Goianos deportados dos EUA relatam problemas em voo e medo de morrer durante volta ao Brasil
'O momento mais difícil foi quando o ar-condicionado estragou, as pessoas começaram a passar mal', diz goiano deportado

Dois goianos deportados falaram sobre o medo de morrer em voo que trouxe brasileiros dos Estados Unidos da América (EUA), no último fim de semana. Kaleb Barbosa e Wendel Lourenço estão entre os 88 brasileiros que chegaram em Minas Gerais, na noite de sábado (25/1). Segundo os relatos, as pessoas tiveram pés e mãos algemados, além de serem submetidos a agressões e humilhações.
Kaleb Barbosa, de 28 anos, é de Rubiataba, na região Central de Goiás, e migrou para o país norte-americano há seis anos para dar uma vida melhor aos filhos. Além de agressões e humilhações durante o trajeto dos Estados Unidos para o Brasil, os deportados também relataram problemas técnicos com o avião. Segundo o goiano, mesmo com risco, a tripulação decidiu continuar a viagem sem trocar de aeronave.
“O avião estava em condições precárias, teve que viajar com o mecânico dentro do avião, eu nunca vi isso. O avião não queria funcionar”, contou Kaleb Barbosa. Ele ainda disse que o avião apresentou falha no ar-condicionado e nas turbinas.
“O momento mais difícil foi quando o ar-condicionado estragou no ar, as pessoas começaram a passar mal, alguns desmaiaram e as crianças estavam chorando. As turbinas estavam parando durante o voo, foi desesperador, coisa de filme mesmo”.
Desespero
Ainda segundo ele, se não fosse a intervenção do Governo Federal e a mudança para um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), todos poderiam estar mortos. Kaleb contou que, depois do pouso em Manaus, as turbinas do avião chegaram a soltar fumaça enquanto tentavam continuar a viagem para Belo Horizonte. As saídas de emergência foram abertas e ele pediram socorro.
O goiano retornou para o Brasil apenas com um saco com algumas roupas e objetos pessoais. Ele contou que, nos últimos dias, durante a deportação, enfrentou momentos aos quais jamais pretende se submeter novamente.
Outro goiano deportado é Wendel Lourenço, instalador de pisos. Ele disse que deixou a esposa, três filhos e oito netos em solo americano. Sobre o voo de deportação, o homem disse que chegou de algemas. “Algemado, pé e mão. O policial federal falou que a ordem era tirar de lá em Manaus”. Ele complementa: “tem que ajudar quem está para trás, porque quem está lá vai sofrer muito mais, e fica com o psicológico abalado”, desabafou ao mencionar que vai lutar para trazer a família de volta para Goiás.
Deportados dos EUA
O avião da Força Aérea Brasileira (FAB) com 88 brasileiros deportados dos Estados Unidos chegou na noite deste sábado (25), em Minas Gerais. A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, acompanhou o desembarque das famílias no Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte.
A aeronave norte-americana pousou em Manaus (AM) na noite de sexta-feira (24) e a Polícia Federal (PF) tomou conhecimento de que os passageiros deportados estavam sendo transportados algemados. Em razão da soberania nacional, o governo brasileiro determinou a retirada das algemas e enviou uma aeronave da FAB para transportar os brasileiros até o destino final.
O voo, que tinha como destino o aeroporto em Belo Horizonte, precisou fazer um pouso de emergência em Manaus devido a problemas técnicos.
As operações de deportação em massa de imigrantes ilegais nos Estados Unidos tiveram início poucos dias após o início do mandato do presidente norte-americano Donald Trump. Na noite da última quinta-feira (23), 538 pessoas foram detidas e centenas foram deportadas em operação anunciada pela Casa Branca.
“A administração Trump deteve 538 imigrantes ilegais criminosos”, anunciou a porta-voz Karoline Leavitt, acrescentando que centenas foram deportados em aviões do Exército norte-americano. “A maior operação de deportação em massa da história está em curso”, disse.
Ao longo da campanha presidencial, Trump prometeu conter a imigração ilegal no país, cenário classificado por ele como “emergência nacional”. Logo em seu primeiro dia na presidência dos EUA, o republicano assinou ordens executivas destinadas a impedir a entrada de imigrantes nos Estados Unidos.