Dia Internacional da Dança

A arte do movimento: da marginalização às discussões políticas

Verdade. É assim que alunos de Danças Urbanas descrevem o que a dança representa para…

Verdade. É assim que alunos de Danças Urbanas descrevem o que a dança representa para eles. Neste segunda-feira (29), comemora-se o Dia Internacional dessa arte, que tem grande poder expressivo e que busca mais espaço em Goiás. Apesar dos potenciais de promover transformação social com suas mensagens, a modalidade urbana do gênero artístico encontra dificuldades para crescer em razão da aversão ao estilo encontrada em fatias da população.

O professor Thiago Spósito destaca que essa modalidade nasceu em uma região periférica e carrega esse estigma de marginalização. Porém, ele afirma que as Danças Urbanas levam uma mensagem para toda a sociedade de pessoas que acabam sendo esquecidas. Essa é a última reportagem que o Mais Goiás produziu para mostrar um pouco do cenário da dança em Goiás e seu impacto com a sociedade.

Integrante de uma família de professores, Spósito lembra que se apaixonou pela dança aos nove anos de idade e que há 12 ministra aula da modalidade. Pela dança, Thiago passou por diversas experiências em solo americano, terra natal de muitas periferias onde alguns ritmos que englobam as Danças Urbanas ganharam destaque, como o Hip Hop, Break Dance e Funk Music. Nos EUA, ele estudou na Broadway Dance Center em Nova York, Millenium Dance Complex e Debbie Reynolds, em Los Angeles.

Após retornar para terras brasileiras, Thiago viu que queria continuar sendo mais uma geração que ensina, mas sem dizer uma palavra. Porém, ele lembra que muitas pessoas ainda precisam entender a importância da dança na sociedade. “Muitas pessoas pensam que a dança não é uma profissão, não entendem que isso pode ser uma carreira. Isso ainda é muito pela visão marginalizada que essa modalidade carrega, mas até que ponto ser periférico é ruim? Às vezes, a pessoa quer fazer, mas, devido a essa visão, se priva e não faz noção do que está perdendo”, afirma.

Apesar de passar por desafios diários, Thiago lembra que já pensou em abandonar a dança devido a essa arte ainda não ser valorizada. Ele aponta que a dança é muito carente de investimentos e que chegam a fazer o mesmo esforço que um atleta. “Trabalhar com dança é remar contra a maré. Quando entra o físico se torna uma atividade cansativa. Sofremos um desgaste muito grande como um atleta e não temos a mesma valorização”, aponta.

Inclusão

Em suas salas de aulas, Thiago conta com diferentes biotipos de corpos. Ele destaca que essa é uma das virtudes das Danças Urbanas: poder incluir qualquer pessoa em uma coreografia em que ela pode expressar o que quiser. “A dança valoriza e nos enaltece e tem o poder de fazer coexistirmos em um ambiente primitivo, verdadeiro, sincero e essencial . A música toca e você dança. Por isso que ela é uma linguagem”, destaca.

Outra pessoa que aponta isso é a aluna e psicóloga Amanda Andrade, de 22 anos. Ela revela que o que mais encantou nela foi a capacidade do movimento político que as Danças Urbanas podem levantar. “As pessoas pensam que dançar é só executar uma coreografia, mas não é verdade. Tem uma história por trás. Pessoas falam com o seu corpo e é possível ver a troca de verdade. As Danças Urbanas não são lugares fechados. Todo dia algo é ampliado”, ressalta.

Amanda destaca que não foi impedida pela família em fazer Danças Urbanas. Pelo contrário, conta que a mãe foi uma das principais incentivadoras para que isso acontecesse. Porém, ela ainda escuta certos comentários pejorativos da sociedade. “Algumas pessoas chegam em mim e falam que não tenho cara de fazer ‘isso’. Só que dança não tem cara, não tem cor. É o momento de você ser você e pronto. A psicologia me ajudou muito nisso, em me mostrar a fazer o que eu gosto e ser feliz”, aponta.

A psicóloga brinca que a dança também é terapia e ajuda ela conhecer o próximo e a si mesma. “Um ponto que a psicologia trás é que onde uma pessoa passa um artista passou há dez anos. A dança me ajuda a encontrar uma verdade que eu não consigo encontrar nos livros. Por isso é tão especial para mim”, ressalta.

Caracterizada como marginalizada, modalidade ganha cada vez mais adeptos (Foto: @uaifilms)

Venci a timidez

Woley Silva, de 18 anos destaca que a dança foi a responsável por desenvolver capacidades de socialização e a impulsioná-lo na luta contra a timidez. O que chama atenção é que ele já ministrava aulas de dança em um projeto da rede municipal de Educação. Porém, ele explica que tudo mudou quando foi apresentado para ao projeto de Spósito. “Eu não entrava em grupo de jeito nenhum e era de poucas palavras. Hoje, eu sou à vontade na dança. Não tem julgamento como há na sociedade. Eu tenho um prazer em fazer aula”, conta.

O aluno conta que a pessoa não deve se privar de imediato em realizar as aulas e sim que deve se jogar de imediato na modalidade de sua preferência. “Cada pessoa vai vivenciar uma situação. Não tem como descrever. É algo incrível. Hoje eu não consigo ficar dois dias seguidos sem dançar. Na minha casa mesmo eu ligo o som e começo a dançar”, explica.

Meu objetivo é…

Sobre o que eles esperam da dança no futuro, o trio é bem direto: querem continuar levando mensagens através de seus corpos. Porém, Thiago destaca que pretende se especializar ainda mais na dança. Woley quer ministrar aula e viajar. Já Amanda, ressalta que é difícil escolher um único objetivo para a dança. “Eu posso falar que pode ser para dançar com a Beyoncé, quem não quer? Mas eu deixo meu corpo vivenciar cada momento no seu tempo”, finaliza.