MEIO AMBIENTE

Após brigar para ter autoridade de licenciar o lixão de Goiânia, prefeitura pede socorro ao Estado

Prefeitura lutou por quase um ano pelo direito de emitir licença ambiental para seu próprio lixão, apesar de protestos do Estado

Após brigar para ter autoridade de licenciar o lixão de Goiânia, prefeitura pede socorro ao Estado (Foto: Divulgação)
Após brigar para ter autoridade de licenciar o lixão de Goiânia, prefeitura pede socorro ao Estado (Foto: Divulgação)

Depois de um ano inteiro brigando na Justiça pelo direito de emitir uma licença ambiental para o lixão de Goiânia e de garantir que tinha uma equipe tecnicamente apta para o serviço, a prefeitura enviou um ofício para a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) pedindo socorro para realizar a tarefa. O município solicitou, em caráter de urgência, a realização de um curso voltado a servidores municipais para capacitá-los a fazer o trabalho que envolve o licenciamento ambiental de aterros sanitários.

O ofício partiu da Secretaria Municipal de Eficiência (Sefic) e foi assinado pelo titular da pasta, Fernando Antônio Ribeiro Peternella. Antes da decisão judicial a autoridade da prefeitura para emitir licença para o lixão, essa prerrogativa era da próppria Semad – que, em nota, disse que vai acatar o pedido. ” A secretaria informa que vai atender à solicitação da gestão do prefeito Sandro Mabel, tendo em vista que o único objetivo do Governo de Goiás é o de cuidar do meio ambiente e o de contribuir com o conhecimento técnico que a pasta tem de sobra”.

Para o Estado, esse ofício prova que o município de Goiânia não tem uma equipe com capacidade técnica para fazer o licenciamento ambiental do lixão. “É importante que, depois de tomar conhecimento desse pedido, todos nós reflitamos, mais uma vez, se foi adequada a decisão do Tribunal de Justiça de Goiás de reconhecer a competência da prefeitura de Goiânia para promover o autolicenciamento do depósito de lixo da capital”.

A Semad diz ainda que foi contra a decisão do poder Judiciário e continuará tentando convencer os desembargadores, no âmbito da ação civil pública proposta pelo Estado e pela Abrema, de que o autolicenciamento do lixão da capital “expõe o meio ambiente a riscos severos”.

O contexto do lixão de Goiânia

As polêmicas envolvendo o lixão de Goiânia são bastante antigas. Desde 2011 o empreendimento não funciona com licença ambiental e tanto o Ministério Público, quanto a própria Semad, já tomaram uma série de providências para incialmente corrigir os problema estruturais do local, e, mais recentemente, para encerrá-lo.

Em 2016, uma resolução do Conselho Estadual de Meio Ambiente (CEMAm) definiu que o licenciamento de aterros em Goiás é uma atribuição de competência exclusiva do órgão ambiental estadual, tendo em vista que o impacto ambiental que ele gera ultrapassa os limites territoriais de um município.

Em 2019, a prefeitura de Goiânia conseguiu uma decisão judicial que permitiu que a Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma) licenciasse o lixão da própria prefeitura, o que foi alvo de protestos do Estado. Em paralelo, o Ministério Público pressionou por providências propondo um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que elencava uma série de investimentos necessários. Esse TAC foi reiteradamente desrespeitado em caiu em 2024.

A Semad e a Associação Brasileira de Resíduos Sólidos (Abrema) propuseram uma ação civil pública que denunciou os prejuízos ambientais causados pelo lixão de Goiânia e pediram que a licença municipal fosse suspensa. Em primeira instância, o Judiciário acatou a solicitação em sede de liminar, mas a prefeitura derrubou-a quando chegou nas mãos do desembargador Maurício Porfírio.

Enquanto acontecia a queda de braço, a Semad fez vistorias no lixão de produziu uma série de relatórios e pareceres que denunciaram os graves riscos que a operação do empreendimento representava à população de Goiânia.

Apesar de ter conquistado essa vitória, a prefeitura agora pede ajuda para licenciar o lixão.