Aniversário de Goiânia

Goianienses ainda não sabem conservar seus parques, avaliam especialistas

Apesar da grande quantidade de áreas verdes na Capital, falta educação ambiental para seus habitantes. Má administração também é um problema na cidade

Goiânia completa 84 anos nesta terça-feira (24) e, apesar de ao longo dessas décadas ter adquirido fama por seus parques e ter o título de uma das cidades mais arborizadas do mundo, especialistas afirmam que seus moradores ainda não têm consciência ambiental e que as áreas verdes não são bem administradas.

A técnica bióloga do Jardim Botânico, Georgia Ribeiro Silveira Sant’Ana, explica que apesar da abundância das áreas verdes na cidade, o goianiense ainda não sabe lidar com elas. “Há muita desinformação e falta de cuidado das pessoas. Por exemplo, os habitantes criam passagens dentro dos parques pra encurtar caminhos e isso prejudica o funcionamento do ambiente, pois as pessoas acabam pisando em mudas que são destruídas e não dão origem a novas árvores”, afirma.

Georgia acredita que a falta de cuidado com os parques é reflexo de uma falta de educação ambiental que deveria ser feita nas escolas. Ela conta, que os habitantes da cidade, mesmo usando esses ambientes com frequência, não respeitam suas regras de funcionamento, mesmo quando estão bem sinalizadas.

Outro problema que impede o convívio harmonioso entre a população e a área verde é a manutenção dos parques e bosques da Capital. De acordo com a Prefeitura de Goiânia, há 32 desses ambientes espalhados pela cidade. No entanto, segundo a coordenadora de educação ambiental do Parque Flamboyant, Suzan Laureano, a administração desses locais ainda não é eficaz.

A coordenadora explica, por exemplo, que no parque em que atua e em outros pela cidade, não há um controle do comércio realizado. “As pessoas vendem produtos nos parques e não cuidam dos resíduos que produzem, ou ficam distribuindo panfletos, que acabam indo parar no chão. Os pipoqueiros também, pegam o resto de óleo no fim do dia e jogam na grama ou no pé das árvores”, pontua.

Outro problema recorrente é a seca de alguns lagos de parques como o Flamboyant e o Lago das Rosas no período da estiagem. Sobre a questão, Geórgia explica que é um problema da expansão da cidade. “Quando Goiânia foi criada, a expectativa de crescimento não era tão grande. A cidade cresceu muito e muitas construções foram realizadas em cima das nascentes, muitas vezes achando que isso não seria um problema, mas nós sabemos que é. Consertar o que foi feito no passado é difícil”, conta.

Suzan ressalta ainda que a consciência ecológica é essencial para que as pessoas aproveitem melhor as áreas verdes da cidade. Ela conta que no Parque Flamboyant existe um núcleo de educação ambiental, mas que iniciativas como essa são exceção na capital. “Todo parque deveria ter um núcleo de educação ambiental, com pessoas para conversar e orientar a população, organizando atividades lúdicas e de lazer para a comunidade. A criança que vem para os parques já tem uma noção, mas os adultos não”, conclui.

Proximidade dos parques com a urbanização (Foto: Amanda Sales/ Mais Goiás)

Benefícios

A professora do Instituto de Estudos Sócio-Ambientais (Iesa) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Karla Faria, explica que as áreas verdes urbanas são importantes para garantir um contato da população com a vegetação remanescente que existia nesses locais antes da ocupação humana e da urbanização. Além disso, parques e bosques atuam no conforto térmico, uma vez que a grande quantidade de árvores cria um ambiente de temperaturas mais amenas.

Geórgia lembra também do aspecto psicológico desses locais. “Os parques proporcionam uma maior qualidade de vida das pessoas, o verde dessas áreas transmite tranquilidade. Além disso, a qualidade do ar também tem uma melhora devido a grande quantidade de árvores”, pontua.

Karla lembra que esses espaços seriam ideais para a prática de políticas voltadas para a preservação ambiental, uma vez que os parques e bosques são o contato mais próximo da população com a natureza. Além disso, a professora destaca esses ambientes como uma opção de lazer.

Goianienses usam parques como opção de lazer (Foto: Amanda Sales/ Mais Goiás)

Fauna e flora

Os parques e bosques proporcionam a convivência da população goianiense com a fauna e a flora. Em muitos desses locais é possível identificar aves, insetos e macacos, mesmo em meio à urbanização. Geórgia explica que no caso dos animais esse contato com a urbanização não é negativo, mas falta um manejo adequado dos órgãos de conservação ambiental competentes.

Karla ressalta que essa fauna é considerada urbana, pois se desenvolveu nas áreas verdes dentro da cidade e por isso se adaptou a esses ambientes. “Não são encontradas espécies endêmicas ou de raridades, mas os parques podem ser refúgio para aves, espécies de répteis, macacos”, pontua.

Quanto à flora, Georgia conta que os parques passam por recuperação florística, que consiste em replantar árvores específicas. A bióloga explica que no Jardim Botânico, desde 2011, há uma estufa para produzir mudas que serão plantadas para garantir a recuperação do parque após grandes queimadas, por exemplo.

Parques permitem contato humano com a fauna. (Foto: Amanda Sales/ Mais Goiás)

 

*Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo.