PROJETO PEDAGÓGICO

Minifazenda em escola de Campinorte promove inclusão e transforma rotina de alunos especiais

"Identificamos a necessidade de um espaço estruturado, com contato com a natureza e estímulos sensoriais organizados, que ajudasse esses alunos a se regularem para então aprenderem melhor", diz coordenadora da proposta

Minifazenda em escola de Campinorte promove inclusão e transforma rotina de alunos especiais
Minifazenda em escola de Campinorte promove inclusão e transforma rotina de alunos especiais (Foto: Divulgação)

O Centro de Ensino em Período Integral (Cepi) Deoclides, em Campinorte, transformou o ambiente escolar ao criar a “Mini Fazenda Vila Verde”. Trata-se de um projeto pedagógico para estudantes da educação especial, que utiliza a convivência com animais, como cabras, coelhos, pássaros e peixes, e o manejo de uma horta medicinal para ensinar disciplinas de forma prática. A proposta é de março deste ano.

Criadora e coordenadora do projeto, a professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) Thaís Guimarães Araújo afirma que o projeto começou a partir da reorganização das práticas do AEE na escola de tempo integral, considerando as necessidades específicas dos estudantes atendidos. Hoje, segundo ela, “são contemplados 14 estudantes público da educação especial de forma diária e contínua e 210 estudantes do nosso colégio que também usufruem desse espaço de forma interdisciplinar. Então, o espaço abrange toda comunidade escolar”.

São atendidos estudantes com transtorno do espectro autista, com paralisia (incluindo paralisia cerebral), além de alunos com deficiência auditiva, deficiência visual e deficiência física. Para viabilizar o projeto, ela contou com a ajuda das professoras Fabia Abadia e Marielle Vieira, que também atuam no Cepi. Thaís revela que a ideia surgiu da observação diária.

“Por ser uma escola de tempo integral, percebemos que muitos estudantes apresentavam crises frequentes, alto tempo de exposição às telas e dificuldades de autorregulação. Identificamos a necessidade de um espaço estruturado, com contato com a natureza e estímulos sensoriais organizados, que ajudasse esses alunos a se regularem para então aprenderem melhor”, esclareceu. Segundo ela, o objetivo é oferecer um espaço pedagógico de vivências que favoreçam a autorregulação sensorial e emocional, reduzindo crises e criando condições para uma aprendizagem mais eficaz, significativa e inclusiva.

Questionada sobre os resultados, ela afirma que já foram observadas redução de crises, melhora no comportamento, maior tranquilidade, avanços na comunicação, no desenvolvimento cognitivo e motor, além de maior engajamento nas atividades pedagógicas. “Os estudantes demonstram, de forma muito clara, que se sentem mais pertencentes, mais valorizados e mais úteis dentro da escola. Muitos passaram a se reconhecer como parte importante daquele espaço. Hoje, eles são procurados pelos colegas, são chamados para brincar, para ajudar no cuidado com os animais e para explicar como funciona a fazenda — algo que antes não acontecia.”

Para ela, trata-se de um movimento muito significativo, porque antes existia uma barreira de interação. Ela cita que os estudantes da educação especial ficavam mais isolados, com poucas trocas sociais. Com a minifazenda, a barreira foi quebrada, e o projeto criou um ponto de encontro, de interesse comum, onde esses alunos passaram a ser vistos, escutados e reconhecidos pelos outros.

“Do ponto de vista do desenvolvimento, observamos maior interação social, avanços na comunicação, aumento da autonomia e melhora no comportamento. Eles se mostram mais tranquilos, confiantes e engajados. Sentem orgulho do espaço, cuidam dele e se sentem responsáveis por algo que é valorizado por toda a comunidade escolar”, celebra.

Mini Fazenda 2
Alunos têm contato com animais e horta (Fotos: Divulgação)

O espaço permite que atividades como a contagem de ovos se tornem aulas de matemática e o cultivo de ervas ensine ciências, enquanto os alunos desenvolvem autonomia. O ambiente foi projetado com estruturas específicas, como passarelas e painéis sensoriais, essenciais para o desenvolvimento de alunos autistas.

Também há um pequeno lago no local com carpas. Os alunos participam ativamente da alimentação dos animais, bem como da higiene e cuidados diários, o que contribui para a responsabilidade, autonomia e vínculo.

Do lar, Heidianne Lemes Coelho Monteiro dos Santos é mãe de um aluno especial de 17 anos. Ela afirma que o filho é apaixonado pelos animais, então ficou muito empolgado com a fazendinha. Com isso, “ficou mais animado para ir para o colégio. Ele gosta muito de cuidar dos animais, tem até um porquinho da índia que ele ama.”

Ela vê o local como incentivo para os estudos e presença na escola. Além disso, reforça que faz muito bem ao filho. “Gostei muito, achei maravilhoso, porque fez muito bem para ele esse contato com bichos, com a fazendinha em geral, porque ele gostou muito de ter ajudado na montagem.”

Teatro pedagógico, caminho sensorial e minimercado

O local também possui um miniteatro pedagógico, pensado na mesma época e concluído no fim de novembro. Segundo Thaís, as peças utilizam figurinos confeccionados pelos próprios estudantes e instrumentos musicais. “Nesse espaço, realizamos ensaios e apresentações de peças e músicas, trabalhando o desenvolvimento motor, corporal, expressivo e comunicativo dos alunos.”

Conforme a docente, há um caminho sensorial com diversas texturas, onde estudantes caminham descalços ou com orientação para explorar sensações táteis. Isso contribui para a percepção corporal, autorregulação sensorial e equilíbrio

Há, também, um painel sensorial para estimular os sentidos por meio de cores, formas, sons e materiais variados. Outro destaque é o minimercado para desenvolvimento de trabalhos interdisciplinares. “Nesse espaço, os estudantes desenvolvem noções de sistema monetário, quantidades, precificação e matemática, além de conteúdos de língua portuguesa e língua inglesa, por meio da identificação de nomes de frutas, alimentos e objetos, ampliando o vocabulário e a funcionalidade da aprendizagem.”

A auxiliar administrativa Wesilene Antunes Ferreira também tem um filho especial de 18 anos na unidade. Ela vê todo o local como um ambiente favorável e aconchegante para o desenvolvimento, independente de ser especial ou não. “Muito acolhedor e transformador.”

“Trata-se de uma equipe preparada e acolhedora, a fim de buscar o melhor para os nossos filhos que, por muitas vezes, são vistos como diferentes pela sociedade.” Ela ainda elogia os espaços por promoverem um “desenvolvimento amplo para estimular habilidades cognitivas e motoras, além de promover momentos de socialização. Um espaço bem estruturado convida à exploração, oferecendo desafios compatíveis”.

A criação foi possível por meio de doações da comunidade local para a construção da parte estrutural. Já os espaços, como horta, caminho sensorial e teatro, foram feitos pelos professores e estudantes.

Miniteatro com peças e figurinos produzidos pelos alunos (Foto: Divulgação)

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