Transferência prisional

Após denúncia do Mais Goiás, MP apreende celular com delegado preso na DIH de Goiânia

Celular apreendido será analisado, e a Justiça determinou a transferência do preso para o sistema penitenciário

Imagem do delegado
Nova medida busca impedir comunicação externa e garantir o andamento das investigações (Foto: reprodução / redes sociais)

Após denúncia feita com exclusividade ao Mais Goiás, o Ministério Público de Goiás, por meio do Gaeco, realizou nesta quinta-feira (18) uma nova ação na Delegacia de Investigações de Homicídios (DIH), em Goiânia, que resultou na apreensão de um celular encontrado com um delegado preso preventivamente, mesmo sob restrições judiciais de comunicação externa. A medida ocorre após relatos de ex-alunos do Instituto Delta Proto (IDP), em Rio Verde, que afirmam estar sendo coagidos pelo delegado da Polícia Civil Dannilo Ribeiro Proto, preso desde 21 de agosto, sob suspeita de liderar um esquema que teria desviado mais de R$ 2,2 milhões em recursos de escolas estaduais no município.

De acordo com o MP, a nova ação foi autorizada pela Justiça após surgirem indícios de que o delegado continuava se comunicando com pessoas fora da unidade, mesmo estando preso preventivamente. A decisão partiu da 1ª Vara especializada em crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro, que considerou a gravidade da conduta e o descumprimento das regras impostas ao custodiado.

As apurações indicam que o uso de celular dentro da carceragem não seria um fato isolado. Logo após a prisão, ainda em agosto, um aparelho teria sido localizado no local onde o delegado estava detido, mas a situação não chegou a ser oficialmente registrada nem comunicada aos órgãos responsáveis pela fiscalização do sistema prisional.

Segundo os alunos, mesmo preso na carceragem da DIH, o delegado estaria utilizando celular e até notebook dentro da cela para enviar mensagens e áudios com tom de intimidação a estudantes inadimplentes do instituto, cobrando valores e exigindo o cumprimento de contratos. Em um dos áudios atribuídos a Dannilo, ele afirma a uma ex-aluna: “Não, meu amor, você não precisa me mandar mensagem de investigação e tudo. Para começar, você faz parte da Polícia Civil? Do Ministério Público, do Judiciário? Não, então eu não quero saber desse assunto com você. Meu assunto com você é seu contrato”.

Imagem de uma das cobranças
Denúncia recebida pelo Mais Goiás apontou uso de celular por delegado preso e supostas ameaças a ex-alunos (Foto: cedida ao Mais Goiás)

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Com o avanço da investigação, novos depoimentos e dados reforçaram a suspeita de que o delegado seguia utilizando aparelhos eletrônicos para enviar mensagens e áudios diretamente da cela. Em algumas conversas, segundo o Gaeco, ele teria usado nomes falsos para entrar em contato com ex-alunos do instituto de ensino ligado a ele, numa tentativa de pressionar pessoas com pendências financeiras.

Diante desse cenário, o Ministério Público pediu à Justiça a apreensão de qualquer equipamento eletrônico em posse do preso e solicitou sua transferência para uma unidade do sistema prisional estadual, sob responsabilidade da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP). O objetivo é impedir novas comunicações externas e evitar interferências no andamento do processo.

Durante o cumprimento do mandado nesta quinta-feira, os investigadores localizaram um celular com o delegado dentro da unidade policial. O aparelho será analisado e poderá ajudar a esclarecer o alcance das comunicações feitas de forma irregular enquanto ele estava preso.

A investigação faz parte da Operação Regra Três, que apura a existência de um grupo organizado suspeito de desviar recursos públicos destinados a reformas em escolas estaduais e outros contratos. Segundo o Ministério Público, o prejuízo aos cofres públicos pode ultrapassar R$ 2,2 milhões.

Até o fechamento desta matéria, a defesa do delegado não havia se manifestado. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

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