Gêmeas siamesas separadas em Goiânia têm estado grave, mas estável e dentro do esperado
"As gêmeas permanecem em observação contínua, em uso de ventilação mecânica, com dieta zero e sem piora clínica até o momento"

As gêmeas siamesas Kiraz e Aruna, que foram separadas no fim de semana em cirurgia que durou 19h com 16 especialistas, têm estado de saúde grave e respiram com ajuda de ventilação mecânica. A situação já era esperada, conforme nota do Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), nesta segunda-feira (12). Ainda conforme o documento, elas estão estáveis e se recuperam em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hecad.
“As gêmeas permanecem em observação contínua, em uso de ventilação mecânica, com dieta zero e sem piora clínica até o momento. A equipe multiprofissional segue acompanhando a evolução das pacientes de forma rigorosa, garantindo todos os cuidados necessários para a recuperação”, diz trecho da nota.
O médico Zacharias Calil comandou a cirurgia. Segundo ele, “o fígado foi uma surpresa muita grande”. “Sabíamos que ele era espesso, mas não daquela quantidade. Não é um fígado normal, era um tumor…” Ele também comentou, em entrevista à TV Anhanguera, que “a retirada da terceira perna, a parte óssea, foram três horas, o que provoca um processo inflamatório intenso”.
Separação
Terminou por volta das 4h20 de domingo (11) a cirurgia de separação das gêmeas siamesas Kiraz e Aruna, realizada Hecad, em Goiânia. Kiraz e Aruna têm um ano e seis meses de idade. Nasceram no interior de São Paulo e estavam isoladas no hospital desde a última quarta-feira (7). Calil explicou que o isolamento foi necessário para evitar que as pacientes fossem contaminadas, por exemplo, por vírus ou bactérias que lhes causassem enfermidades respiratórias. E também para preparar o intestino para a cirurgia.
Kiraz e Aruna foram definitivamente separadas por volta de 1h24 de manhã. Depois disso teve início a sétima etapa, que foi a reconstrução dos corpos das pacientes nas regiões em que ficaram expostas. “Foi uma cirurgia muito complexa, muito difícil, mas muito difícil mesmo. O fígado estava muito espesso e havia várias alterações anatômicas. Mas nós conseguimos”.
Participaram do procedimento mais de 60 profissionais, entre eles pelo menos 16 cirurgiões de especialidades diversas – como cirurgiões plásticos, ortopédicos, vasculares, especialistas em urologia e aparelho digestivo, além de quatro anestesiologistas.
Kiraz e Aruna eram classificadas, segundo o médico, como siamesas esquiópagas triplas, por terem três pernas e múltiplos órgãos compartilhados – como fígado, intestino, genitália, ânus, tórax e abdômen. Cada uma ficou com uma bacia e uma perna. A terceira perna foi sacrificada, para que pele e ossos fossem usados na reconstrução delas.
Na véspera, Zacharias Calil afirmou que a cirurgia seria realizada com tecnologia de última geração. Citou como exemplo um bisturi de argônio, que é um gás, que corta e coagula com alta precisão. E um equipamento que aspira sangue durante a cirurgia, filtra e o reintroduz no paciente. “Uma tecnologia de altíssima qualidade. Diminui muito a perda de sangue”, explica o médico.
Calil também fez questão de ressaltar que todo o procedimento foi feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Quando eu disse lá nos Estados Unidos que os pacientes não têm custo, eles assustaram. Hoje seria algo em torno de R$ 2,5 milhões. Fora o tratamento na UTI. Tudo isso é complexo demais. Lá nos EUA teria que haver uma arrecadação de dinheiro”.