Especialistas reconhecem impacto de animais na saúde mental das pessoas
Mais do que simples companheiros leais, os animais têm se mostrado agentes de cura

No Dia Nacional dos Animais, celebrado nesta sexta-feira (14), especialistas, familiares e pacientes se unem para reconhecer o impacto transformador dos pets, destacando seu papel essencial na saúde mental e em terapias. Mais do que simples companheiros leais, os animais têm se mostrado agentes de cura, desempenhando um papel importante no desenvolvimento físico, emocional e social de pessoas comuns e com necessidades especiais. Eles são fundamentais no tratamento terapêutico, promovendo melhorias significativas no bem-estar geral dos pacientes.
O Mais Goiás conversou com especialistas sobre a convivência com animais de estimação, que, além de proporcionarem afeto e companhia, são essenciais no auxílio ao equilíbrio emocional de indivíduos, contribuindo para a saúde mental de forma ampla.
O poder dos pets na saúde mental
A psicóloga Soraya Oliveira destaca o impacto profundo que a convivência com animais de estimação tem no bem-estar emocional e psicológico dos indivíduos. Ela explica que, além da afeição e companhia, o vínculo com os animais promove uma sensação de empatia, trazendo benefícios diretos para a saúde mental. Soraya também comenta sobre a resistência de algumas famílias na adoção de cachorrinhos ou gatinhos e como o profissional de saúde deve abordar essa necessidade, sempre lembrando que o animal é um ser vivo que merece respeito e cuidados adequados.
“Essa abordagem precisa ser feita por um profissional da saúde, que acompanha o paciente, seja criança, adolescente, adulto ou idoso. O psicólogo pode explicar a necessidade de ter um pet e como isso pode aliviar sintomas de solidão ou até ajudar no tratamento de transtornos mentais. O simples contato físico com o animal gera uma empatia imediata que promove bem-estar.” Explicou a especialista.
Soraya ressalta que o impacto positivo dos animais vai além do que se imagina, como aliviar sintomas de estresse, ansiedade, e até depressão. Ela também comenta sobre o vínculo de reciprocidade entre o tutor e o pet, destacando que essa relação é essencial para a melhora emocional do paciente. “Quando o paciente toca no animal, ele sente uma sensação de afeto. O animal, por sua vez, responde a esse carinho e isso cria uma troca de sentimentos que melhora a saúde mental. Esse vínculo ajuda o paciente a se sentir menos isolado, mais conectado consigo mesmo e com os outros.”
Ela ainda frisa que os animais, como cães e gatos, podem atuar como ferramentas de promoção da saúde mental, especialmente em momentos de crise emocional ou solidão. Em seu trabalho, Soraya observa que o simples ato de cuidar de um animal pode despertar uma sensação de propósito no paciente, auxiliando em terapias para a depressão e até transtornos mais graves, como a ansiedade social.
“Além de melhorar a condição emocional, o pet pode ajudar a melhorar a vida social. Muitas vezes, os pacientes com transtornos emocionais têm dificuldades em interagir com outras pessoas, mas o animal facilita essa interação, ajudando a quebrar barreiras e promovendo uma maior integração social.” explica a psicóloga.
Além dos benefícios da convivência com os animais, ela ressalta que é fundamental compreender que os pets também adoecem, envelhecem e podem morrer. Por isso, é importante preparar o paciente para o luto, mostrando que essa experiência faz parte da vida. Embora a perda não possa ser substituída, o amor pelo pet permanece e pode se expandir por meio da adoção responsável de outro animal que espera por um lar e pelo carinho que o paciente tem a oferecer.
Equoterapia não é apenas uma atividade física, mas emocional
Santiliane Fernandes, coordenadora da Equoterapia Um Salto para a Liberdade, em Itapuranga, fala sobre o impacto emocional da equoterapia no tratamento de pessoas com necessidades especiais. “Quando começamos o trabalho, acolhemos cavalos que já estavam mais velhos e não podiam mais trabalhar nas roças. Começamos a adaptar os animais para trabalhar com praticantes, desde crianças até adultos. Com o tempo, percebemos que esses cavalos se tornaram verdadeiros instrumentos de cura.”
No Brasil, a equoterapia é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, sendo regulamentada pela Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-Brasil) e pela Resolução COFFITO nº 348/2008, que a define como um recurso terapêutico para fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
Atualmente, a instituição atende cerca de 50 famílias com uma equipe multidisciplinar que oferece atendimento gratuito. Há uma lista de espera atualizada a cada seis meses, mas, dependendo da patologia, o encaixe pode ocorrer em menos tempo. Além disso, a instituição mantém um grupo de acolhimento para as famílias, com atendimentos mensais ou quinzenais, conforme a demanda dos cuidadores.
Santiliane explica que a equoterapia vai além do tratamento físico, sendo também um processo de transformação emocional. O vínculo afetivo entre o paciente e o cavalo fortalece a superação de limitações, promovendo avanços tanto no aspecto emocional quanto no físico.
“A equoterapia vai além do tratamento físico. O cavalo tem um papel fundamental na recuperação emocional do paciente. A interação com o animal cria um espaço seguro, onde o paciente se sente acolhido, ouvido e, principalmente, aceito. Isso ajuda muito no processo terapêutico, principalmente para aqueles que têm dificuldades em expressar sentimentos ou emoções.”
Santiliane ainda fala sobre a importância de uma equipe multidisciplinar para avaliar e monitorar cada paciente, garantindo que o tratamento seja seguro e eficaz. “Cada paciente que chega até nós passa por uma avaliação detalhada. Trabalhamos com uma equipe multidisciplinar que acompanha o progresso do paciente, avaliando os benefícios da equoterapia de forma integral, tanto no aspecto físico quanto emocional. Antes de iniciar o tratamento, garantimos que não haja contraindicações médicas, como crises convulsivas, por exemplo.”
“Foi um milagre ver Davi começar a se comunicar”
A mãe de Davi Campos, 10 anos, Sara Jane Barbosa de Campos, compartilha os avanços que a Equoterapia trouxe para seu filho, diagnosticado com a síndrome de Bartter, uma condição rara que afeta os rins e provoca desequilíbrios de eletrólitos. O tratamento visa controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. Para Davi, a equoterapia foi essencial no desenvolvimento físico e na melhora da comunicação e socialização.
“Quando Davi começou a equoterapia aos 3 anos, já visualizamos melhora nos primeiros sete meses de tratamento, ele já começou a fazer coisas que não conseguia antes, como sentar sozinho e levantar o pescoço. Para nós, isso foi algo milagroso.” Ela também observa como o tratamento ajudou Davi a se tornar mais comunicativo e melhorou sua interação social, mesmo sem andar.
“Davi se tornou mais comunicativo e alegre. Hoje, ele consegue dizer ‘mamãe’, ‘papai’, o que antes achávamos impossível.” Sara Jane ainda destaca a importância do apoio psicológico durante o processo.”A equoterapia não é só para a criança, mas também para a família. A psicóloga nos deu o apoio necessário para entendermos melhor o Davi e aprender a lidar com ele.”