SITUAÇÃO DE ALERTA

Diretor de hospital em Goiânia pede fechamento do comércio: “Covid estourou”

Está na Câmara de Goiânia um requerimento para a criação de Comissão Especial de Investigação…

“Nunca tivemos nada parecido”, diz diretor de hospital que teve áudio vazado

Está na Câmara de Goiânia um requerimento para a criação de Comissão Especial de Investigação (CEI) dos leitos dos Hospitais Particulares por falta de transparência. Simultaneamente, vazou um áudio do diretor do Hospital São Francisco de Assis, Hugo Frota, 70, em que ele aponta a superlotação do local nos casos de Covid-19 e a gravidade da situação. Ao Mais Goiás, ele, que já passou por epidemia de meningite nos anos 1970, dengue e H1N1, afirma: “Nunca tivemos nada parecido com isso”.

No áudio divulgado na quinta-feira (26), Hugo se apresenta como diretor da unidade e diz que o local possui 106 leitos, sendo 26 de UTI. “Não sabíamos o que poderia acontecer com a Covid-19”, diz em tom preocupado em determinada parte. “O hospital esgotou os leitos de UTI e, drasticamente, estamos com cinco médicos [já aumentou para seis, nesta sexta] com a Covid e 32 funcionários”.

Ainda em sua fala gravada, o médico defende a retomada da paralisação do comércio pela quantidade de novos casos. “Estatística de Goiânia estourou”, apontou. Para ele, inicialmente a paralisação do comércio foi feita de forma correta, mas para evitar a proliferação do vírus é preciso prolongar, mais uma vez, o fechamento das atividades comerciais.

Segundo Hugo, ele fez o áudio para o grupo da Associação dos Fazendeiros do Vale do Araguaia, da qual é presidente – a associação abrange sete municípios na margem esquerda do Araguaia, no Mato Grosso. “A diretoria recebeu o áudio e vazou”, diz ele, mas reforçando que trata-se da pura verdade.

Flexibilização

Depois de um imbróglio na justiça, parte do comércio, em Goiânia, foi flexibilizado no último dia 23, por meio de decreto do Executivo municipal. Inicialmente, shoppings e galerias comerciais foram liberados, sob protocolos sanitários. No dia 30 de junho é a vez da região da 44.

Segundo o médico, no momento em que a doença tem aumentado os casos o comércio foi aberto. “Em outros lugares, esperam cair para começar a abrir”, argumenta. “Aqui [em Goiânia], a abertura do comércio deveria ser feita mais tarde, pois detectamos nas últimas três semanas um aumento progressivo na taxa de atendimento da doença, com aumento da quantidade de pacientes na enfermaria e apartamentos e também na parte de exames.”

Atualmente, segundo ele, o Hospital São Francisco conta 12 leitos, dos 26, destinados a pacientes com o novo coronavírus. Destes, somente dois estão desocupados, porém, reservados infectados da doença que já estão na unidade, em apartamento ou enfermaria. Ao todo, são 18 nessa situação.

Questionado sobre o colapso, Hugo não se alarma. Ele afirma que o hospital se antecipa para liberar um andar para pacientes da Covid-19 e levantar mais 20 leitos de UTI. A precaução tem motivo. Ele lembra que, há um mês, 5% das vagas para o vírus estavam ocupadas e hoje, no São Francisco quase chega a 100%. “Mas a média dos hospitais particulares é de 85%”, explicita.

“Não creio que haja esse desespero”, respondeu ao ser indagado de medidas extremas, sobre escolher quem vive e quem morte. “Mas deve haver mais restrições para cirurgias e tratamentos menos urgentes, pois os leitos de Covid-19 vão tomar o lugar de outros pacientes.”

CEI

O médico cirurgião geral e vascular de 70 anos deixa claro que as unidades de saúde privadas não tem interesse em esconder qualquer coisa que seja. Em relação a CEI, o argumento para a investigação é a suposta falta de transparência em relação a dados dessas unidades. Conforme o presidente da Câmara, Romário Policarpo, uma UTI que era alugada ao pode público por R$ 1,8 mil subiu para R$ 6 mil.

Hugo afirma que não tem dificuldade de internar pacientes com Covid-19 na unidade [havendo leitos] , mas diz que os detalhes são com a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg). Sobre isso, a Ahpaceg já havia informado que atenderia a solicitação feita pela Câmara Municipal de Goiânia sobre a oferta e ocupação de leitos nos hospitais associados e repassaria à presidência da Casa.

Segundo a entidade, os dados incluem não apenas as instituições de Goiânia, conforme solicitado, mas também do interior do Estado e abrangem os leitos comuns e de Unidade de Terapia Intensiva exclusivos para casos suspeitos e confirmados de Covid-19 e os leitos para outros atendimentos.

Incerteza

Hugo não dá previsões. “Ninguém sabe sobre os próximos 30 dias. Ninguém sabe se chegamos ao pico.” Desta forma, ele avalia que o planejamento estratégico deve ser feito de dois em dois dias e, se precisar fechar o comércio novamente, que seja feito.

“E a população precisa dar apoio a essas medidas. É uma situação inusitada, tudo é experimental. Estamos aprendendo nos últimos três meses.” Para ele, as coisas só devem se esclarecer em seis ou oito meses. Sobre o áudio, por fim, ele diz que não tinha intenção de causar polêmica ou desconforto, mas adverte: “A nossa situação é muito séria. A maioria das suspeitas de Covid-19, de fato são. E os sintomas são os mais variáveis possíveis. Está havendo descaso social e só veremos a gravidade quando cada um tiver um ente próximo morto.”