MUDANÇA DE HÁBITOS

Em Pirenópolis, mulher relata trauma que a fez virar vegana: ‘o sofrimento era evidente’

Juliana atua no resgate de cães e gatos em situação de abandono

Juliana cuida de animais resgatados (Foto: Arquivo enviado ao Mais Goiás)

Há mais de duas décadas sem consumir carne, a ativista Juliana Morais conta que uma experiência vivida quando tinha 13 anos contribuiu para a forma como passou a enxergar a relação entre humanos e animais. Durante uma visita à fazenda de amigos da família, em Pirenópolis (GO), ela presenciou a castração de um porco em uma fazenda, procedimento realizado sem anestesia. A cena, segundo Juliana, deixou marcas profundas. “Foi algo que me marcou muito. O sofrimento era evidente”, relembra.

Apesar de ter crescido em um contexto onde o consumo de carne era algo naturalizado, com o passar do tempo ela passou a refletir sobre a capacidade dos animais de sentir dor, medo, prazer e afeto. Segundo Juliana, estudos científicos indicam que animais explorados para consumo são capazes de sentir dor, medo e estabelecer vínculos afetivos.

Na adolescência, esse entendimento se fortaleceu com o envolvimento direto na causa animal. Ainda morando com a mãe, ela já participava do resgate de animais em situação de rua, embora de forma limitada. “Eu já resgatava, mas minha mãe precisava controlar, porque, se deixasse, eu pegava todos”, relembra. Na vida adulta, ao conquistar independência, passou a atuar de maneira mais intensa no resgate de cães e gatos abandonados, experiência que aprofundou sua percepção sobre o sofrimento animal. “Como uma mulher que resgata e luta pelos cães e gatos, não faria sentido amar alguns e excluir outros”, afirma.

Mudanças na alimentação

A transição para o veganismo não ocorreu de forma imediata. Juliana explica que a mudança foi construída ao longo dos anos. Primeiro, deixou de consumir carne vermelha, depois a carne branca e, mais tarde, os produtos de origem animal. “Foi um processo”, resume. Segundo ela, a adaptação permitiu descobrir uma diversidade maior de sabores e novas possibilidades na alimentação cotidiana.

Juliana mora sozinha em Goiânia e relata que sua escolha alimentar é respeitada pela família. Nos encontros familiares, ela costuma preparar pratos veganos, que, segundo a ativista, são bem aceitos. “Sempre que nos reunimos, faço comidas veganas e eles adoram”, conta. No Natal, por exemplo, ela cita opções como salpicão vegano, tortas doces e salgadas e farofas. “Hoje dá para adaptar tudo. Temos excelentes pratos que substituem a proteína animal, além de inúmeros restaurantes e lanchonetes”, destaca.

Juliana também chama atenção para os impactos ambientais da agropecuária. Juliana cita dados amplamente divulgados por estudos ambientais segundo os quais a produção de um quilo de carne bovina pode demandar cerca de 15 mil litros de água, além de contribuir para o desmatamento, a emissão de gases de efeito estufa e o agravamento das mudanças climáticas.

Para Juliana, o especismo, conceito que se refere à crença na superioridade humana sobre outras espécies, sustenta práticas que considera injustas e ultrapassadas. “Não somos donos da vida, somos parte do todo”, defende. Na avaliação da ativista, a construção de um mundo mais justo passa pelo reconhecimento da dignidade de todos os seres vivos.

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