OAB-GO

“Agora é aceitar esta condição, porque nada fará voltar a minha mão”, diz advogado vítima de atentado

“Se o custo para ser advogado é ter sido lesionado, mutilado, eu aceito pagar”. Com…

“Se o custo para ser advogado é ter sido lesionado, mutilado, eu aceito pagar”. Com essas palavras o advogado Walmir Cunha reafirmou seu comprometimento em não se deixar abater e manter suas atividades profissionais, apesar do grave ato criminoso que quase lhe tirou a vida há menos de um mês.

Walmir, de 37 anos, foi vítima de um atentado a bomba no dia 15 de julho dentro de seu escritório, no Setor Marista. Ele se pronunciou sobre o caso pela primeira vez durante uma entrevista concedida na tarde desta quarta-feira (10/8), na sede da seccional goiana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-GO) por ocasião do Dia do Advogado.

Ao lado do presidente e do tesoureiro da entidade, respectivamente, Lúcio Flávio Siqueira de Paiva e Roberto Serra da Silva Maia, Walmir relatou os momentos de pavor que viveu naquela sexta-feira. Ele contou que havia acabado de chegar de uma viagem a São Paulo. “Por volta das 14h30 eu fui ao escritório para despachar os assuntos diários. Quando foi por volta das 17h30 eu desci as escadas e perguntei à secretária se tinha algo a mais. Ela me disse que tinha um presente”, afirmou.

Acostumado a receber agradecimentos do tipo de clientes, Walmir não estranhou as circunstâncias. O que o chamou a atenção foi a beleza da embalagem e a forma com que o presente estava embrulhado. A curiosidade fez com que ele abrisse o pacote ali mesmo.

Após puxar um laço da embalagem, porém, ele percebeu que havia algo errado. “Eu gritei para minha secretária que era uma bomba, mas na hora ela ficou sem reação”, diz. O advogado se preparava para se proteger em seu escritório, mas quando viu que a funcionária se feriria, voltou para tentar jogar a embalagem para longe. Foi então que houve a explosão. “Em nenhum momento eu fiquei inconsciente”, relatou.

Ele disse que no primeiro momento tentou procurar a secretária, e só depois que percebeu que ela havia se abrigado no escritório ele percebeu seus próprios ferimentos. “Eu estava com diversas queimaduras, uma fratura exposta em um pé e os dedos feridos”, contou.

Desde o incidente, ele foi tratado no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), onde passou por três cirurgias, e em hospitais particulares, onde cuidou das graves queimaduras no abdômen. Como resultado do atentado, ele acabou com três dedos e parte da mão amputados.

Walmir disse ter ficado em choque quando viu os danos pela primeira vez, mas afirmou ter preferido agradecer por ter sobrevivido e se readaptar a reclamar do que aconteceu. “Agora é aceitar esta condição, porque nada fará voltar a minha mão. Vou aceitar, agradeço pelo livramento que Deus me deu.” Ele ainda deve passar por novos procedimentos para aplicação de enxertos tanto no abdômen quanto na mão.

O advogado diz não desconfiar de alguma pessoa em específico que possa ter perpetrado o ato criminoso, no entanto, pondera que a maior possibilidade seja a de alguém que tenha perdido uma ação para o advogado. “Até o dia 15 de julho eu nunca tive inimigos, nunca recebi ameaças”, disse, ressaltando, porém, que seus debates jurídicos costumam ser “acalorados”, ainda que “respeitosos”.

O advogado pontuou também que não tem acompanhado as investigações sobre o caso. “Pedimos para que o delegado não nos informe o que esteja acontecendo. Não estou a par das investigações. Quero saber somente quando tiver a apresentação da autoria”, declarou.

Para ele, casos como esse são um ataque contra toda a advocacia brasileira e ao Estado Democrático de Direito. “Faço um apelo aos cidadãos brasileiros: protejam os magistrados, protejam o Ministério Público, protejam os advogados. Eles são os personagens previstos na nossa Constituição para administrarem a Justiça dos Homens”, disse, ressaltando que não vai se intimidar perante o ataque.

O posicionamento de Walmir foi endossado por Lúcio Flávio. “Quando um advogado sofre um atentado desta natureza, nós estamos colocando em risco a independência do profissional e as suas prerrogativas. Portanto, estão tolhendo as defesas do cidadão”, disse o presidente da OAB-GO, que lembrou também  o incêndio criminoso ocorrido no Fórum da cidade de Goiatuba na madrugada desta quarta-feira (10). “Presto minhas solidariedades à Asmego e ao Poder Judiciário. Precisamos unir forças”, ponderou.