Mulheres vivem quase 7 anos a mais do que os homens; médico fala em negligência com a saúde
“Quando o jovem não é introduzido à rotina preventiva, ele se torna um adulto que só procura atendimento diante de sintomas avançados"
A expectativa de vida das mulheres é quase sete anos a mais do que a dos homens, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Consta no relatório que eles chegam, em média, aos 73,3 anos, enquanto elas alcançam 79,9 anos – uma diferença de 6,6 anos. Os dados são de 2024 e foram publicados no fim de novembro. E, conforme especialistas, a diferença não é biológica, mas devido à negligência com a própria saúde que começa ainda na adolescência.
O médico Pedro Junqueira cita um levantamento do Ministério da Saúde ao revelar que, entre 12 e 18 anos, meninas realizam consultas ginecológicas 18 vezes mais do que meninos procuram um urologista. “Quando o jovem não é introduzido à rotina preventiva, ele se torna um adulto que só procura atendimento diante de sintomas avançados. Isso elimina a chance de diagnóstico precoce e agrava doenças que poderiam ser evitadas”, afirma o profissional.
Dados da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) confirmam esse padrão. Entre os homens acima de 40 anos, 46% só buscam atendimento quando já apresentam sintomas. Entre aqueles que dependem exclusivamente do SUS, o índice sobe para 58%. Mesmo assim, apenas 32% se dizem muito preocupados com a própria saúde, embora metade relate medo ao imaginar a possibilidade de adoecer.
Inclusive, também conforme a SBU, o câncer de próstata é o maior temor entre os homens, mencionado por 58% dos entrevistados. Em seguida, aparece a impotência sexual, com 37%. Especialistas alertam que essa visão limitada concentra a atenção em apenas um risco e deixa de lado outras doenças graves que avançam silenciosamente, como as cardiovasculares, pulmonares e gastrointestinais, todas fortemente associadas ao sedentarismo, ao tabagismo e ao consumo excessivo de álcool.
Junqueira, que é urologista e cirurgião robótico, afirma que “romper o tabu da prevenção não é importante apenas para salvar vidas. É uma estratégia essencial para reduzir a sobrecarga do SUS, porque doenças descobertas tardiamente exigem tratamentos mais longos, complexos e caros. Prevenir é também uma forma de proteger o sistema público de gastos elevados e evitar internações que poderiam ser evitadas”.
Para o médico, é prreciso uma cultura de prevenção que esteja presente na escola, na família e no atendimento primário. “Quando aproximamos meninos e homens dos serviços de saúde, criamos a base para reduzir mortes evitáveis e aliviar o sistema público no futuro”, afirma. Ele diz, ainda, que iniciativas como campanhas permanentes, estratégias específicas para atrair o público masculino às unidades de atendimento e incentivos à realização regular de exames podem ajudar a mudar o cenário nas próximas décadas.
Expectativa de vida
Em relação a 2023, a expectativa de vida teve uma pequena melhora entre os brasileiros. Homens subiram de 73,1 para 73,3, enquanto elas aumentaram de 79,7 para 79,9 em 2024. Um salto maior, contudo, ocorreu em relação a 2022. Naquele ano, a expectativa média masculina era de 72,1 (um ano a menos que em 2023) e a feminina, 78,8.
| Ano | Expectativa de vida ao nascer (anos) | Diferencial entre os sexos (anos) | ||
|---|---|---|---|---|
| Total | Homem | Mulher | ||
| 1940 | 45,5 | 42,9 | 48,3 | 5,4 |
| 1950 | 48,0 | 45,3 | 50,8 | 5,5 |
| 1960 | 52,5 | 49,7 | 55,5 | 5,8 |
| 1970 | 57,6 | 54,6 | 60,8 | 6,2 |
| 1980 | 62,5 | 59,6 | 65,7 | 6,1 |
| 1991 | 66,9 | 63,2 | 70,9 | 7,7 |
| 2000 | 71,1 | 67,3 | 75,1 | 7,8 |
| 2010 | 74,4 | 70,7 | 78,1 | 7,4 |
| 2019 | 76,2 | 72,8 | 79,6 | 6,8 |
| 2020 | 74,8 | 71,2 | 78,5 | 7,3 |
| 2021 | 72,8 | 69,3 | 76,4 | 7,1 |
| 2022 | 75,4 | 72,1 | 78,8 | 6,7 |
| 2023 | 76,4 | 73,1 | 79,7 | 6,6 |
| 2024 | 76,6 | 73,3 | 79,9 | 6,6 |
| Variação (1940/2024) | 31,1 | 30,4 | 31,6 |