INDIGNADA

‘Não parece real, parece filme’, diz filha de idosa que denunciou abuso no Hugol

"Fiquei sabendo após uma assistente social me ligar, no domingo, e pedir para eu comparecer ao hospital. No local estavam dois policiais e me informaram da violência"

'Não parece real, parece filme', diz filha de idosa que denunciou abuso no Hugol
'Não parece real, parece filme', diz filha de idosa que denunciou abuso no Hugol (Foto: Hugol)

A filha da idosa de 74 anos internada no Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), em Goiânia, que denunciou ter sido vítima de abuso sexual por um médico durante a madrugada de domingo (14), afirma que a situação não parece real. “Parece que estamos vivendo em um filme, porque não tem lógica deixar uma pessoa de idade em um hospital e receber uma notícia dessas. É a notícia menos esperada”, disse ao Mais Goiás. “Estamos indignados. O mínimo que um hospital pode fazer é cuidar de um paciente.”

Ela não soube dizer quem deu o nome do médico no boletim de ocorrência. “Cabe ao hospital e à polícia descobrir quem foi que fez isso.” O homem não chegou a ser conduzido à delegacia. Nesta tarde, outros policiais estiveram no quarto para conversar novamente com a vítima.

A filha revela que o próprio hospital registrou o boletim com o nome do médico que teria cometido o suposto crime. “Eu fiquei sabendo após uma assistente social me ligar, no domingo, e pedir para eu comparecer ao hospital. No local estavam dois policiais e me informaram da violência. Disseram que uma testemunha, um paciente que estava ao lado, tinha visto e pedido socorro. Quando chegou, o boletim de ocorrência estava pronto.”

Ela, então, foi orientada a procurar a Central de Flagrantes e também a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) para o registro de um novo boletim, o que ela fez. Nesta tarde, ela também se reuniu com a direção do hospital, que se colocou à disposição para ajudar no que for preciso, sobretudo nas investigações. “Relatei, inclusive, que minha preocupação é darem alta para minha mãe antes que ela esteja totalmente bem, mas me garantiram que vão dar total apoio.”

“Mas estou exausta. Quando não estou com minha mãe, que tem sentido muito a minha falta, estou correndo atrás dessa situação, indo à delegacia. É um enorme transtorno. Minha mãe está muito abalada, mas a parte de saúde parece bem, pois está tomando muitos medicamentos. Devido a um problema respiratório, ela não pode falar muito. Está sendo cuidada nessa parte.”

Questionada sobre o que espera, ela afirma “Justiça”. “Nós estamos buscando e queremos Justiça. Até porque, esse indivíduo, que o hospital identificou no boletim de ocorrência, continua trabalhando lá. Eu não posso afirmar se foi ou se deixou de ser essa pessoal, mas que precisa ser investigado, pois o que aconteceu com a minha mãe, não pode acontecer com outra pessoa. Então, precisamos que investigue para que seja feita Justiça.”

Detalhes do caso

Mais cedo, segundo o relato da filha ao Mais Goiás, a idosa estava com mobilidade reduzida e sob efeito de medicação quando um médico foi chamado para auxiliá-la. O crime teria ocorrido enquanto ela permanecia em uma sala de reanimação, aguardando vaga em uma semi UTI, sem acompanhante. De acordo com a família, o abuso foi presenciado por um paciente internado no leito ao lado, que se recuperava de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Segundo o relato da vítima, durante o atendimento, o médico se aproximou de forma inadequada e iniciou toques nas partes íntimas dela sem consentimento. O profissional permaneceu no leito entre 02h59 e 03h17. A paciente afirmou que permaneceu deitada, sem condições de se defender enquanto era abusada. Ela pedia para que o suspeito parasse, mas não foi atendida.

Os fatos foram presenciados por um paciente internado no leito ao lado, em recuperação de um derrame. Por estar anestesiado e em condição clínica delicada, ele não conseguiu reagir fisicamente no momento do ocorrido e só procurou a assistência social do hospital na manhã seguinte, quando conseguiu se locomover. “Ele percebeu que algo estava errado e pediu ajuda, mas não tinha condições de intervir”, relatou a filha da paciente.

Após a denúncia, equipes policiais foram acionadas e se deslocaram até a unidade hospitalar, onde a paciente voltou a relatar que foi abusada enquanto permanecia deitada no leito. A idosa enfrenta problemas respiratórios crônicos, faz uso contínuo de oxigênio e havia retornado recentemente ao hospital após sofrer uma queda em casa, já que, mesmo tendo recebido alta dias antes, apresentou agravamento do quadro.

Segundo o relato, o médico chegou a ser visto sentado ao lado de outros profissionais, ainda com vestimentas hospitalares, em frente ao balcão de atendimento do plantão, a menos de quatro metros da vítima, e não foi mais visto no local cerca de oito minutos antes da chegada da Polícia Militar. A paciente segue internada, acompanhada por familiares, enquanto o caso é apurado pela Polícia Civil.

Em nota, o Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) informou que, ao tomar conhecimento de uma denúncia envolvendo possível conduta inadequada no ambiente hospitalar, adotou todas as providências previstas em seus protocolos internos.

“A unidade acionou as autoridades competentes, com registro de boletim de ocorrência, realizou o acolhimento da paciente e de seus familiares e, de forma preventiva, determinou o afastamento do profissional citado até que todos os fatos sejam devidamente esclarecidos. Até o momento, conforme as apurações iniciais, não é possível afirmar com precisão as circunstâncias do ocorrido. O Hugol reforça que repudia qualquer forma de violação de direitos, atua com responsabilidade e transparência, e permanece à disposição das autoridades para prestar todos os esclarecimentos necessários.”, diz o texto.