Epicentro

Com 90% dos leitos de UTI ocupados e triplo de mortes, Rio vive colapso na saúde

Com a rede de saúde em colapso e mais de mil pessoas à espera de…

Falta insumo para caso grave de covid em 22 estados e DF; cloroquina sobra
Vinte e dois estados e o Distrito Federal estão com seus estoques de medicamentos para a intubação de pacientes graves da covid-19 no vermelho. Os dados são de um levantamento obtido pelo UOL realizado pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde), até o dia 9 de agosto, em 1.500 hospitais referências para o tratamento da covid-19 da rede estadual pública e privada.

Com a rede de saúde em colapso e mais de mil pessoas à espera de um leito hospitalar, a cidade do Rio se viu diante de um novo pico de mortes por coronavírus, nesta quinta-feira. Epicentro da pandemia no estado, a capital teve confirmadas 155 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas — o triplo do número mais alto registrado até então, que foi de 51 óbitos em um dia. Tanto no estado quando no município, apesar de oscilações diárias, o sinal de alerta disparou porque cerca de 90% dos leitos com UTIs para Covid-19 já estão ocupados. E há fila de pacientes em busca de vaga para internação.

No estado, também houve recorde de mortes. Segundo o boletim divulgado pela Secretaria estadual de Saúde, o Rio registrou mais 189 óbitos nesta quinta. O número mais alto em 24 horas tinha sido 82 mortes, na quarta-feira. A triste realidade acontece num momento em que o prefeito Marcelo Crivella e o governador Wilson Witzel estudam a possibilidade de um lockdown.

Há 570 óbitos em análise

Só na cidade do Rio, 9.051 pessoas já foram infectadas e 919 morreram. No total, o estado já acumula 1.394 mortes e 14.156 casos desde o início da pandemia. Há ainda 570 óbitos em investigação.

Crivella já disse que analisa as recomendações de lockdown feitas por um relatório da Fiocruz, mas que também recebe pedidos de empresários para aliviar as restrições. Após fechar nesta quinta o calçadão de Campo Grande, a Guarda Municipal bloqueia, a partir desta sexta, o de Bangu. O governador do Rio, Wilson Witzel, decidiu transferir para os prefeitos a decisão de implantar o lockdown. Ele prometeu que os municípios terão o apoio da polícia.

Diante da escalada da doença, o Rio ganhará na próxima segunda-feira o terceiro hospital de campanha, no Parque dos Atletas, na Barra. Começa com cem leitos e, no dia 22, estará com toda sua capacidade: 200 vagas, sendo 50 em UTI. O hospital, que custou R$ 50 milhões, é patrocinado pela Rede D’Or (que também fará a gestão), pelo Movimento União Rio, pela Stone Pagamentos, pela Vale e pelo Banco BV.

Lanchonete de portas fechadas em Campo Grande, na Zona Oeste. Acessos ao calçadão do bairro estão fechados desde às 5h desta quinta-feira, por determinação do prefeito Marcelo Crivella Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Lanchonete de portas fechadas em Campo Grande, na Zona Oeste. Acessos ao calçadão do bairro estão fechados desde às 5h desta quinta-feira, por determinação do prefeito Marcelo Crivella Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Agentes da Guarda Municipal instalaram grades para interditar o acesso de pessoas ao calçadão, que passou a ser controlado. Só é permitida a passagem de trabalhadores de setores essenciais e clientes que se dirigiam a lojas desses setores Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Agentes da Guarda Municipal instalaram grades para interditar o acesso de pessoas ao calçadão, que passou a ser controlado. Só é permitida a passagem de trabalhadores de setores essenciais e clientes que se dirigiam a lojas desses setores Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Agente da guarda municipal controla acesso de pessoas ao calçadão de Campo Grande, que foi fechado nesta quinta para conter o avanço do novo coronavírus no bairro Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Agente da guarda municipal controla acesso de pessoas ao calçadão de Campo Grande, que foi fechado nesta quinta para conter o avanço do novo coronavírus no bairro Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
No calçadão de Campo Grande, lojas fechadas e acesso controlado de pessoas. Dados do Centro de Operações Rio (COR) em parceria com a Tim e a Cyberlabs mostraram, nos últimos dias, uma queda preocupante do isolamento social. Por isso, prefeitura começa a endurecer medidas contra a propagação do novo coronavírus Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
No calçadão de Campo Grande, lojas fechadas e acesso controlado de pessoas. Dados do Centro de Operações Rio (COR) em parceria com a Tim e a Cyberlabs mostraram, nos últimos dias, uma queda preocupante do isolamento social. Por isso, prefeitura começa a endurecer medidas contra a propagação do novo coronavírus Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Homem caminha pelo calçadão, vazio, de Campos Grande. Uma cena bastante diferente do que se via nos últimos dias Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Homem caminha pelo calçadão, vazio, de Campos Grande. Uma cena bastante diferente do que se via nos últimos dias Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Mulher observa informativos colados na porta de uma loja fechada. O anúncio de lockdown parcial em Campo Grande foi feito na noite de quarta-feira e pegou alguns cariocas de surpresa Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Mulher observa informativos colados na porta de uma loja fechada. O anúncio de lockdown parcial em Campo Grande foi feito na noite de quarta-feira e pegou alguns cariocas de surpresa Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Para controlar a circulação de pessoas no centro comercial, equipes da Guarda Municipal ficarão no local 24 horas por dia Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Para controlar a circulação de pessoas no centro comercial, equipes da Guarda Municipal ficarão no local 24 horas por dia Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Agentes da Guarda Municipal pedem informações de quem quer passar pelo calçadão Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Agentes da Guarda Municipal pedem informações de quem quer passar pelo calçadão Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Agentes da guarda municipal monitoram os bloqueios, impedindo a passagem de pessoas no calçadão de Campo Grande Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Agentes da guarda municipal monitoram os bloqueios, impedindo a passagem de pessoas no calçadão de Campo Grande Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

Diante do avanço descontrolado da Covid-19, Niterói decidiu nesta quinta restringir ainda mais a circulação na cidade, onde 35 pessoas já morreram com a doença e há 629 infectados. Um decreto, aprovado ontem pela Câmara de Vereadores, estabelece multa de R$ 180 para quem permanecer em ruas, praias e praças do município. O maior rigor do isolamento social vai vigorar de 11 a 15 de maio, podendo ser prorrogado. Só serão autorizados deslocamentos para trabalho ou ida a serviços de saúde, farmácias, supermercados e outros estabelecimentos autorizados a funcionar. A cidade de São Luís, no Maranhão, foi a primeira adotar medidas de lockdown, termo que não foi usado pelo prefeito de Niterói. Ele determinou ainda que a temperatura de todos que passarem pelas barreiras de acesso à cidade será medida. Segundo ele, o isolamento social hoje é de 55%, mas este índice era 70% em março. Neves admitiu que teme que os próximos dias serão “críticos” na Região Metropolitana.

— Estamos decididos a, junto com a população, vencer essa guerra, com o menor número de mortos possível e com a manutenção dos hospitais públicos e privados em condições de atender pacientes — disse.

O ministro da Saúde, Nelson Teich, visita hoje o Rio. Ontem, ele disse que a pasta pode recomendar o lockdown em alguns casos. A declaração vai na contramão do que defende o presidente Jair Bolsonaro, crítico do isolamento social.

— Isso é uma discussão técnica, que vai variar de acordo com as diferentes situações. Tenho realçado isso. É fundamental que a gente não trate isso como um tudo ou nada — afirmou Teich.