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Megaoperação identificou o envolvimento de 9 postos e 3 usinas no esquema em Goiás

"Essas redes atuam de forma cooperada com redes já identificadas de lavagem de dinheiro para o PCC"

Megaoperação identificou o envolvimento de 9 postos e 3 usinas no esquema em Goiás
Megaoperação identificou o envolvimento de 9 postos e 3 usinas no esquema em Goiás (Foto: Pixabay)

A megaoperação Carbono Oculto, deflagrada na quinta-feira (28) pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP), com apoio do órgão local (MPGO), identificou o envolvimento de nove postos no esquema em Goiás. A ação cumpriu 200 ordens de busca, apreensão e prisão contra 350 alvos ligados a um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis (por meio de adulteração), controlado pelo PCC, em oito estados brasileiros, entre eles o território goiano.

“Apuramos que, em relação ao grupo investigado, eles possuem, pelo menos, duas redes de combustíveis no Estado de São Paulo – uma rede muito ampla – e outra em Goiás. E essas redes atuam de forma cooperada com redes já identificadas de lavagem de dinheiro para o PCC”, disse o promotor de Justiça do MPSP, João Paulo.

Reportagem da TV Anhanguera ainda revelou a existência de três usinas que estaria envolvidas no esquema: uma fica em Inhumas, outra em Porteirão e há mais uma que deveria funcionar na capital, na Avenida 136, no setor Sul. Contudo, no prédio da capital está uma sala comercial de escritório compartilhado. A informação é da TV Anhanguera.

Conforme as investigações, importadoras traziam Nafta e diesel do exterior com recursos de empresas ligadas aos criminosos. As distribuidoras, então, revendiam com fraudes e sonegavam impostos, além de adulterar os combustíveis com metanol para potencializar os lucros.

Foi apurado, ainda, que os mais de mil postos envolvidos recebiam pagamentos em espécie e máquinas de cartão, e registravam como valores legais. A movimentação estimada, entre 2020 e 2024, foi de R$ 52 bilhões, com baixa arrecadação de impostos. Apenas uma Fintech ligada ao grupo movimentou R$ 46 milhões nos quatro anos.

Ainda sobre a lavagem de dinheiro, os suspeitos investiam em fundos e bens, como caminhões, usinas, bem como imóveis e fazendas, e mais. Durante a megaoperação, a investigação também solicitou bloqueio de R$ 7,6 bilhões na tentativa de recuperar R$ 7,6 bilhões em tributos estaduais. Mais de mil postos participavam da lavagem de dinheiro, conforme a Receita Federal, Ministério Público e Polícia Militar.

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Adulteração de combustíveis

De acordo com as investigações, o alvo principal é a importação irregular de metanol, produto usado na adulteração de combustíveis. O material chegava ao Brasil pelo Porto de Paranaguá (PR), mas não era entregue aos destinatários registrados nas notas fiscais. Em vez disso, era desviado e transportado clandestinamente, com documentação falsificada e sem as mínimas condições de segurança, colocando em risco motoristas, pedestres e o meio ambiente.

Esse metanol era encaminhado para postos e distribuidoras controlados pela organização criminosa, onde servia para adulterar gasolina e etanol, aumentando de forma ilícita a margem de lucro. Os investigadores já identificaram mais de 300 postos de combustíveis em diferentes regiões do país que atuavam nessas fraudes.

A operação envolve cerca de 1.400 agentes públicos e além do Estado acontece em São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A ação é coordenada por órgãos como o Ministério Público de São Paulo (Gaeco), Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal e as polícias Civil e Militar de São Paulo.

Esquema do PCC

O esquema utilizava importadoras de fachada que compravam no exterior nafta, hidrocarbonetos e diesel. O financiamento dessas compras era feito por formuladoras e distribuidoras também ligadas ao grupo criminoso. Entre 2020 e 2024, os investigados teriam importado mais de R$ 10 bilhões em combustíveis de forma ilegal.

Na etapa seguinte, as empresas adulteravam os produtos e deixavam de pagar tributos nas vendas, repetindo o processo em larga escala. Isso permitia ao grupo abastecer postos a preços mais baixos, desequilibrando a concorrência e ampliando seus ganhos.

Lavagem de dinheiro com Fintechs

Outro ponto levantado pela investigação foi o uso de fintechs, empresas de tecnologia financeira que oferecem serviços como transferências e pagamentos digitais. Diferente dos bancos tradicionais, essas plataformas funcionam de maneira mais ágil e com menos burocracia.

No esquema, fintechs criadas ou controladas por laranjas movimentavam grandes quantias por meio de contabilidade paralela, permitindo transferências sem a identificação dos beneficiários finais. Isso dificultava o rastreamento do dinheiro e ajudava a lavar os lucros ilícitos.

Bloqueio de bens e prejuízo fiscal

Para tentar recuperar parte do dinheiro que foi sonegado, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) entrou na Justiça para bloquear bens dos investigados. Entre os bens estão imóveis, empresas e carros de luxo, totalizando mais de R$ 1 bilhão.

Além disso, a Receita Federal já identificou que R$ 8,67 bilhões em impostos federais deixaram de ser pagos por pessoas e empresas envolvidas no esquema. Esse valor corresponde a tributos que deveriam ter sido recolhidos em importação, produção e venda de combustíveis adulterados.

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