Caso Goyases

Coordenadora que convenceu adolescente a parar de atirar relata os momentos de pânico

Com calma e sem demonstrar medo. Foi assim que a coordenadora do Colégio Goyases, Simone…

Com calma e sem demonstrar medo. Foi assim que a coordenadora do Colégio Goyases, Simone Maulaz Elteto, conseguiu convencer um adolescente de 14 anos a parar de atirar contra seus colegas de sala. Ela relatou os momentos de pavor que viveu ao Fantástico, da Rede Globo, em matéria veiculada neste domingo (22).

Na última sexta-feira (20), um garoto de 14 anos provocou a morte de outros dois adolescentes, de 12 e 13 anos, e deixou outros quatro feridos. À polícia, o jovem informou que teria cometido o atentado, com a arma da mãe – uma policial militar – porque estaria sofrendo bullying. Ele só não deixou mais vítimas porque Simone interveio.

Na entrevista, ela relatou que não teve medo de abordar o jovem, mas contou que chegou a ter a pistola apontada em sua direção. “Ele ficou com a arma posicionada no meu abdômen. A mão direita eu coloquei no ombro dele e com a mão esquerda eu fui empurrando devagar a arma pro fundo da parede, em direção a uma sala que eu sabia que estava sem alunos”, revelou.

Simone presenciou todo o desespero dos estudante do 8º ano, desde o primeiro disparo do adolescente, que teria acontecido de forma acidental. A sala de aula onde tudo aconteceu está localizada no terceiro andar da unidade. “As crianças estavam correndo, descendo as escadas e gritando que o aluno tinha ficado louco e estava atirando em todo mundo”, contou.

Tensão

Quando chegou ao local, a coordenadora conseguiu resgatar uma aluna, já ferida, antes de ter contato com o atirador. Segundo Simone, ela tirou a jovem da sala e a levou até uma professora e pediu para que ligassem para a polícia. Em seguida, voltou ao recinto onde a tragédia aconteceu, se deparando com as vítimas fatais João Pedro e João Vitor, caídos ao chão, junto de outra estudante que ficou ferida. O autor dos disparos ainda estava lá.

Na entrevista, ela relatou os momentos de tensão quando tentou estabelecer contato com o menino. “Me aproximei dele, não tive medo, coloquei a mão no ombro dele, perguntei: ‘O que houve? Está tudo bem?’ Ele estava um pouco alterado”, disse. Segundo a coordenadora, o jovem ainda efetuou mais um tiro contra uma parede e exigiu a presença do pai.

Simone tentou convencer o adolescente a entregar a arma, mas ele se recusou. Temendo que ele pudesse ferir mais estudantes, pais de alunos ou funcionários no térreo da escola, Simone o levou para a biblioteca.

“Fiz ele sentar numa cadeira perto de uma mesa, fui me aproximando dele e levei a outra mão por cima da minha mão. Aí eu posicionei a mão dele pra baixo, de forma que a arma não ficasse apontada nem para ele nem pra mim. Aí falei para ele: ‘Trava a arma, por favor’. Então ele travou a arma”, detalhou.

Pouco depois, policiais militares chegaram e ordenaram ao jovem que se deitasse no chão. Simone, sem saber que dois alunos já estavam mortos, saiu do local para chamar ambulâncias. “Eu ainda sinto muita dor pelos meus alunos que faleceram e pelos meus alunos que ainda estão em recuperação”, destacou.

Questionada sobre a hipótese de que o ataque tenha sido motivado por bullying, a coordenadora disse nunca ter percebido sinais de que o atirador sofresse perseguição de outros alunos. “Ele nunca chegou a mim para pedir ou relatar nada”, afirmou.

Ataque

Seis alunos foram baleados durante um tiroteio no fim da manhã desta sexta-feira (20) dentro do Colégio Goyases, na Rua Planalto, no Conjunto Riviera, em Goiânia. Dois adolescentes morreram no local e outros quatro ficaram feridos e foram socorridos.  

Segundo o Corpo de Bombeiros, três meninas e um menino estão entre os feridos. João Vitor Gomes e João Pedro Calembo, que tem entre 12 e 13 anos, não resistiram aos ferimentos e morreram dentro da sala de aula.

Viaturas do Corpo de Bombeiros e Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionadas para atender a ocorrência. Helicóptero do Grupamento Aéreo (Graer) da Polícia Militar levou um dos alunos para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), onde mais dois adolescentes foram encaminhados. Um deles recebeu alta neste domingo (22). A outra menina ferida foi levada para o Hospital dos Acidentados e não corre risco de morrer.

O atirador

O garoto que atirou contra os colegas tem 14 anos, está no oitavo ano e estaria com a arma na mochila. O objeto pertenceria à mãe dele, que é policial militar. Os disparos teriam acontecido no final da quinta aula pela manhã, por volta das 12 horas. Um dos estudantes que estava no local disse que acredita que o primeiro disparo  foi acidental e ele até imaginou que fosse uma “bombinha”. Depois, quando a turma se voltou para ver de onde vinha o barulho, o garoto começou a atirar aleatoriamente contra os alunos.