GOIÁS

Só 16 municípios goianos não têm casos confirmados ou suspeitos de coronavírus

Fato que chama atenção é que cidades têm menos de 10 mil habitantes; adesão da população às medidas restritivas é o segredo do êxito

Dos 246 municípios goianos, só 16 não registram nenhum caso confirmado ou suspeito do novo coronavírus, de acordo com o painel epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde (SES). O painel diz que 74 cidades investigam casos suspeitos da doenças e outras 156 já têm quadros confirmados.

As cidades que não possuem casos são Nova Roma, Campos Verdes, Santa Rita do Novo Destino, Guarinos, Itapirapuã, Americano do Brasil, Buriti de Goiás, Diorama, Palestina de Goiás, Baliza, Cristianópolis, Marzagão, Água Limpa, Três Ranchos, Davinópolis e Sanclerlândia. O que há de comum nessas cidades é o fato de que todas elas têm menos de 10 mil habitantes. Somadas, a população desses municípios chega a 54.840 pessoas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Quase a população de Mineiros.

Uma dessas cidades é ponto turístico conhecido dos goianos e e brasileiros de outros estados: Três Ranchos. Ao Mais Goiás, o prefeito do município, Hugo Deleon (PSDB), diz que adotou receitas simples para o enfrentamento da Covid-19 na cidade e que o mérito é do comitê de gerenciamento, que contou com a participação dele, do secretário da Saúde, da Vigilância Sanitária, de médicos e de enfermeiros.

Deleon diz que boa parte do comércio ficou fechada após os primeiros decretos publicados pelo governo estadual e que foram montadas barreiras sanitárias nas entradas da cidade, principalmente nos finais de semana e feriados. “Nós também orientamos donos de chácaras, caseiros, síndicos de condomínios e donos de pousadas a respeito dos cuidados que deveriam tomar e das medidas para evitar que o máximo de pessoas saísse às ruas”.

Hugo diz que a administração distribuiu máscaras na cidade e que a fiscalização ficou mais rígida após a flexibilização das regras para o comércio da cidade. Pontos turísticos da cidade estão interditados. “Já aconteceu de ter casa de veraneio alugada e algumas festas ocorreram em chácaras da região, mas, após ter o conhecimento, já foi realizada a fiscalização. Inutilizamos as áreas de lazer da cidade, como a praia artificial do município, e o impedimento de acesso ao lago da cidade”.

Nenhuma multa foi aplicada a comerciantes na cidade; no máximo, notificações e advertências. Mas cinco proprietários de casas para aluguel de temporada já foram multados e outros cinco advertidos. “Um outro fato que desenvolvemos foi o monitoramento de redes sociais. Se vimos alguma publicação sobre algum evento ou aluguel de casa, nós entramos em contato e já orientamos para que tal prática não aconteça”, ressalta. É permitida a entrada de pessoas de outros lugares da cidade.

O prefeito afirma que outras medidas foram tomadas, como a realização do cadastro do auxílio emergencial de famílias carentes da cidade, a distribuição de um cesta complementar para as crianças que estão fora da escola ou creches e a criação de uma horta comunitária que levará alimentos para famílias da cidade.

Adesão da população

Para o secretário de Saúde de Itapirapuã, José Alcides, a conscientização e adesão da população pelas as medidas tomadas pelo Executivo do município fez toda a diferença. Assim como em Três Ranchos, a cidade também aderiu os primeiros decretos estaduais e a fiscalização foi constante para evitar aglomerações no município.

“Realizamos a distribuição de máscaras e população vem aderindo a utilização dela. Além disso, muitos cidadãos estão sendo fiscais para evitar aglomerações. Um senhora mesmo de um setor me ligou e me disse que tinha cinco pessoas, que eram de fora da cidade e que estava no lugar para realizar um trabalho para um empresa, estavam sentadas na porta. Com isso, fomos ao local e orientamos. Não proibimos a entrada de pessoas na cidade, mas realizamos o monitoramento delas”, explica.

Ele destaca que um decreto municipal estabelece multa de R$ 1 mil para o comerciante que não disponibilizar água, sabão e álcool em gel para os consumidores se higienizarem. Em caso de reincidência, o proprietário pode pagar dobrado o valor da multa e ainda ter o funcionário suspenso. Quem for pego sem máscara na cidade, também pode pagar multa que custa acima de R$ 100. “A palavra é o empenho. A nossa cidade acaba sendo rota para lazer de algumas pessoas que vão para rios da região e passam por aqui. Não fizemos muitas coisas diferentes, mas a população fazendo a sua parte já ajuda muito o Poder Público”, destaca.

Autonomia dos municípios

Para o presidente da Federação Goiana de Municípios (FGM) e prefeito de Porteirão, José de Sousa Cunha, mais conhecido apenas por Cunha, a autonomia dos municípios após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) foi de extrema importância para o combate ao vírus. “Cada governante tem a sua necessidade específica e após essa decisão ele consegue tomar a decisão mais correta para a sua cidade”, destaca.

Para exemplificar isso, Cunha destaca que a densidade demográfica das cidades citadas poderiam inverter o quadro e ser de fácil disseminação do vírus. Além disso, outros fatores como o fato da cidade estar às margens de rodovias importantes ou serem rotas de turismo poderia ajudar ainda mais a propagação da doença.

“É por isso que essa autonomia foi de grande valia pois a decisão pode ser baseada com a realidade economia e estrutural do local. Se a cidade, por exemplo, não tem leitos de enfermaria e de UTIs, como irá flexibilizará totalmente o comércio? Vai contar com o município vizinho que também está cheio de casos confirmados?”, reflete.