AUDIÊNCIA

Jovem que teve corpo queimado por colega de escola diz que perdeu autoestima e pede justiça, em Goiânia

Família tem esperança que justiça seja feita

Goiânia: jovem que teve corpo queimado por colega de escola disse que perdeu autoestima e pede justiça
Goiânia: jovem que teve corpo queimado por colega de escola disse que perdeu autoestima e pede justiça

A estudante Marianna Cristina Gonçalves, de 18 anos, que teve 49% do corpo queimado por uma colega dentro de uma escola, afirmou, em audiência nesta quinta-feira (13), em Goiânia, que sofre com sequelas físicas e psicológicas resultantes do ataque e que perdeu a autoestima.

Emocionada, Marianna disse que seu corpo nunca mais foi o mesmo e que se sente desconfortável para viver e frequentar festas. A vítima conta que ficou 67 dias internada por conta das queimaduras e que não tinha nenhum relacionamento com a acusada, Islane Pereira, que está presa.

Na época do crime, em março de 2022, Islane relatou que Marianna teria feito bullying com ela por causa de um bronzeado. Em depoimento, a vítima alegou não ter praticado nenhuma ofensa ou bullying contra a acusada e pede justiça.

O magistrado Jesseir Coelho, o Ministério Público de Goiás (MPGO) e a defesa de Islene ouviram a versão de Marianna, do pai dela e de uma funcionária da escola onde ocorreu o crime. A pedido do MPGO e da defesa da acusada, a sessão vai continuar em outra data em razão da ausência de algumas testemunhas. Por isso, Islane não foi ouvida.

A defesa de Islane afirmou que a estudante tem problemas psicológicos e psiquiátricos comprovados por laudo pericial. Segundo o advogado Allan Hanhnemann, a jovem não tinha a intenção de matar a vítima e que sua ação foi uma reação emocional causada pelos transtornos do bullying que sofria (leia a nota da defesa na íntegra no fim da matéria).

O advogado pediu, antes do adiamento da sessão, que o juiz concedesse um relaxamento da prisão devido aos problemas de saúde que Islane teria. O magistrado informou que o MPGO tem cinco dias para analisar o pedido, para que ele decida se vai ou não atender o pedido.

Entenda o caso

No dia 31 de março de 2022, Marianna foi surpreendida por Islane enquanto esperava na fila da merenda do Colégio Estadual Setor Palmito, no Jardim Novo Mundo. Na época, a vítima tinha 17 anos e Islane, 20 anos.

Na fila, Islane chegou por trás, jogou álcool e ateou fogo na estudante. De acordo com Marianna, ela pensou que alguém tinha esbarrado nela, mas quando se deu conta, o fogo já tinha queimado seu rosto, cabelo, braços e pernas.

A Polícia Civil informou que depois do ataque, Islane andou calmamente até uma sala de aula, onde ficou esperando pelos policiais. Segundo a corporação, a acusada foi encontrada com duas facas e apresentava indiferença.

Recuperação

Na audiência, Marianna disse que ficou até fim de julho em casa para conseguir retomar atividades básicas, como ir à escola e trabalhar. Por causa da insegurança, a jovem desistiu do estudo presencial e terminou o ano letivo de forma virtual.

A mãe de Marianna contou que os médicos estimaram a recuperação total da pele da filha entre 3 e 4 anos. Marianna segue em tratamento e a família tem esperança que a justiça seja feita.

Nota na íntegra da defesa de Islane Pereira

O escritório Hahnemann, Moraes e Jorge – Advocacia Criminal, que realiza a Defesa Técnica de Islane Pereira Saraiva Xavier, registra que ela possui transtornos psicológicos e psiquiátricos comprovados por meio de Laudo Pericial confeccionado pela Junta Médica Oficial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (laudo feito em 16 de janeiro de 2023).

Referido Laudo Pericial Oficial diagnosticou Islane com Transtorno de Personalidade Borderline – tipo impulsivo – CID 10: F 60.3, além de concluir que ela tinha a capacidade diminuída de determinar-se “pela instabilidade emocional e impulsividade que marca sua personalidade”.

Para se compreender o crime ocorrido, deve-se observar que a acusada se trata de uma pessoa com transtornos psicológicos e psiquiátricos, e que, possuindo tais transtornos, sofria bullying na escola, contexto que culminou no fato apurado no processo criminal.

Destaque-se que Islane Xavier jamais quis “matar a vítima”, mas teve uma reação diante do bullying que vinha sofrendo (reação emocional causada pelos seus transtornos psicológicos e psiquiátricos).

Sobre a prisão de Islane, a Defesa Técnica entende por sua ilegalidade, porquanto a instrução probatória ainda não se findou por ausência de testemunhas arroladas pelo ministério público, o que viola direitos e princípios fundamentais da acusada. Diante desse fato é que, na audiência realizada na data de hoje, 13/07/2023, foi requerido o relaxamento da prisão, ou, ao menos, a sua substituição por prisão domiciliar, para que Islane possa realizar seu tratamento psicológico e psiquiátrico.