INVESTIGAÇÃO

Empresário suspeito de ligação com PCC tem quase 30 postos em Goiás

Armando Hussein Ali Mourad é irmão de um dos principais alvos da megaoperação Carbono Oculto

Empresário suspeito de ligação com PCC tem quase 30 postos em Goiás
Empresário suspeito de ligação com PCC tem quase 30 postos em Goiás (Foto: Marcello Casal Jr. - Agência Brasil)

O empresário Armando Hussein Ali Mourad, irmão de um dos principais alvos da megaoperação Carbono Oculto na última quinta-feira (28), Mohamad Hussein Mourad, é sócio e/ou administrador de, pelo menos, oito postos de combustíveis no Entorno do Distrito Federal, além de outros cerca de 20 pelo restante Estado, inclusive em Goiânia.  A ação da última semana cumpriu 200 ordens de busca, apreensão e prisão contra 350 alvos ligados a um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis (por meio de adulteração), controlado pelo PCC, em dez estados brasileiros, entre eles o território goiano.

Segundo a PF, Mohamad usava parentes para dar aparência de legalidade aos negócios. Além dos postos, Armando também assumiu uma distribuidora em Goiás, conforme a corporação. Os locais foram usados para lavar dinheiro e expandir os negócios da família.

Os postos de Armando, informou a PF, são “bandeira branca”. Isso significa que eles não possuem vínculo direto com grandes distribuidoras de petróleo. Ainda sobre os estabelecimentos, quatro levam o nome de Infinity e dois de PPostos. Saiba onde estão aqueles localizados no entorno do DF:

  • PPostos Abadiânia, em Abadiânia
  • PPostos Alexânia, em Alexânia
  • Posto Infinity Alexânia, em Alexânia
  • Posto Infinity Goianésia, em Goianésia
  • Posto Infinity Luziânia, em Luziânia
  • Posto Futura Niquelândia, em Niquelândia
  • Posto Infinity Divisa, em Santo Antônio do Descoberto
  • Posto Santo Antônio, em Santo Antônio do Descoberto

Ele ainda possui ou administra outros 20 postos pelo Estado, inclusive em Goiânia e região metropolitana. Confira:

  • Sucesso Auto Posto (Justiniano e Justiniano Real Combustíveis), em Aparecida de Goiânia
  • Posto Dipoco, em Catalão
  • Posto Infinity, em Catalão
  • Posto Atlântico, em Goiânia
  • Posto Canaã, em Goiânia
  • Posto Parada 85, em Goiânia
  • Posto São José, em Goiânia
  • PPostos Hidrolândia, em Hidrolândia
  • Futura Cristo, em Jataí
  • Futura JK, em Jataí
  • Futura Shopping, em Jataí
  • Futura Vilelão, em Jataí
  • Posto da Serra, em Morrinhos
  • Posto Infinity Morrinhos, em Morrinhos
  • Posto Avenida, em Rio Verde
  • Posto Infinity, em Rio Verde
  • Posto Infinity (Posto Vini Show), em Senador Canedo
  • Posto Infinity Redevoada, em Senador Canedo
  • Posto Nova Era, em Senador Canedo
  • Posto Yellow, em Terezópolis de Goiás

O levantamento foi divulgado pelo Metrópoles.

Megaoperação

Conforme as investigações, importadoras traziam Nafta e diesel do exterior com recursos de empresas ligadas aos criminosos. As distribuidoras, então, revendiam com fraudes e sonegavam impostos, além de adulterar os combustíveis com metanol para potencializar os lucros.

Foi apurado, ainda, que os mais de mil postos envolvidos recebiam pagamentos em espécie e máquinas de cartão, e registravam como valores legais. A movimentação estimada, entre 2020 e 2024, foi de R$ 52 bilhões, com baixa arrecadação de impostos. Apenas uma Fintech ligada ao grupo movimentou R$ 46 milhões nos quatro anos.

Ainda sobre a lavagem de dinheiro, os suspeitos investiam em fundos e bens, como caminhões, usinas, bem como imóveis e fazendas, e mais. Durante a megaoperação, a investigação também solicitou bloqueio de R$ 7,6 bilhões na tentativa de recuperar R$ 7,6 bilhões em tributos estaduais. Mais de mil postos participavam da lavagem de dinheiro, conforme a Receita Federal, Ministério Público e Polícia Militar.

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Adulteração de combustíveis

De acordo com as investigações, o alvo principal é a importação irregular de metanol, produto usado na adulteração de combustíveis. O material chegava ao Brasil pelo Porto de Paranaguá (PR), mas não era entregue aos destinatários registrados nas notas fiscais. Em vez disso, era desviado e transportado clandestinamente, com documentação falsificada e sem as mínimas condições de segurança, colocando em risco motoristas, pedestres e o meio ambiente.

Esse metanol era encaminhado para postos e distribuidoras controlados pela organização criminosa, onde servia para adulterar gasolina e etanol, aumentando de forma ilícita a margem de lucro. Os investigadores já identificaram mais de 300 postos de combustíveis em diferentes regiões do país que atuavam nessas fraudes.

A operação envolve cerca de 1.400 agentes públicos e além do Estado acontece em São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A ação é coordenada por órgãos como o Ministério Público de São Paulo (Gaeco), Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal e as polícias Civil e Militar de São Paulo.

Esquema do PCC

O esquema utilizava importadoras de fachada que compravam no exterior nafta, hidrocarbonetos e diesel. O financiamento dessas compras era feito por formuladoras e distribuidoras também ligadas ao grupo criminoso. Entre 2020 e 2024, os investigados teriam importado mais de R$ 10 bilhões em combustíveis de forma ilegal.

Na etapa seguinte, as empresas adulteravam os produtos e deixavam de pagar tributos nas vendas, repetindo o processo em larga escala. Isso permitia ao grupo abastecer postos a preços mais baixos, desequilibrando a concorrência e ampliando seus ganhos.

Lavagem de dinheiro com Fintechs

Outro ponto levantado pela investigação foi o uso de fintechs, empresas de tecnologia financeira que oferecem serviços como transferências e pagamentos digitais. Diferente dos bancos tradicionais, essas plataformas funcionam de maneira mais ágil e com menos burocracia.

No esquema, fintechs criadas ou controladas por laranjas movimentavam grandes quantias por meio de contabilidade paralela, permitindo transferências sem a identificação dos beneficiários finais. Isso dificultava o rastreamento do dinheiro e ajudava a lavar os lucros ilícitos.

Bloqueio de bens e prejuízo fiscal durante a megaoperação

Para tentar recuperar parte do dinheiro que foi sonegado, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) entrou na Justiça para bloquear bens dos investigados. Entre os bens estão imóveis, empresas e carros de luxo, totalizando mais de R$ 1 bilhão.

Além disso, a Receita Federal já identificou que R$ 8,67 bilhões em impostos federais deixaram de ser pagos por pessoas e empresas envolvidas no esquema. Esse valor corresponde a tributos que deveriam ter sido recolhidos em importação, produção e venda de combustíveis adulterados.

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