Juiz decide que filha do homem morto pelo ex-genro em farmácia de Goiânia não é obrigada a depor
Defesa de Felipe Gabriel Jardim queria que Kennia Yanka, ex-namorada de Felipe, fosse obrigada a depor
O juiz Antônio Fernandes de Oliveira decidiu na sexta-feira (17) que Kennia Yanka Leão, de 29 anos, não será obrigada a depor como testemunha no julgamento do homem que matou o pai dela em junho de 2022, dentro de uma farmácia no setor Bueno, em Goiânia. O pedido havia sido feito pela defesa do réu, Felipe Gabriel Jardim, ex-namorado de Kennia. O juiz entendeu que ela está resguardada pelo artigo 206 do Código de Processo Penal.
O artigo 206 do Código de Processo Penal diz: “a testemunha não poderá se eximir da obrigação de depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado”.
Ao Mais Goiás, Kennia Yanka comemorou a decisão: “fiquei mais tranquila, porque as perguntas que eu escutei no primeiro interrogatório feito por eles, no último júri, foram absurdas. Se eu fosse testemunha eu teria que respondê-las. E por ter ficado abalada daquela vez, eu sei que teria dificuldade para responder aquilo, eu iria entrar em desespero de novo”, disse ela.
“Se acontecer de eles fazerem perguntas do mesmo nível, agora eu sei que posso permanecer calada, o que vai me ajudar a me manter mais calma. Portanto, eu vi a decisão do juiz como sábia, fiquei contente”, complementa.
As perguntas às quais era se refere foram feitas no dia 15 de outubro de 2025, data da primeira tentativa de realização do júri de Felipe Gabriel Jardim. Kennia estava como “informante”, e não como “testemunha”. Ou seja: não tinha obrigação de responder. Ela foi questionada se sabia quais bens herdaria com a morte do pai; se era usuária de drogas; e se havia conhecido Felipe em um motel.
O assistente de acusação e advogado que representa os interesses da família da vítima, o policial aposentado João do Rosário Leão, protestou contra o teor e o tom agressivo dos questionamentos, que, na visão dele, tinham o interesse de destabilizar Kennia. Ele diz que essa tensão colaborou para que uma das juradas, uma mulher com cerca de 25 anos, passasse mal e precisasse ser hospitalizada – o que fez com que aquela sessão fosse cancelada.
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“Se não fosse a forma como os trabalhos foram conduzidos, o júri jamais teria tido o fim que teve no dia 15 de outubro, com uma jurada passando mal. O que a família do João quer não é favorecimento por parte de ninguém, é isenção na condução dos trabalhos”, afirma Emanuel.
Nova data do júri
Também nessa sexta, o juiz remarcou o tribunal do júri para o dia 19 de janeiro de 2026. “A família já está sabendo da remarcação do júri e recebeu a notícia com alegria. Além disso, eles esperam que as tentativas da defesa do réu de constranger Kennia Yanka, filha da vítima, como aconteceu no dia 15, sejam firmemente e peremptoriamente coibidas pelo magistrado condutor dos trabalhos. Que essa tática espúria não seja permitida no dia do julgamento e que o único responsável pela morte de João Leão seja julgado no dia 19 de janeiro”, afirma Emanuel Rodrigues, advogado que representa a família da vítima.
Kennia Yanka disse ao Mais Goiás que recebeu com alívio a notícia da remarcação do júri: “eu me sinto aliviada por já ter uma data, porque achei que a gente ia ficar angustiada esperando que ele marcasse uma data por um tempo, e depois ainda esperar para que a data chegasse. Mas acabou sendo rápido e agora é aguardar esses três meses para que chegue o dia”.
O crime
O crime aconteceu no mês de junho de 2022. De acordo com os autos, durante um sábado Felipe agiu de forma agressiva na frente a Kennia, então namorada dele, e do ex-sogro, João. A moça teria então decidido encerrar o relacionamento e os dois não se falaram no domingo. No início da semana, Kennia teria telefonado para Felipe apenas para tratar de uma dívida contraída no cartão de crédito dela, e o rapaz descobriu que João havia feito um boletim de ocorrência contra ele. Inconformado, ele teria prometido matar o ex-sogro, de 62 anos.
A promessa foi cumprida pouco depois. Felipe foi armado à farmácia da qual João era dono, no alto do setor Bueno, e disparado contra a cabeça dele. O idoso chegou a ser levado por socorristas para o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), mas aos médicos só coube a constatação do óbito.