Membros da Orquestra Sinfônica de Goiânia questionam uso dos músicos em evento privado
Em tempos de protestos por melhores condições, integrantes reclamam sobre uso da Orquestra em evento que valor mínimo do ingresso é R$ 500
Membros da Orquestra Sinfônica de Goiânia (OSG) questionaram o uso dos integrantes em evento privado promovido por um shopping da capital nesta terça-feira (31). Eles alegam que não há contrapartida em uma apresentação que o valor dos ingressos pode chegar a R$ 1,2 mil. Também relembram que desde 2011 estão sem reajustes em seus salários e têm reivindicado a reestruturação do plano de carreira como o Mais Goiás já havia mostrado.
“Temos o pior salário do Brasil. Os músicos instrumentistas ganham R$ 2,5 mil e os coristas R$ 1,6 mil”, salientou. “Chega a ser uma afronta sermos obrigados a tocar em um evento desses. A Orquestra está sendo explorada, sem nenhuma contrapartida e sem nenhum interesse de fato público já que o evento é particular, com cobrança de ingressos a partir de 800”, destacou um membro
De acordo com um integrante da Comissão dos Músicos e Coristas da Orquestra o medo de perseguição afasta qualquer protesto contra os eventos. “Pode acontecer represálias. Somos comissionados e não sabemos ao certo o que pode acontecer. Já aconteceu de Orquestras inteiras desaparecerem após atos de repúdio”, destaca.
Com o evento já realizado, ele diz que há um movimento para levar algumas denúncias de uso político junto ao Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO) “Pensamos ir até o Ministério Público para denunciar. Temos estudado por meio da Comissão. Queremos que vejam a nossa realidade.”, salienta.
“A sala de ensaios da OSGO é insalubre, com mofos, buracos no teto, carpetes sem higienização, piso sucateado, ar condicionado da década de 1930 que nunca funcionou corretamente. Faltam cargos específicos, material de trabalho desde toner, papel para impressão de partituras, até papel higiênico e copo descartável a Secult deixa faltar”, dispara o membro.
A apresentação num grande shopping da capital os deixou desconfortáveis. “Muitos enfrentam inúmeras dificuldades financeiras. A exploração é grande mais já que não há interesse ao grande público num evento que é particular com o ingresso mais barato custando no mínimo R$ 500”, destaca.
Para assistir a apresentação da Orquestra Sinfônica de Goiânia que se apresentou junto com o maestro João Carlos Martins e Gabriel Sater no violão, era necessário gastar no mínimo R$ 500 em compras no shopping para trocar por um ingresso no setor azul. Há outros dois setores: o verde com R$ 800 e o vermelho com R$ 1,2 mil em compras nos estabelecimentos.
A Secretaria Municipal de Cultura vem prometendo apresentar um novo plano de carreira aos músicos como já foi mostrado pelo Mais Goiás. “O problema é que essa promessa existe desde 2020 e nada foi feito até então. A realidade da Orquestra é muito desgastante e nós estamos cansados diante de tanta espera”, salienta.
Procurados, a Secult afirma que a participação da orquestra no evento é voluntária “independente da cobrança do shopping por cliente”, pontua. “A Orquestra Sinfônica de Goiânia é pública, portanto não cobra e nem recebe por nenhum tipo de evento seja ele público, particular ou participação por meio de convite”.
O shopping destacou que o evento buscava apoiar a “cultura e as várias expressões da arte”. “A escolha da data não foi uma coincidência, sendo essa uma forma de também celebrar os 90 anos da Capital. O convite e aceite seguiram todos os trâmites legais”, destacou ao Mais Goiás por meio de nota.