Maternidade Nascer Cidadão interrompe serviços após impasse com anestesiologistas
Decisão foi tomada após anestesiologistas anunciarem interrupção dos serviços
A Maternidade Nascer Cidadão, em Goiânia, comunicou à Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), nesta quarta-feira (20) a suspensão de todos os atendimentos médicos. A decisão foi comunicada em ofício assinado pelo diretor técnico Harley Ricardo Rodrigues, que determinou o encerramento das atividades assistenciais já às 19h, citando o Código de Ética Médica e a necessidade de resguardar a segurança das gestantes.
O anúncio ocorreu após a Coopanest-GO, empresa responsável pelo serviço de anestesia, informar que interromperia completamente as atividades a partir desta quinta-feira (21), às 7h. Além da Fundahc, o documento foi encaminhado, ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), ao Ministério Público, ao Samu, à Polícia Civil e ao Corpo de Bombeiros.
Apesar da determinação, a Fundahc informou que a unidade segue em funcionamento para casos de urgência e emergência. O Mais Goiás apurou que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) promoveu uma espécie de “intervenção” no local para garantir a continuidade mínima dos atendimentos, ainda que de forma paliativa.
Em nota, a SMS afirmou ter enviado equipe à Nascer Cidadão para acompanhar a situação in loco e reorganizar os fluxos de atendimento.
Crise em andamento
O episódio marca mais um agravamento da crise na rede municipal de maternidades, que já havia registrado suspensão de partos e cesáreas no Hospital Célia Câmara em julho. O impasse se dá em meio à decisão da Prefeitura de Goiânia de encerrar, no fim de agosto, os convênios de gestão com a Fundahc e transferir a administração das três unidades para organizações sociais (OSs) contratadas emergencialmente.
No final de julho, a SMS notificou a Fundahc e instituiu uma comissão de transição. A medida teve como base relatório técnico da superintendência de Regulação da secretaria, que apontou falhas administrativas, descumprimento de metas e uso irregular do fundo rescisório entre 2020 e 2024. A avaliação sustentou o discurso do Paço de que a mudança era inevitável para “evitar o colapso” do sistema.
Reação da UFG
A Universidade Federal de Goiás (UFG), vinculada à fundação, reagiu duramente e acusou a Prefeitura de criar uma narrativa falsa para justificar a ruptura. Em nota, afirmou que não houve descumprimento contratual e que todos os repasses foram aplicados integralmente nas maternidades. A universidade destacou ainda que presta contas regularmente e que as ameaças de paralisação representavam alertas sobre a insuficiência de recursos diante da falta de repasses da SMS.
A Fundahc cobra uma dívida de R$ 158,5 milhões acumulada desde 2018, sobretudo na gestão do ex-prefeito Rogério Cruz. O prefeito Sandro Mabel (União Brasil) contesta o valor e diz que só irá arcar com débitos da atual administração. Segundo ele, o repasse mensal foi reduzido de R$ 20 milhões para R$ 12 milhões, pagos de forma regular.
“Acabou o tempo das vacas gordas. Não posso gastar R$ 8 milhões a mais por mês sem ver melhoria nos serviços”, afirmou Mabel, acrescentando que a UFG não teria expertise para administrar maternidades.
A Prefeitura já empenhou R$ 38 milhões para contratos emergenciais de três meses com três OSs. O Instituto Patris assumirá o Hospital Dona Iris, a Sociedade Beneficente São José ficará à frente do Célia Câmara, e a Associação Hospital Beneficente do Brasil será responsável pela Nascer Cidadão. O custo mensal estimado com as unidades será de R$ 12,6 milhões.