Adaptação

“Aprender a andar de novo”, diz mulher que perdeu perna após cirurgia de safena em Morrinhos

A dona de casa falou com exclusividade ao Mais Goiás sobre como está sendo se adaptar à nova rotina

Maria Helena perdeu a perna direita após erro médico em Morrinhos. Foto - Arquivo Pessoal / Elias Mário

O perfil da dona de casa Maria Helena dos Santos, de 60 anos, é marcado por sua paixão pela dança e sua independência. Mas ela viu sua vida mudar drasticamente após perder a perna por um suposto erro médico durante uma cirurgia de safena no dia 6 de fevereiro de 2024, em um hospital de Morrinhos, na Região Sul do Estado.

Ao Mais Goiás, Maria Helena, que reside em Bela Vista de Goiás, disse que quando recebeu a notícia de que precisaria amputar uma perna ficou muito triste. Segundo ela a partir de agora vai ter que aprender a andar de novo. “Quando cheguei em casa ai que a ficha foi caindo e fui sentindo a falta da minha perna. Fiquei muito triste com isso, mas tenho muita fé em Deus e vou acostumar com essa nova vida, aprender a andar de novo”, disse.

A dona de casa conta que em julho de 2023 começou a sentir fortes dores nas pernas por causa de uma insuficiência venosa, ao procurar tratamento na rede pública ela descobriu que era necessário passar pela cirurgia vascular. Após aguardar na fila de espera, em novembro de 2023 a cirurgia foi liberada para o dia 6 de fevereiro de 2024 na Casa de Saúde Sylvio de Mello, um hospital particular que também atende pelo SUS.

Ela conta que o processo cirúrgico durou pouco mais de 1 hora e quando o efeito da anestesia passou ela já não sentia mais uma de suas pernas. “Logo comecei a sentir dor e ela foi aumentando e, por fim, já estava tomando morfina porque eu não suportava mais, era uma dor intensa e eu gritava, não dormia a noite e nem durante o dia”, relata a dona de casa.

De acordo com a mulher, com a perna já toda roxa, ela não conseguia mais ficar de pé. Segundo ela o médico passava pelo quarto e dizia que estava “ok”. Preocupada com a situação Maria Helena disse que pediu ao médico para fazer um novo exame, e ela afirma que mesmo tendo um aval do profissional, esse exame não foi feito no hospital com o argumento de que não tinha vaga.

Amputação

Como a dona de casa não conseguiu realizar um novo exame para verificar a situação de sua perna e sentindo muita dor, ela conta que pediu um encaminhamento para outro hospital, de preferência em Goiânia. Mas no dia 9 de fevereiro, ela foi transferida para a unidade municipal de Morrinhos. “Lá, ainda fiquei de sexta para sábado sofrendo com muita dor”, disse.

Na tarde de sábado (10) de fevereiro, a dona de casa foi encaminhada para o Hospital Estadual de Urgências de Goiânia (Hugo). Maria Helena conta que quando chegou na capital, já foi levada imediamante para o centro cirúrgico. No encaminhamento médico o problema dela estava sendo tratado como suspeita de trombose, mas durante o atendimento a equipe médica do Hugo constatou que a dona de casa estava com a artéria femoral destruída.

Para salvar sua vida, Maria Helena disse que o filho precisou autorizar a amputação da perna dela. “Ele [filho] perguntou a médica se teria outro recurso, mas ela disse que não tinha, o único jeito era amputar minha perna”, conta a dona de casa.

Em nota, o Hugo disse que a paciente foi avaliada por especialista em cirurgia vascular, levada ao centro cirúrgico, realizado cirurgia exploradora de urgência, evidenciado inviabilidade do membro devido a lesão arterial, procedido de imediato com amputação transfemoral direita. De acordo com o hospital, Maria Helena recebeu alta médica no dia 16 de fevereiro para seguimento ambulatorial.

Inquérito policial

O advogado de defesa da família, Marco Aurélio, informou que abriu uma denúncia contra o médico no Conselho Regional de Medicina (Cremego), Polícia Civil de Morrinhos e Ministério Público para apurar eventual crime ou infração ético-disciplinar da equipe médica que realizou o ato cirúrgico de safenectomia bilateral.

Ainda de acordo com a defesa, foi instaurado um inquérito policial pela Polícia Civil de Morrinhos, de modo que será iniciada a fase de depoimentos ainda nesta semana. Por meio de nota, o Cremego disse que todas as denúncias relacionadas à conduta ética de médicos são investigadas, mas elas tramitam em total sigilo, conforme determina o Código de Processo Ético-Profissional Médico.

Também por meio de nota, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), confirmou que a paciente foi direcionada para realização da cirurgia eletiva no hospital citado, mas que a “atuação profissional do médico, procedimentos de apuração de conduta, aplicação de eventuais penalidades, competem ao Cremego”.

Já a Casa de Saúde Sylvio de Mello informa que está colaborando com as autoridades para a elucidação dos fatos e que também abriu uma investigação interna, com o objetivo de apurar o ocorrido. Leia nota na íntegra:

Nota Casa de Saúde Sylvio de Mello

A respeito do episódio envolvendo a paciente Maria Helena dos Santos, a Casa de Saúde Sylvio de Mello informa que está colaborando com as autoridades para a elucidação dos fatos e que também abriu uma investigação interna, com o objetivo de apurar o ocorrido e tomar as devidas providências administrativas e legais.

A instituição informa, ainda, que seu departamento jurídico já entrou em contato com o advogado da família da paciente para disponibilizar a assistência necessária.