Justiça em Goiânia confirma inocência de médica que foi alvo de operação marcada por espetáculo e exposição
Advogado da profissional de saúde, Darô Fernandes afirma que a operação foi marcada por espetáculo e exposição nas redes sociais; serão processados
O juiz Inácio Pereira de Siqueira arquivou, neste mês, o inquérito contra a médica Bianca Borges Butterby. Ela foi acusada de exercício ilegal da profissão e propaganda enganosa, em Goiânia, e chegou a ser presa em 20 de maio, mas foi liberada dias depois. O magistrado seguiu manifestação do Ministério Público de Goiás (MPGO), que apontou atipicidade da conduta e não ofereceu denúncia. Advogado da profissional de saúde, Darô Fernandes afirma que a operação foi marcada por espetáculo e exposição nas redes sociais.
“O delegado Humberto Teófilo expôs tanto ela como a empresa dela, falando que ela se apresentava como nutróloga e endócrina, mas nunca houve isso. Falou que ela aplicava Mounjaro, coisa que ela também nunca fez. Falou que ela fazia propaganda enganosa, que também não fez isso”, lembrou Darô sobre o caso. “Então, nós provamos por A mais B dentro do inquérito. E, mesmo assim, no inquérito, sem o laudo do IML, ela foi indiciada por propaganda enganosa e falsificação de medicamento. Sem o laudo.”
Quando o laudo saiu, foi verificado que isso não procedia, segundo o advogado. Darô, então, entrou com outro parecer defensivo e o Ministério Público acolheu a tese, pedindo o arquivamento do inquérito por atipicidade da conduta. “Ou seja, não houve nenhum crime, tudo que ela faz é regular.” Segundo o jurista, agora eles vão entrar com ações contra o Estado, contra alguns veículos de comunicação que injuriaram, difamaram e caluniaram a honra e imagem da médica e da empresa dela.
Nas redes sociais, Bianca diz que “hoje, esse documento [arquivamento] demonstra o fim de um pesadelo. Algo que pensei que nunca fosse vivenciar”. Ainda segundo ela, “começamos uma nova era de cabeça erguida, sabendo que a medicina que eu exerço é ciência com qualidade e todos os meus pacientes saem daqui, da clínica, satisfeitos”.
O portal tentou novo contato com a médica, mas não teve retorno.
A defesa da médica é composta pelas bancas de advogados Daroszewski Advocacia, que inclui Jaroslaw Daroszewski (Darô Fernandes), e Éboli Consultare, compostas por Henrique Éboli e Leonardo Éboli.
Rebateu todas as acusações
Após a prisão, Bianca conversou com o Mais Goiás acerca do caso e esclareceu ponto a ponto as acusações da Polícia Civil, como acerca de seu trabalho, da ausência de alvará e de uma suposta academia clandestina.
Sobre “exercício ilegal da profissão”, ela reforçou que nunca se intitulou nutróloga. Explicou, ainda, que para conseguir o registro de especialista na área de nutrologia (como nas demais) é possível por meio de residência médica ou pós-graduação, com tempo de experiência comprovada, para então fazer a prova de título. “No caso da nutrologia, as vagas são escassas: 15 no País, mas nenhuma em Goiás. Por isso, é tão comum a pós-graduação. Os editais são anuais e variam para a prova, mas, em média, é preciso 4 anos de comprovação clínica médica, além de 4 anos a 6 anos de experiência na nutrologia. Ou seja, é preciso atuar para fazer a prova e eu tenho 6 anos de atuação. Mas nunca disse ser nutróloga. Me apresento como médica”, detalhou.
Ela também apresentou os alvarás que a clínica possui (prefeitura, Vigilância Sanitária e bombeiros). “A clínica tem desde o ano passado e, no caso da Vigilância, foi renovado no começo deste ano.” Já acerca da “academia clandestina”, ela disse se tratar de uma sala no mesmo espaço, em frente à recepção, onde atuam fisioterapeutas e educadores físicos. Por ser do mesmo CNPJ, utiliza a mesma documentação e está regularizado.
Por fim, ela enfatizou que nunca fez contrabando de medicação, pois todos os remédios utilizados na clínica são comprados com nota fiscal de empresas idôneas, com alvarás exigidos pelas autoridades. “Tudo é 100% regularizado”, afirma e garante: “E o Mounjaro nunca entrou na clínica. A caneta é só em farmácia ou via importação, que nunca fiz.”
Caso
Bianca chegou a ser presa em flagrante em 20 de maio, mas liberada cinco dias depois. Conforme a denúncia, à época, ela prometia emagrecimento rápido aos seus seguidores. A corporação disse, ainda, que a médica também aplicava monjauro nos pacientes, prática não autorizada.
À época, ao Mais Goiás, a defesa negou as acusações e reforçou que “Bianca é médica regularmente formada pela UFG, inscrita no Cremego, com ampla qualificação técnica e científica. Possui pós-graduação lato sensu em Nutrologia pelo Hospital Israelita Albert Einstein, prática clínica pelo Giorelli Nutrologia, e certificações da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) em áreas como obesidade, síndrome metabólica e bariátrica”. E ainda: “A profissional atua legalmente em clínica devidamente regularizada, não havendo qualquer indício de prática ilícita ou irregularidade administrativa que justificasse a medida extrema adotada pelas autoridades.”
Conselho Regional de Medicina defendeu a médica
Por meio de nota, também à época da prisão, o Conselho Regional de Medicina (Cremego) afirmou que a profissional e a clínica estavam regularizadas e inscritas no conselho. “Até o momento, não temos qualquer comprovação de divulgação de especialidade médica não registrada no Conselho. Ainda que isso tivesse ocorrido, a apuração ética seria de competência exclusiva do Cremego e jamais justificaria a prisão da médica.”