EDUCAÇÃO

Reeducando de presídio em Aparecida celebra aprovação no doutorado: ‘Seguir com as pesquisas’

Detento chegou a temer que, por ter sido preso, seria inviável concluir o doutorado, que ele havia iniciado ainda em liberdade

Reeducando de presídio em Aparecida celebra aprovação no doutorado: 'seguir com as pesquisas' (Foto cedida ao Mais Goiás)
Reeducando de presídio em Aparecida celebra aprovação no doutorado: 'seguir com as pesquisas' (Foto cedida ao Mais Goiás)

Um reeducando da Penitenciária Coronel Odenir Guimarães (POG), no Complexo Prisional Policial Penal Daniella Cruvinel, em Aparecida de Goiânia, defendeu uma tese de doutorado na manhã de segunda-feira (20) de forma online, um feito inédito no Estado. “Fui aprovado”, comentou ao Mais Goiás, satisfeito com o resultado dos estudos e também acerca do apoio que recebeu da Diretoria-Geral de Polícia Penal (DGPP) de Goiás.

Graduado em Design Gráfico e mestre em Cultura Visual, ambos pela Universidade Federal de Goiás (UFG), ele começou o doutorado em 2020, mas foi preso por crimes sexuais em agosto de 2024. Durante o cárcere, ele imaginou que sua tese, que abrange as áreas de artes visuais, computação e museologia e também deficiência visual, não iria adiante. Contudo, ele teve apoio da instituição de ensino, por meio de seu coordenador, e da DGPP.

Sobre apresentação, o detento afirmou que tudo ocorreu dentro do tempo esperado. “Ultrapassei só um pouquinho o tempo dos slides”, brinca. Segundo ele, a experiência “foi muito bacana, um momento de interação com os professores e com quem estava assistindo. Foi muito rico.” Apesar de já saber da aprovação, o reeducando ainda não recebeu a nota.

“Ainda não tenho a nota, mas pelas palavras dos professores, o trabalho tem peso acadêmico adequado para uma tese e respondeu todas as perguntas levantadas dentro da proposta do projeto. Agora, pretendo continuar trabalhando com pesquisas para pessoas com deficiência visual. Entendo que existe um campo gigantesco de possibilidades”, destacou.

Ele ainda citou que um dos professores é membro do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) e fez uma observação interessante. “O professor me disse que, em 2024, saiu um estudo e uma proposta de ações para acessibilidade nos ambientes dos museus. Então, é um tema em constante discussão e se observa a necessidade sempre premente de ações e estudos que promovam e criem opções para que as pessoas com deficiências visuais, e outras deficiências, tenham mais acessos.”

Apoio da POG

O aluno não se conteve ao comentar o apoio recebido dentro da POG. “Foi de uma riqueza e alegria enorme ter o apoio. Tive todo o apoio necessário, não só em termos materiais, de equipamentos, mas motivacionais.” Segundo ele, os policiais penais perguntavam sobre o tema, qual era o trabalho e davam parabéns pela iniciativa, no dia a dia. “Isso é fundamental para que se consiga ter um bom trabalho. Em todos os aspectos, o apoio foi dado.”

Ainda ao portal, ele agradeu nominalmente:

  • Josimar Pires – Diretor-geral da Polícia Penal de Goiás
  • Erivaldo Alves – Diretor da Penitenciária Coronel Odenir Guimarães
  • Paulo Sérgio – Gerente de Produção Agropecuária e Industrial
  • Ernane dos Reis Mata – Ex-coordenador da Seção Industrial

A previsão é que ele ainda cumpra, pelo menos, quatro anos de regime fechado no POG. Segundo a Polícia Penal, como ele trabalha e estuda, deve ficar menos tempo no local. Isto, porque a Lei de Execução Penal prevê remição de um de pena a cada 12 horas de estudo (distribuídas em três dias), seja no ensino fundamental, médio, profissionalizante, superior ou de requalificação profissional.

O Mais Goiás também procurou a UFG para saber mais sobre o caso inédito, mas não teve retorno após 24 horas de espera.