Goiânia: esposa de homem morto após entrar em viatura da PM diz temer por ela e pelo filho
"Quero justiça, porque o que houve com ele foi uma execução"
Esposa do homem de 24 anos que foi encontrado morto após ser colocado em uma viatura da Polícia Militar (PM), em Goiânia, afirmou que Henrique Alves Nogueira foi executado. Ela também disse que está desamparada e que teme acontecer algo com ela e com o filho de quatro anos.
“Quero justiça, porque o que houve com ele foi uma execução, está bem claro que foi. Estou desamparada e tenho um filho de quatro anos. Estou com medo de acontecer alguma coisa comigo e com meu filho”, declarou ao G1. O Mais Goiás também tentou contato com a mulher, mas ela preferiu não dar mais entrevistas.
Os policiais que participaram da ocorrência alegam que houve confronto. No entanto, vídeos registrados por câmeras de segurança mostram que Henrique não ofereceu resistência à abordagem e foi colocado no automóvel pelos militares. Os quatro envolvidos no caso foram afastados.
Vale citar, a PM informou por nota, nesta terça-feira (16), que pediu a prisão cautelar dos policiais supostamente envolvidos na execução de Henrique Alves Nogueira. Henrique morreu após entrar em uma viatura da PM, em Goiânia, na última semana. A corporação confirmou a informação por nota, enviada ao Mais Goiás.
“A Polícia Militar por meio do encarregado do Inquérito (IPM), de forma cautelar, requereu a prisão dos policiais militares envolvidos na abordagem de Henrique Alves Nogueira e aguarda a manifestação da Justiça Militar sobre o referido pedido. A Polícia Militar de Goiás reitera que não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta e que o caso está sendo apurado com o devido rigor.”
Relembre o caso
Segundo o relato dos policiais na ocorrência, a equipe realizava patrulha pelo Setor Jardim Real Conquista, quando se deparou com dois homens em uma motocicleta. Os militares narram que deram ordem de parada, mas o condutor da moto fugiu. O carona, segundo eles, confrontou os policiais e foi atingido no revide. A ocorrência teria acontecido na noite de quinta-feira (11)
No entanto, imagens de câmeras de segurança mostram que Henrique foi abordado na manhã de quinta-feira, no Jardim Europa. No registro, é possível ver o momento em que o jovem anda pela rua e é abordado pelos policiais do Patrulhamento Tático. Os militares fazem a conferência de documentos e conversam com o homem. Momentos depois, o colocam na viatura.
De acordo com informações da Delegacia de Homicídios (DIH), a corporação foi acionada por volta das 22h para atender a ocorrência do suposto confronto, em uma estrada de terra do Real Conquista. Ainda na versão dos militares, o jovem estava com uma arma, uma mochila e grande quantidade de drogas. Nas imagens, porém, não há registro do homem com nenhum dos objetos.
Em nota, a PM informou que afastou os policiais assim que tomou conhecimento do caso. A corporação afirmou que não compactua com nenhum tipo de desvio de conduta e determinou a abertura de um Inquérito Policial Militar para apurar a conduta dos envolvidos.
A Polícia Civil investiga o caso e tenta descobrir o que ocorreu entre o período em que o homem foi abordado e o momento em que ele foi localizado morto.
Mais detalhes
Vale citar, segundo o advogado da família, Alan Araújo Dias, o corpo de Henrique Alves Nogueira tinha lesões que não existiam no momento da abordagem. “Existem lesões que podem indicar tortura”, relata o que ocorreu antes da suposta execução. O caso aconteceu na última quinta-feira (11).
Segundo o advogado, a abordagem ocorreu às 8h, conforme câmera de vídeo. O suposto confronto e o registro da ocorrência às 22h do mesmo dia. Alan ressalta, ainda, que os responsáveis pela abordagem e por acionar a Polícia Civil foram os mesmos agentes da PM. “Ele sofreu uma abordagem sem mandado e sem nenhum ilícito.”
Henrique tinha passagens por tráfico de drogas e roubo (2017), e por receptação (2019). Este último, explica Alan, é o único que ainda tramita. “Eles [PMs] abordam a pessoa na rua, veem que tem passagem e começam a pressionar e a torturar para entregar outros nomes.” Para o advogado, foi provavelmente isso que ocorreu antes da suposta execução. Henrique deixa esposa e uma filha de 4 anos.