Biologia

Cientista goiana descobre nova espécie de serpente durante estudos para doutorado

A bióloga goiana, Daniella de França, 31, que acaba de concluir seu doutorado em Zoologia,…

A bióloga goiana, Daniella de França, 31, que acaba de concluir seu doutorado em Zoologia, atraiu holofotes da ciência mundial para o Brasil depois de publicar, na quinta-feira (15), um estudo evidenciando a descoberta de uma nova espécie de serpente: a Apostolepis adhara. A preparação da tese, veiculada na revista Zootaxa – uma das mais respeitadas no âmbito da Taxonomia (estudo da classificação dos seres vivos) no contexto internacional, ainda teve participação de dois outros conterrâneos, os professores da PUC Goiás Nelson Jorge da Silva Júnior e Helder Silva.

Vinculada à Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro (SP) e à Universidade de São Paulo (USP), a herpetóloga (ramo da ciência que estuda répteis e anfíbios) retornou à Goiânia, em 2014, para iniciar as pesquisas que mais tarde compuseram a referida tese, cujo título é Revisão Taxonômica do Gênero Apostolepis, o qual também é assinado pelos cientistas Hussan Zaher e Fausto Barbo. Foi quando, revela França, ter notado o primeiro de dois indivíduos, cobras, que ensejaram a descoberta.

“Foi bem no início mesmo. Estava analisando, medindo e estudando espécimes do museu de zoologia da PUC quando descobri o primeiro indivíduo. O outro estava no museu de zoologia da USP”. Ela explica que a espécie é oriunda do Cerrado e foi batizada para homenagear o local onde os animais foram encontrados. “Adhara é o nome da estrela que representa Tocantins na bandeira nacional. Os dois indivíduos conhecidos são do município de São Salvador, naquele Estado”.

Holótipo – imagens do indivíduo que representa a nova espécie IFoto: divulgação/Daniella de França)

Para ela, a novidade representa a riqueza da biodiversidade apresentada pelo bioma Cerrado, a qual “já foi muito desprezada”. “Não é todos os dias que descobrimos espécies de vertebrados. A maioria foi feita há cerca de 200 anos, durante as primeiras expedições científicas no Brasil. Esse é um momento muito raro, ainda mais se tratando de um bioma tão degradado com o Cerrado, que por muito tempo foi discriminado em detrimento da Mata Atlântica e Amazônia, por exemplo. Mais de dois séculos depois da vinda de cientistas, Adhara é um símbolo da riqueza daquele ambiente”.

Conforme expõe a pesquisadora, a importância da descoberta extrapola o campo científico. “Todos os animais são importantes para o equilíbrio da natureza. Por mais que seja difícil notar a diferença feita por uma cobrinha dessas, é fato que ela faz parte da cadeia alimentar, o que pode refletir diretamente em nossa vida. Caso essa relação seja ameaçada por fatores antrópicos – participação humana – ao invés de partir de um movimento natural, isso pode causar um sério desequilíbrio. Por que temos tantos ratos nas cidades? Porque nelas eles estão livres de seus predadores naturais”, exemplifica.