ALTO DA BOA VISTA

Moradores de ocupação querem criar comitê para buscar solução definitiva

A comissão de moradores da Ocupação Alto da Boa Vista, em Aparecida de Goiânia, realiza…

Moradores de ocupação querem criar comitê para buscar solução definitiva
Moradores de ocupação querem criar comitê para buscar solução definitiva

A comissão de moradores da Ocupação Alto da Boa Vista, em Aparecida de Goiânia, realiza uma reunião, às 18h, neste domingo (23), para debater a atual situação das famílias e decidir sobre a formação de comitê para negociar soluções definitivas para os ocupantes. Na ocasião, representantes de setores da sociedade civil aparecidense e do Coletivo de Advogadas e Advogados Luiz Gama (CAP Luiz Gama) devem participar.

Vilmar Almeida, advogado das famílias e membro do CAP Luiz Gama, afirma que os moradores da ocupação temem o despejo e a reintegração de posse da terra, apesar da crise pandêmica do novo coronavírus. No começo do ano, a juíza Vanessa Estrela deu uma decisão interlocutória pela retirada das famílias.

A expectativa desta reunião, que ele garante não haver aglomeração, é demonstrar a questão de saúde pública e de moradia. O comitê, então, deverá contribuir para que o município e o Judiciário reconheçam a vulnerabilidade das famílias. “É necessário ter a noção que situações atípicas carecem de soluções atípicas”, declara.

Medo

O advogado explica que, apesar da decisão ser liminar e o processo ainda tramitar na Vara de Fazenda Pública, a determinação pode ser cumprida com base nas condições impostas – relatório da Defesa Civil e acomodação de membros da ocupação em um galpão. Contudo, apesar da ida da Defesa Civil ao local, Vilmar não considera as condições cumpridas.

“Para nós não foi cumprido, pois consideramos o relatório mais subjetivo que técnico. Não funciona para as famílias serem realocadas.” De acordo com ele, ainda é necessário um levantamento detalhado dos ocupantes, a fim de saber quem será afetado.

(Foto: CAP Luiz Gama)

Situação

Em janeiro deste ano, a juíza Vanessa Estrela confirmou uma decisão de meados do ano passado e entendeu pelo despejo dos moradores (atualmente o Cap Luiz Gama realiza a contagem de famílias), o que não tinha data, pois dependia de relatório da defesa civil, realizado em março deste ano.

No mesmo mês, porém, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma recomendação ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para suspender todas as reintegrações de posse coletiva. No documento, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFCD) fala em “providências para recomendação que indique medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo coronavírus – Covid-19 – por meio da suspensão do cumprimento de mandados de reintegração de posse coletivos em áreas urbanas e rurais”.

Segundo o texto, datado de 17 de março, o cumprimento de mandados de reintegrações impõe riscos de propagação do vírus, visto que “geralmente atingem populações vulneráveis, que vivem em locais caracterizados por adensamento excessivo e coabitação, com grandes dificuldades de encontrar outra moradia. Uma eventual remoção tornaria ainda mais difícil o isolamento dessa população em caso de infecção”.

O documento é assinado pela procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat; pelo procurador da República e coordenador do Grupo de Trabalho Reforma Agrária/PFDC, Júlio José Araújo Júnior; e pelo procurador da República e coordenador do Grupo de Trabalho Direito à Cidade e à Moradia Adequada/PFDC, Paulo Sérgio Ferreira Filho. Contudo, não há solução neste sentido e as reintegrações continuam a ocorrer pelo País.

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