Mãe de bebê que viveu em cercadinho no Hugol diz que era impedida de vê-lo
Mulher nega ter abandonado a criança
A dona de casa G.L.A.S., de 23 anos, mãe do bebê de 1 ano e 8 meses que deixou, nesta sexta-feira (5), a UTI cardiopediátrica do Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), em Goiânia, após ele viver mais de um ano em um cercadinho dentro da unidade, disse que os trabalhadores do local barravam a visita dela ao filho. Clinicamente estável, desde abril deste ano a criança está sem receber qualquer visita da família biológica. A alta teria ocorrido em maio. Ele foi alvo de uma medida protetiva do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO) e encaminhado a um abrigo. “Soube por reportagem que ele não estava mais lá.”
G.L.A.S. nega que tenha abandonado o filho e afirma que sente muita falta dele, e que tentou visitá-lo diversas vezes. “Todas as vezes, pegavam a gente na recepção e não deixavam subir [para ver o filho]”, disse, mas não explicou o motivo da proibição. “Tentamos resolver [a situação], mas não conseguimos. Agora arrumamos um advogado.” Além de buscar reaver a criança, ela afirma que também pretende processar o Hugol. A mulher vive em no interior, em Campestre de Goiás.
O Mais Goiás procurou o Hospital para comentar a fala da mãe da criança. A unidade enviou a seguinte nota:
“O Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) informa que o paciente P.A.S.R., de 1 ano e 8 meses, que estava internado na Unidade de Terapia Intensiva Cardiopediátrica, recebeu alta no dia 5 de setembro de 2025, em estado de saúde estável. O paciente encontrava-se consciente e respirando espontaneamente.
Durante todo o período de internação, a criança recebeu acompanhamento integral da equipe multiprofissional, seguindo rigorosamente os protocolos assistenciais da unidade, que asseguram cuidado, segurança e acolhimento aos pacientes.
Em relação às acusações feitas por familiares sobre a condução do caso, o hospital esclarece que a situação está sob responsabilidade das autoridades competentes e corre em segredo de justiça, por envolver menor de idade. Informamos ainda que todas as tentativas de contato e mediação realizadas pela unidade foram devidamente registradas e encaminhadas às autoridades responsáveis para a devida apuração.”
Abandonado
A situação de Pedrinho, nome fictício para preservar a identidade da criança, foi revelada pelo repórter Domingos Ketelbey, do Mais Goiás, e pela jornalista Ana Paula Belini. Durante meses, ele ocupou um leito de UTI não por necessidade médica, mas porque havia sido abandonado e aguardava definição judicial. Nesse período, cresceu sem contato com o mundo externo, privado de estímulos básicos ao desenvolvimento infantil, em meio à rotina intensa de uma unidade de terapia intensiva.
O menino foi internado ainda recém-nascido. Desde cedo, relatórios médicos e sociais apontavam fragilidade nos vínculos familiares. Com o tempo, os pais deixaram de visitá-lo e o caso passou a ser acompanhado pelo Conselho Tutelar e pela Vara da Infância e Juventude. A morosidade do processo, no entanto, manteve o impasse: não havia definição sobre adoção ou acolhimento institucional.
Somente no último dia 3 de setembro, a Justiça determinou o acolhimento provisório em abrigo, levando em conta as necessidades de saúde da criança. Os pais foram citados para prestar esclarecimentos, e o Conselho Tutelar foi designado para acompanhar o caso.
Despedida no hospital
Na manhã desta sexta-feira (5), equipes do Conselho Tutelar e de um abrigo estiveram no Hugol para retirar Pedrinho. Antes da saída, médicos, enfermeiros e técnicos organizaram uma despedida emocionante. Um cartaz com a mensagem “Que Deus te acompanhe. Nós te amamos!”, balões e até um pequeno bolo marcaram o momento em que a equipe se reuniu para celebrar a nova etapa da vida do menino.
Agora, Pedrinho terá a oportunidade de viver em um ambiente adequado, com estímulos sociais e cotidianos fundamentais para o desenvolvimento de qualquer criança. Para os profissionais do Hugol, fica a saudade e a esperança de que o futuro do menino seja mais leve do que os dias passados atrás das grades de um cercadinho.
*Nome fictício para preservar a identidade da criança.