Lula em Goiânia: estudantes apresentam demandas ao presidente; veja reivindicações
Jovens cobraram punição de golpistas e a taxação de grandes fortunas
Durante a cerimônia de abertura do 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizada na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia, estudantes apresentaram uma série de demandas ao presidente Lula. No documento entregue ao chefe do Executivo, eles destacaram a importância da educação pública e defenderam a ampliação de investimentos no setor, com críticas às restrições do arcabouço fiscal. Os jovens também cobraram a punição de golpistas, a taxação de grandes fortunas, a defesa da soberania nacional e repudiaram a atuação da extrema direita no país. Além disso, reivindicaram melhorias nas políticas de permanência estudantil, um plano emergencial para formação de professores e maior autonomia para as universidades públicas.
- Lula em Goiânia: Assista ao-vivo o discurso do presidente no congresso da UNE
Lula em Goiânia: estudantes apresentam demandas ao presidente; veja reivindicações
Bom dia, Presidente Lula!
Aqui estamos, no 60° Congresso da União Nacional dos Estudantes, e aqui estão reunidos estudantes dos 27 Estados, desse país de dimensões continentais, porque acreditamos no Brasil, na democracia e na educação. Antes de nós, estiveram aqui gerações que lutaram contra o nazifascismo, que construíram a campanha da Legalidade com Jango, lutaram por democracia em plena ditadura. Aqui estão jovens que ingressaram na universidade pelo Reuni, pelo Prouni e pelas cotas, uma luta dos estudantes ouvida durante seus primeiros governos. Aqui estão gerações que resistiram ao Bolsonarismo e construíram os Tsunamis da educação. É por todo esse legado de lutas, simbolizados por essa camisa azul com o mapa do nosso país, que dizemos que a UNE é uma grande prova de amor ao Brasil.
Presidente, nós acreditamos que estamos diante de um momento singular na história. Há uma nova escalada da ofensiva do Império sobre o nosso país, e são nesses momentos que o papel dos estudantes se agiganta. Queremos dizer que, diante das ameaças e chantagens do presidente dos Estados Unidos, nós erguemos alto nossa bandeira do anti-imperialismo e de defesa da nossa soberania.
Nós sabemos do potencial e do papel estratégico que o Brasil pode jogar no mundo. Uma nova ordem multipolar está nascendo. O BRICS coloca em questão a hegemonia global. Não é coincidência que o anúncio do tarifaço de Donald Trump tenha ocorrido após a cúpula dos BRICS realizada no Rio de Janeiro, que colocou no centro das suas deliberações a desdolarização da economia global. É esse Brasil, que tem um papel fundamental na solidariedade e integração latino-americana e do Sul Global, que hoje é alvo de Trump.
Temos em nosso país uma extrema-direita, lacaia, entreguista, violenta, anticiência, e que tramou um golpe de Estado contra a vontade do povo, e que agora precisa ser devidamente punida. Não podemos cometer o mesmo erro da Ditadura, que deixou impunes aqueles que cometeram crimes de Estado. Bolsonaro precisa sair dos bancos dos réus direto para a prisão e, junto com ele, todos aqueles que atentam contra o Estado Democrático e lesam nossa Pátria.
É preciso enfrentar essa extrema-direita no Brasil com uma agenda que coloque o rico no imposto de renda e o pobre no orçamento. Por isso, a taxação das grandes fortunas, a isenção de imposto de renda para os mais pobres, o fim da escala 6×1 que tanto nos tira a dignidade, são pautas urgentes para o povo brasileiro. Diante da pressão das elites e de parte do Congresso compromissado com os 1% mais ricos, conte com os estudantes e com o povo brasileiro para construir luta e maioria social em torno dessas bandeiras.
Nós da UNE, UBES, ANPG, junto com o MST, MTST, CUT, CTB e demais centrais sindicais, temos nos desafiado a construir o Plebiscito Popular, que é mais que uma consulta: é um instrumento de disputa de consciência do povo diante dessas pautas. Nas próximas semanas, as universidades, escolas, postos de saúde, portas de fábricas e comércios estarão com urnas populares para o povo dizer que quer que os ricos paguem impostos, que os pobres recebam isenção e que a jornada de trabalho tenha o mínimo de dignidade.
Presidente, nós, estudantes brasileiros, queremos esperançar. Com a vitória do projeto popular em 2022, inauguramos uma agenda de reconstrução da educação. Conquistamos a renovação da lei de cotas, a aprovação do PNAES como lei, o PAC para retomar as obras paradas nas universidades, o marco regulatório do EaD, a construção de novos Institutos Federais. Mas, depois de anos de desmonte e ataques à educação, precisamos de mais avanços. Não podemos conceber um projeto de país que coloque regras tão rígidas, como as do arcabouço fiscal, no orçamento da educação. Pelo contrário, é necessário avançar na autonomia universitária, garantindo um orçamento fixo para as universidades federais, para que essas instituições não fiquem na instabilidade e com o pires na mão diante das crises.
Avançar na regulamentação do PNAES, para que os estudantes tenham bolsa permanência e restaurante universitário. Criar o INSAES para colocar um fim no capital estrangeiro na educação, que quer lucrar com a mensalidade em detrimento da qualidade. Educação não é mercadoria para estar na bolsa de valores e os estudantes não são código de barras.
Precisamos também de um plano emergencial para licenciaturas. Corremos o risco de ter um apagão de professores na próxima década, e não há país de futuro sem professores. O Brasil tem formado cada vez menos engenheiros, é preciso um plano que conecte a educação com áreas estratégicas para o desenvolvimento nacional. São muitos os desafios da educação superior e nós elencamos todas as pautas em um projeto amplo de reforma universitária, aprovado no Conselho de Entidades de Base da UNE, que vamos lhe entregar.
A educação é um importante instrumento para que o nosso país se realize como nação soberana e desenvolvida. Ainda temos um longo caminho a percorrer para superar as nossas mazelas e desigualdades históricas. Não há como pensar em um Brasil do futuro com a educação, ciência, saúde e os direitos sociais dentro do arcabouço fiscal. Para vencer a extrema-direita das fake news, da concentração de renda e da destruição, precisamos retomar o papel do Estado, apontando amplos investimentos nessas áreas e travando a batalha ideológica com o povo.
Presidente Lula, os desafios são muito grandes. Nossos inimigos são poderosos e sem escrúpulos, colocam os lucros acima da vida. Mas já diria o poeta mineiro, Guimarães Rosa, que “o que a vida quer da gente é coragem”, e nós, presidente, somos o povo brasileiro. Um povo que não se dobra. Um povo que já travou tantas lutas e batalhas para ter o direito de escrever a nossa própria história.
Não somos um povo submisso, somos o povo da coragem e da solidariedade internacional. Da luta e da festa. Da alegria e da resistência. Do futebol e da revolução. É na luta e na rua que a gente se encontra para construir um país do tamanho dos nossos sonhos. E é com a diversidade de sotaques presente nesse plenário que vamos cantar bem alto: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor.”