Inquérito

Dentista acusada de deformar rosto de pacientes ministrava cursos, diz polícia

Mais de 12 pacientes que se disseram lesados pela dentista já prestaram depoimento na delegacia. Outros ainda estão em fase de identificação

Público-alvo de dentista que deformou rosto de pacientes era humilde, diz delegada (Foto: Divulgação - PC)

A investigação da Polícia Civil constatou que dentista Hellen Kacia Matias da Silva, presa em Goiânia após acusações de deformar rostos de pacientes, ministrava cursos para que outros profissionais da saúde executassem tais cirurgias sob sua “supervisão”.

Segundo a Polícia Civil, a dentista vendia abertamente as cirurgias em seu Instagram, que possui mais de 650 mil seguidores. Mais de 12 pacientes que se disseram lesados pela dentista já prestaram depoimento na delegacia. Outros ainda estão em fase de identificação.

Segundo a defesa, a dentista não descumpriu determinação da Justiça, que a proibia de realizar cirurgias estético faciais após o dia 22 de novembro. Além disso, as advogadas Caroline Arantes e Thaís Canedo dizem que estão sendo divulgadas imagens de procedimentos com intercorrências que não foram realizados pela dentista Hellen Matias.

A prisão da dentista

A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon), cumpriu, na última terça-feira (30), mandado de prisão preventiva de uma odontóloga, investigada por realizar procedimentos estéticos que resultaram em deformações nos rostos de pacientes.

Também foram cumpridos quatro mandados de busca e apreensão nos municípios de Goiânia (GO) e Santa Bárbara de Goiás (GO), em endereços ligados à investigada.

A investigação indicava que a dentista e outros três dentistas realizavam procedimentos expressamente vedados pelo Conselho Federal de Odontologia na Resolução nº 230/2020.

Leia a nota completa da defesa da dentista

A defesa da odontóloga Hellen Matias alega que a prisão da profissional – realizada no dia 30 de janeiro – foi feita de forma arbitrária e injusta, já que a mesma não descumpriu determinação da Justiça, que a proibia de realizar cirurgias estético faciais apœs o dia 22 de novembro.

Segundo as advogadas Caroline Arantes e Thaís Canedo, que representam a dentista, a Justiça confundiu o procedimento realizado. A profissional – que tem a especialidade buco maxilo facial, realizou, após o dia 22 de novembro, procedimento reparador e não estético, dentro da competência da especialidade da profissional. Ela corrigiu lesão em uma paciente como uma complicação de procedimento (ectrópio) realizado anteriormente por uma outra profissional, o que é permitido pela resolução 65, artigo 41, do Conselho Regional de Odontologia (CRO).

A defesa reitera que o procedimento foi reparador, uma sutura feita na paciente para sanar uma intercorrência ocasionada por cirurgia prévia realizada por outra profissional e não uma blefaroplastia, como consta nos autos e no próprio depoimento da paciente.

Sob a condução das investigações, a defesa reclama que estão sendo veiculadas imagens de procedimentos com intercorrências que não foram realizados pela dentista Hellen Matias. Fotos que, inclusive, não são de pacientes da odontóloga, mas casos que foram levados para discussão em grupo de estudo, o que está muito claro no processo, até mesmo banco de imagens. As advogadas afirmam também que as fotos divulgadas foram descontextualizadas. Em sua grande maioria são de reações inerentes aos procedimentos e ao processo de cicatrização, como hematomas, inchaços e intercorrências normais.

A advogadas Caroline Arantes e Thaís Canedo alegam que o vazamento das imagens – que deveriam ser sigilosas, posto que não submetidas ainda ao crivo do contraditório – demonstra falta de lisura nas investigações. A propósito, o laudo do exame de corpo de delito que fundamenta a prisão da dentista comprova que não houve a execução de cirurgia estética facial pela Dra Hellen Matias, mas sim por outra profissional.