Advogado de supeito inocentado no caso Amélia diz que cliente segue preso e machucado
Homem teve a casa incendiada: "A família perdeu tudo. A esposa e filhos estão morando de favor em casa de amigos e parentes"

A Polícia Civil descartou o primeiro suspeito do caso Amélia Vitória, de 14 anos, que desapareceu na última quinta-feira (30) e teve o corpo encontrado no sábado (2), em Aparecida de Goiânia. Trata-se de um pedreiro de 47 anos que chegou a ser preso e ter o carro e celular apreendidos (a casa dele foi incendiada por populares). Advogado dele, Paulo Castro falou da situação dele ao Mais Goiás em uma entrevista exclusiva.
Incialmente, o advogado manifestou “os mais sinceros sentimentos à família da menina Amélia Vitória, vítima desse crime bárbaro. Não há razões no mundo que justifique uma tragédia como essa”. Durante a conversa, revelou que, desde segunda-feira (4), sabe-se que o pedreiro Edmar Tavares da Silva não era o autor e, mesmo assim, ele segue preso, nesta quarta-feira (5).
Informou, ainda, que o cliente dele está machucado, segundo a família, pois teria sofrido agressões no momento da prisão. Confira a conversa na íntegra a seguir.
Entrevista do advogado Paulo Castro ao Mais Goiás
Mais Goiás – Como recebeu a notícia que seu cliente não era mais suspeito no caso Amélia?
Paulo Castro – Desde o início das investigações, muitas informações sobre a dinâmica dos fatos não eram congruentes e a defesa sempre acreditou na inocência do senhor Edmar. Não bastasse, após a decretação da prisão, o delegado de polícia Livio Magno Alves revelou em 04/12/2023, no processo que decretou a prisão preventiva, pela impossibilidade de eventual autoria atribuída ao senhor Edmar, haja vista que o material genético coletado e analisado pela perícia, indicou como positivo para outro investigado e assim, manifestou o delegado pela soltura.
Não bastasse, em comitiva de impressa da Polícia Civil, realizada em 05/12/2023, foi noticiada nova linha de investigação atribuindo autoria a pessoa diversa, descartando a possibilidade da primeira investigação contra o senhor Edmar.
Mais Goiás – O pedreiro ainda está preso?
Paulo Castro – Sim, está preso. Embora já haja manifestação da própria Polícia Civil pela soltura do senhor Edmar, que já não é mais o principal suspeito, o juízo responsável pela análise do caso, ainda não apresentou despacho em resposta.
A defesa já apresentou pedido de revogação da prisão preventiva e impetrou habeas corpus, por entender que se a autoria já foi atribuída a pessoa diversa, e sendo caso de indiciamento de outro autor, não há razões para a manutenção da prisão do senhor Edmar.
Mais Goiás – Onde está preso? Como ele está na cadeia? O senhor tem mantido contato com ele? Os direitos têm sido resguardados?
Paulo Castro – A defesa diligenciou sobre o local de prisão do senhor Edmar em 05/12/2023, que estava preso na Delegacia de Capturas. Porém, ao tentar contato com o cliente, não foi confirmado sequer o local em que se encontrava detido, impedindo direito de ter entrevista com seu advogado.
A família indicou que ele está bastante machucado, pois no momento da prisão sofreu muitas agressões. O contato com o senhor Edmar não foi possível até o momento. A defesa sequer pode ter acesso a ele. Assim, ao privar o acesso ao advogado, não ter sido sequer realizada a audiência de custódia até a data de hoje – 06/12/2023 , entendo que os seus direitos foram severamente vilipendiados.
Mais Goiás – O que aconteceu que ele foi identificado?
Paulo Castro – Sua identificação se baseou em câmeras de circuitos de TV nas intermediações do local dos fatos e pela presunção precipitada de autoria, baseada em uma falsa acusação que está em curso e em segredo de justiça.
Mais Goiás – Ele teve a casa queimada. Como está a família? E os pertences? Qual o prejuízo?
Paulo Castro – A família perdeu tudo. A esposa e filhos estão morando de favor em casa de amigos e parentes. Perderam todos os pertences pessoais, itens básicos para sua manutenção, eletrodomésticos, roupas. Em resumo, o incêndio, para além da casa e os bens, arruinou a vida de uma família, a vida de um inocente.
Mais Goiás – Ele responde por uma acusação de estupro de vulnerável. Como está esse caso? Qual a versão da defesa?
