são entregues as devolutivas de atividades com avaliação diferenciada.
De acordo com formulários preenchidos por pais de alunos matriculados na rede municipal de ensino, 25% de toda rede optou pela retirada de atividades impressas em 2020. Deste total, há crianças que não tem acesso à internet e também pessoas que optam por motivos diversos para fazerem a retirada. Um deles é o acesso a pacotes de dados de rede de internet móvel insuficiente para assistir aulas online. O levantamento para o ano letivo de 2021 ainda não foi concluído.
Exclusão digital
O tipo e velocidade de conexão ainda é um obstáculo à inclusão digital, principalmente no modelo de educação à distância, que se tornou uma necessidade e desafio nos tempos de Covid-19. A casa do estudante da Rede Municipal de Aparecida de Goiânia, Renilson Júnior Neres, de 7 anos, tem acesso à internet, mas Renilson não consegue assistir às aulas remotas da unidade de ensino que está matriculado.
“O ensino do Renilson fica prejudicado porque o único acesso à internet da casa é pelo meu celular, mas eu tenho que sair para trabalhar e preciso do telefone. Não posso deixar o aparelho na mãozinha dele para o aprendizado”, lamenta Luciene Soares dos Santos, mãe do aluno.
Ela ainda afirma que mesmo que o celular ficasse disponível, seu pacote de dados seria insuficiente para o estudante assistir as aulas. “As aulas não presenciais já prejudicam a qualidade de ensino, mas com apenas atividades recolhidas na escola, a educação do meu filho fica mais comprometida ainda”, declara Luciene.
Renda
A família de Luciene sobrevive com a renda de um salário-mínimo, pois ela é a única de sua casa que pode trabalhar no momento. “O dinheiro é curto, meu marido está desempregado e o plano do meu celular contratado é o mais barato oferecido pela operadora”, afirma.
De acordo com dados da pesquisa TIC Domicílios 2019, desenvolvida pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), 58% dos domicílios na Região Centro-Oeste, possuem acesso à internet Banda Larga e 31% possuem conexão via modem ou chip 3G e 4G.
A mesma pesquisa aponta que 30% dos domicílios na Região Centro-Oeste não possuem acesso à internet. O levantamento ainda traça os principais motivos para falta de internet nos domicílios da Região Centro-Oeste e indica que a exclusão digital está relacionada com renda e educação da população. Os principais motivos da falta de acesso à internet alegados nos domicílios da Região é porque acham caro (28%) ou não sabem usá-la (24%).
Professor Marcos Acácio, diretor da Escola Municipal Nova Olinda, onde Renilson estuda, afirma que há outros estudantes que não conseguem assistir as aulas online. “Em média, temos de 20 a 25 alunos pegando atividades toda semana na escola”, diz. Pelas reuniões que participa com outros diretores, Marcos estima que a média de estudantes que recolhem materiais de apoio por impossibilidade de acompanhar as videoaulas se repete em toda rede municipal.
“Eu observo dois grupos de pais dois grupos de pais que precisam pegar as atividades. Aqueles que tem acesso a um pacote de dados de telefonia móvel muito limitado, insuficiente para assistir as aulas e pais que têm um pacote de dados melhor, mas precisam sair de casa para trabalhar”, revela o diretor.
Qualidade
O diretor da escola admite que a modalidade de ensiono à distância tem sido um desafio na educação de crianças em todo o país. “Não adianta a gente falar que é a mesma coisa. A aprendizagem está na relação professor, aluno e conteúdo que fica muito prejudicada, mesmo com aulas online”, diz Marcos.
O professor acredita que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), indicador criado pelo governo federal para medir a qualidade do ensino nas escolas públicas deve sofrer queda em todo território nacional. “O maior desafio após a pandemia será o resgate do aprendizado dessas crianças para fazer estes números voltarem a crescer”, conclui o pedagogo.
Acesso
De acordo com a última publicação do Ranking Municipal de Acesso Domiciliar, feito pela Fundação Getúlio Vargas em parceria com a Telefônica, 27% da população de Aparecida de Goiânia possuía microcomputador com acesso à internet no domicílio. A pesquisa usa os microdados do último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010.
A mudança de cenário no âmbito municipal na última década só deverá ser aferida depois da realização do próximo Censo pelo instituto, que foi prorrogado por conta da pandemia. Mas em âmbito nacional, 99,2% dos domicílios que acessam a internet, fazem pelo telefone celular e 81,5% dos domicílios da Região Centro-Oeste tem acesso à rede. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) de 2018, também realizada pelo IBGE.