Ambulantes da 44: Projeto de lei quer regularizar serviço de camelô em Goiânia
Vereador Fabricio Rosa lidera movimento para regulamentar serviço de camelô na capital

Na esteira das últimas manifestações realizadas por ambulantes da região da Rua 44, em Goiânia, o vereador Fabrício Rosa (PT) apresentou nesta terça-feira (8) um projeto de lei, que pretende regularizar e proteger juridicamente o trabalho informal na capital. A proposta, construída a partir do diálogo com os trabalhadores, de acordo com o parlamentar, reconhece o comércio ambulante como atividade econômica legítima e estabelece novas regras para licenciamento, fiscalização e mediação de conflitos com lojistas.
Durante o ato realizado na terça-feira (8) em frente à Câmara Municipal, que reuniu entre 500 e 600 manifestantes, Rosa fez duras críticas à repressão contra os camelôs. “Toda a violência da Guarda Civil vai ser denunciada na corregedoria. Nós vamos para o MP e vamos para os órgãos federais. Quer ser Polícia Municipal? Se comporte como Polícia. A finalidade do gás de pimenta nunca foi para atirar na cara do ambulante”, afirmou.
Licença automática e sem custos
Um dos principais pilares do projeto é a criação da Licença Municipal de Comércio Ambulante, descrita como gratuita, pessoal, intransferível e de prazo indeterminado. Segundo o texto, essa licença deverá ser concedida sempre que os critérios forem atendidos, sem margem para arbitrariedade por parte da administração pública. “Será considerada tacitamente concedida a licença não analisada no prazo de 15 dias úteis”, prevê o artigo 4º.
A licença poderá ser suspensa ou cassada apenas mediante processo administrativo com direito à ampla defesa. O projeto também permite ao ambulante indicar um substituto por até um dia por semana, desde que a atividade não seja transferida ou cedida.
Conselho para organizar e mediar conflito de ambulantes na 44
Outra inovação é a criação do Conselho Municipal de Regulamentação do Comércio Ambulante (CMRCA), órgão colegiado e paritário, composto por representantes da Prefeitura, Câmara, Justiça, Ministério Público, Defensoria, ambulantes, lojistas e sociedade civil. Ao conselho caberá, entre outras funções, definir zonas e horários autorizados, estabelecer critérios para concessão de licenças e mediar conflitos entre trabalhadores e comerciantes formais.
“O que estamos fazendo aqui é propor organização, dignidade e legalidade. Não é bagunça. O que não dá é para continuar batendo em trabalhador e tratando como criminoso quem está vendendo água, comida ou roupa pra sustentar a família”, defendeu Rosa durante o protesto.
Fiscalização com direitos humanos
O texto também determina que a fiscalização das atividades ambulantes deve respeitar princípios como dignidade, razoabilidade e função social do trabalho. A apreensão de mercadorias só poderá ocorrer em casos excepcionais, com devolução obrigatória em até cinco dias úteis após regularização.
Além disso, o projeto revoga qualquer norma anterior que autorize práticas repressivas incompatíveis com os direitos fundamentais, marcando uma ruptura com a política de “tolerância zero” adotada pela atual gestão municipal. “A gente quer dizer para o prefeito Sandro Mabel que nós não vamos aceitar violência. Aqui tem um povo trabalhador e humilde. Meu pai foi ambulante. Trabalhou debaixo do sol quente por muitos anos”, reforçou Rosa, emocionado, diante dos manifestantes.
Para ser aprovado, o projeto precisa do apoio de 19 dos 35 vereadores da Câmara Municipal. De acordo com o autor, 12 parlamentares já integram a Comissão de Ambulantes e estão dispostos a debater a proposta. “Isso precisa de articulação”, disse Rosa. “Precisamos de 19 vereadores para aprovar um projeto de lei.”