Paulo Castro – Ele responde por um processo que está em segredo de justiça e, por tais razões, a defesa irá se manifestar apenas no processo, para evitar prejuízos às investigações e à instrução processual.
Mais Goiás – Quando foi preso, seu cliente teve o celular e carro apreendidos. No veículo, encontraram sangue humano que não era de Amélia. Uma investigação foi aberta. O que é possível dizer sobre isso?
Paulo Castro – A Polícia Civil, juntamente com a perícia da Polícia Técnica-Científica fez um trabalho investigativo célere e chegou à conclusão de que eventual vestígios e material genético não eram da vítima, descartando, assim, a linha investigativa inicial de que a vítima teria sido transportada no veículo do primeiro investigado.
Ademais, imagens de CFTV, posteriormente levantadas, demonstraram que a vítima trafegava em via pública em uma bicicleta, juntamente com o segundo investigado. Logo, não faz sentido e não há lógica no raciocínio da primeira linha investigativa.
Mais Goiás – Seu cliente foi exposto, o que resultou a violência. Quais medidas a defesa irá tomar?
Paulo Castro – Em um Estado democrático de direitos, existe o instituto da presunção de inocência, que tem por objetivo preservar o investigado, o indiciado, o denunciado e até o condenado, até o transido em julgado de uma sentença penal condenatória.
Ocorre que, em investigações como a do caso, que por sinal devem correr em segredo de Justiça, e não é à toa, os órgãos investigativos devem ter maior cautela com as informações levantadas e vazadas. Pois, após divulgadas, podem gerar reações sociais gravíssimas, como a do caso.
Uma casa foi incendiada, uma família foi violentada, sonhos foram perdidos por uma irresponsabilidade estatal que, no ânimo de dar uma resposta imediata à sociedade, talvez até de cunho político, como vimos, queimou-se etapas da investigação que resultou em um incêndio criminoso contra um lar de uma família inocente.
Não é exagero dizer que a sociedade, ao reagir da forma que reagiu, lembra tempos medievais, um comportamento bárbaro, uma antítese ao que temos por sociedade democrática e civilizatória.
A defesa luta pelos direitos dessa família e, oportunamente, irá se manifestar sobre futuras medidas com o intento de reparar todo o sofrimento dessa família. Oportunamente, reiteramos sentimentos à família da vítima.
Caso Amélia
Janildo da Silva Magalhães, de 38 anos, foi apontado pela Polícia Civil como autor. Ele teria carregado a vítima por 6 km desde o rapto. As informações também foram divulgadas em coletiva, na terça-feira (5). O acusado foi preso na segunda (4).
Durante a coletiva, os delegados Eduardo Rodovalho (GIH de Aparecida de Goiânia) e André Botesini (Regional de Aparecida de Goiânia/2ª DRP) destacaram que o acusado abordou de bicicleta a vítima na quinta-feira e a violentou pela primeira vez em um matagal. Depois, ele andou mais de 6 km e ficou em um imóvel abandonado com ela, onde teria cometido abusos durante a noite.
Em seguida, já na sexta-feira, ele a matou por asfixia e voltou para a casa, pela manhã. Depois do primeiro abuso, ele teria levado a vítima na bicicleta, da Rua Sapucaia até a Rua Javaí, no Parque Atalaia, onde fica o imóvel abandonado.
As autoridades suspeitam que o homem tenha utilizado uma faca para ameaçar a vítima. Quando retornou para casa, ele pintou a bicicleta. Ele teria decidido levar o corpo para o local onde o mesmo foi encontrado, no sábado, após a mãe e irmã dele ficarem compadecidas.
Ainda segundo a Polícia Civil, a identificação foi possível graças a coleta de material genético das partes íntimas da vítima – trabalho realizado de forma célere pela Polícia Técnico-Científica. O resultado foi recebido na segunda-feira (4), coincidindo com um caso de 2017, em Rio Verde. Desta forma, o homem foi identificado como residente de Aparecida. Mãe e irmã revelaram que estavam desconfiadas com o comportamento do indivíduo. Aos agentes, ele negou e criou uma “história fantasiosa”.
De acordo com a corporação, Janildo responderá pelos crimes de estupro e homicídio qualificado. No momento, não há informações da participação de outra pessoa no crime.
Resumo
Amélia Vitória ficou desaparecida por três dias após sair de casa para buscar o irmão na escola, na quinta-feira. O corpo dela foi encontrado no último sábado em uma calçada no Parque Hayalla, em Aparecida de Goiânia. A vítima foi localizada por equipes da GCM, na Rua Hematita.