Capela do Rio do Peixe

Pirenópolis: moradores lutam contra padre na Justiça para manter campo de futebol de 60 anos

Um processo de usucapião para garantir o direito coletivo sobre o terreno, que é da paróquia, mas há anos é usado pela população

Moradores do Distrito Capela do Rio do Peixe, em Pirenópolis de Goiás, travam uma batalha judicial contra um padre para manter um campo de futebol que é tradição local há mais de 60 anos. A população conta que João Paulo, religioso responsável pela paróquia local, pretende tomar a área, considerada patrimônio cultural e ponto de encontro dos moradores há mais de seis décadas, para construir um santuário.

De acordo com a Associação de Moradores do Rio do Peixe, já foi protocolado um processo de usucapião para garantir o direito coletivo sobre o terreno, que é da paróquia, mas há anos é usado pela população. A audiência de instrução e julgamento ocorreu na última quinta-feira (2), e, segundo a defesa, as provas documentais e testemunhais fortalecem o pedido da comunidade.

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“A população ocupa essa área há muitos anos. O campo tem valor cultural e histórico para o distrito”, afirmou um representante da associação.

A moradora Edvânia, que vive na região desde o nascimento, relembra que o campo foi construído pela própria comunidade. “Esse campo tem mais de 60 anos. Foi o povo que fez, com as próprias mãos. Ele sempre foi o lugar onde as crianças brincam e onde acontecem os torneios e festas do distrito”, contou. Segundo ela, o padre quer usar o espaço para construir um santuário religioso, o que tem gerado forte resistência entre a comunidade.

Edvânia também relatou que, há cerca de três anos, o padre chegou a transformar parte do campo em estacionamento durante um evento religioso, cobrando pelo uso do espaço. “A comunidade não concordou, mas ele mandou abrir o cadeado e usou o campo mesmo assim”, afirmou.

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Mobilização

Representantes da associação informaram ainda que o padre teria vendido uma parte do cemitério local, também de propriedade da paróquia, o que aumentou a tensão entre os moradores. Na próxima quinta-feira (10), membros da comunidade devem se reunir com o bispo da Diocese de Anápolis para discutir o caso e pedir que a área seja preservada como patrimônio coletivo.

Outro morador, Juarez, de 52 anos, também reforçou a importância do campo de futebol para a comunidade e relatou momentos difíceis vividos recentemente. “A gente está fazendo um apelo sobre as coisas que tão acontecendo no nosso povoado, porque é triste ver tudo se desmanchando. Eu cresci aqui, fui catequizado aqui, participei de missas com fé e alegria. Mas o que estão fazendo agora não é certo. O campo foi feito pelo povo, com as próprias mãos, e é onde as crianças brincam, onde acontecem torneios, festas. É o nosso lugar. E agora ele [o padre] quer tomar pra construir outra coisa, vem com viatura, com polícia, arrombando cadeado. Criança chorando, gente desesperada”, contou.

Juarez ainda revelou que, para defender o espaço, a comunidade se organizou e arrecadou recursos próprios para entrar com ação na Justiça. “A gente fez rifa, o povo ajudou, conseguimos arrecadar R$ 10 mil para entrar com o processo. Tudo pelo campo. Isso aqui virou um desrespeito com o povo. E ainda teve o caso do cemitério. Ele vendeu uma parte do cemitério, depois tentou dizer que não, mas o povo reagiu, e ele teve que voltar atrás. Isso aqui não é terra de ninguém, é da comunidade. A gente só quer respeito”, afirmou.

Processo

O processo judicial, que corre na comarca de Pirenópolis, deve ter decisão nos próximos 15 dias. O Mais Goiás entrou em contato com a diocese responsável pela paróquia e aguarda retorno. A reportagem também não conseguiu falar com o padre citado. O espaço está aberto para manifestação.

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